29 Mar
29Mar

A Pampulha continua sendo libertadora. Libertação! Foi o que ela me proporcionou hoje, sete meses depois de uma clausura imposta pela pandemia. Claro! Não foi uma libertação total. Ainda estamos de máscaras. Caminhando sozinhos. Obedecendo a distância pelas normas sanitárias. Mas, um metro e meio afastados uns dos outros não me obrigou a fechar a portinha da gaiola. E resolvi voar.

Quão grande libertação. Noite de lua plena. Águas turvas ensaiam pequenas ondas. Uma manifestação agradável de pessoas. Gente! Vi cachorrinhos andando pelas calçadas. Quanto tempo eu não via isso! É! Realmente a pandemia nos tirou o mundo. Ficamos desatualizados. Não de notícias, mas de relações. Essas, convencionais. Feitas de esbarrão. Com quem nem sabemos o nome. Mas sabemos os sentimentos: liberdade.

Hoje eu percebi que a vida passa num estalo de dedos e num segundo, o presente vira passado. O instante é muito preciso, valioso, senão, poderoso. Como será essa nossa libertação gradativa daqui para frente? É preciso aventurar-se, ousar e viver perigosamente esses instantes que nos são dados. Carpe Diem é uma filosofia de vida bastante desprezada. Aqui eu a evoco como uma necessidade urgente de abrir os olhos para o agora e perceber que a Pampulha sempre esteve ali perguntando: onde você esteve esse tempo todo? O que você produziu durante esse período?

A cena da lua acariciando as ondas da lagoa era algo sublime. Digna de se admirar. Vi folhas secas em estilo outono. Mesmo estando na estação das flores, as folhas me chamaram a atenção. Aquele tom ouro, seco era algo encantador. Nas vias de pedestres e na pista dos bicicleteiros vemos pessoas livres indo e vindo, caminhando, exercitando-se, aproveitando o frescor da noite. Duas estações se passaram sem que eu desfrutasse o sabor das frutas e o charme das roupas do inverno. Agora, em plena primavera, faltam-nos o perfume das flores... como será esse próximo verão?

Estamos vivendo dias quentes na capital mineira. Mas essa noite tinha algo diferente. Um frescor agradável que nos aliviou a quentura do dia. Um sol de quase 40°C estorricou a rotina daquele dia. A lua e as nuvens escuras da noite tiveram a missão de nos refrescar.

Pampulhe-se! Liberte-se! Caminhe e aproveite a chance de abrir novas portas e explore. Há um mundo lindo fora das telas dos smartphones e dos ambientes das lives. Essas foram as portas mais próximas que tivemos para abrir. Mas agora, a vida começa a retomar. Não a voltar ao normal. Não existe um normal para ser retomado. Existe um novo caminho a ser percorrido. Novas portas se abrem. Novos mundos são construídos e a possibilidade de contar e viver novas histórias nos são dadas.

Pampulhe-se: isso não só nos liberta, mas é autorreconhecedor. Se isso pareceu pleonasmo, perdoe-me. Mas é isso! Liberdade é autoconhecimento. Sair é assumir a empreitada de um novo recomeço e, nesse caminho, um autoconhecer. Quem sou eu antes e depois da pandemia? Quem eu fui durante o isolamento? O que eu vivi e deixei de viver? E agora? Conjugando o substantivo próprio de lugar “pampulhando-se”, o que eu irei descobrir e viver...
  



Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas

Foto: Luzes da Pampulha. Fotógrafo: Dione Afonso pelas lentes do celular2

4/09/2020

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.