29 Mar
29Mar

Seja de estar, de jantar, de esperar... sempre sala. Sempre aconchegante, nem sempre confortável. Sempre bem iluminada, nem sempre favorável. Sempre presente nas plantas, nem sempre executável. Hoje me peguei observando os ambientes das salas de espera. Algumas delas em consultórios médicos, outros em consultórios terapêuticos, alguns em delegacias, outros em hospitais. Coisa corrosiva é a espera. Sobretudo quando não se sabe o que esperar.

Mas, e quando se sabe? Naqueles momentos que já esperamos o que sabemos, é a espera menos dolorida, menos maliciosa, menos... espera? Qual é a adrenalina de se esperar pelo o que já se sabe que irá chegar. Uma sala de espera se um aeroporto, por exemplo, esperar alguém que já se sabe que irá chegar, já sabemos o que esperar, então, porque a espera? Ao contrário, uma sala de espera de um hospital, não sabemos a notícia que iremos receber, aí a espera é misturada com aqueles pressentimentos de que tudo dará certo, misturado às fatalidades baseados num dado concreto de que a ciência já condenou aquela vida e aquele corpo. A espera, nesse último caso, é uma espera fatídica e sem esperança.

O que podemos encontrar numa sala de espera é algo que não podemos controlar e nem, muito menos fugir. Mesmo que saiamos pela porta correndo daquilo que não quer e nem nunca desejou encontrar. Mesmo na fuga, o dado concreto pelo o que se esperou nos atingirá. Todos nós tivemos como primeiro habitat natural uma sala de espera. Uma espera viva e produtiva, uma espera de qualidades e movimentos expressivos e cheios de carinho e de luz.

Essa sala de espera é determinante e essencial para os cômodos que nos aguardam lá fora. No mundo. Na cidade. No restante da casa e com os que nela irão habitar conosco. A qualidade de nossa casa dependerá muito dessa sala de espera e do quão rico e vivo foi a nossa estadia nela, numa constante espera. Numa espera aguardada, planejada, espera que alguém sonhou, espera que foi projetada com muito carinho e pensada até mesmo nos pequenos detalhes.

Mas, mesmo com toda essa cronometria, mesmo pensando em tudo, mesmo sabendo a genética sexual, biológica, ainda não sabemos o que nos aguarda, o que essa espera irá nos ofertar. Não sabemos a cor dos olhos, a estatura física, a cor da pele também pode nos surpreender. As salas de espera dos nossos dia a dia são momentos que possibilitam nos preparar para o inoportuno.

Jamais as salas de espera foram criadas para enfeitar nossa casa. Elas têm um papel fundamental em nosso crescimento como pessoa, como casal, como família, como amigos próximos ou não. As salas de espera são as nossas válvulas de escape que precisamos deixar escapar e a bomba explodir. Só assim poderemos reconstruir tijolo por tijolo a nossa vida, nosso corpo, nossas decisões, nossa família. E só assim conseguiremos explorar os outros cômodos da casa. Só assim nos permitiremos sentir sentimentos que até então tivemos medo de sentir. Só assim estaremos prontos para enfrentar a dor, a perda, o luto, a derrota, a mudança radical de vida, de estrutura, de família, de lugar geográfico, de situação, de momento, mudar a nós mesmos, começando de dentro.

Aquela nossa primeira sala de espera foi decorada por alguém, por um casal que sonharam o melhor para nós, mas um dia chega o momento em que essa espera acaba e dá lugar a novas esperas, cheias de promessas e de sonhos. Não podemos ter medo de mudar de salas, e nem viver sonhando por algo que está longe de nós. É preciso sonhar e viver ao mesmo tempo como as linhas de um trem que andam paralelas: sonho e vida. E assim, novas esperas sempre nos surpreenderão...  




Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas

Foto: “Nossa espera”. Foto de Luciana Ferraz via Pixabay

29/10/2020

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