De fato, a humanidade já confirmou o fim da pandemia. Sim, já estamos salvos. Quando saímos de casa com as máscaras no rosto, somos vistos como estranhos, alguém totalmente fora do contexto local. Um louco que ainda está sendo enganado pelas notícias de que um vírus paira sobre nós e promete nos liquidar.
Como que é possível as pessoas continuarem a insistir num modelo social que não nos corresponde mais? Afinal, nunca nos correspondeu. Esse modelo só confirmava a nossa individualidade, arrogância e falta de fraternidade. É impossível viver assim. É impossível salvar a humanidade seguindo este caminho.
Gosto da palavra impossível. Porque o impossível me desafia. O impossível me faz perguntas e eu não gosto muito de perguntas sem uma possível resposta. O impossível me atenta, me perturba, me atormenta. O impossível á audacioso e aventureiro. O impossível provoca gargalhadas. O impossível me excita. Me desacredita a ponto de me deixar de pernas bambas. O impossível mostra ao possível que possibilidades quem cria somos nós. Se queremos viver, crescer e agir, temos de explorar os níveis impossíveis do dia a dia. As camadas impossíveis das relações, e as estruturas impossíveis da sociedade. Aí, o impossível te fará crescer. O que se é possível hoje já não é atrativo. Nós queremos é viver e experimentar os impossíveis da vida. O impossível me faz arriscar.
O possível não me oferece nenhuma novidade. O possível é cômodo. Estático. Impõe limites. E vive apenas na zona de conforto. O possível faz-me sorrir. O possível já me aponta um caminho percorrido por muitos já há muito tempo. O possível me proporciona segurança, mas sem nenhuma emoção. O possível não me deixa conhecer o novo, desbravar novos horizontes e nem me aventurar.
Nossa comunidade hoje vive na órbita do possível. É possível sim, continuar do jeito que estamos. Essa história de novo mundo e de novo normal é conversa. Isso aí é tagalerice de quem não tinha o que inventar. Isso é impossível. Criar um novo caminho sustentável para a natureza e a humanidade? Não. Isso é impossível de acontecer. Mudar nosso estilo de vida e cuidar da Casa Comum, diminuir nosso lixo, ajudar o pobre? Não. Isso é impossível. O sistema econômico nos esmagaria.
Sim. Parece ser mesmo, impossível de mudar a nossa cabeça rumo para uma comunidade em que, realmente, todos nós possamos vencer. Estamos acostumados com as guerras em que um lado ganha e outro perde. Estamos acostumados com o possível. Lembre-se: tudo o que se é possível sempre mata alguém. É possível voltar a nossa rotina normal do dia a dia, mas vamos continuar matando aqueles que estamos obrigando a abrir suas lojas porque nós temos a necessidade de consumir. O impossível nos permitiria salva-los!
Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas
Foto: Placas de rua. Foto de Gerd Altmann / @geralt via Pixabay.
30/09/2020
