A Guarda Real sempre foi muito rígida com relação a gestos, expressões artísticas, sentar, dormir, deitar, etc. Isso quando estão durante a carga horária de trabalho, é claro. Hoje me recordei de um fato muito curioso do Papa Francisco diante de sua Guarda no Vaticano. Dois fatos, aliás: o primeiro foi quando ele obrigou um dos guardas a cumprimenta-lo. Receoso, o Guarda, que também era impedido de falar, tentou indicar que isso não faz parte de seu ofício. Então, o papa disse: “eu sou o Papa rapaz. Aperte a minha mão ou eu lhe demito!”.
Esse fato circulou o mundo. Outro ainda mais ousado fotografa o papa lanchando com um dos Guardas, sentados no meio do Pátio do Vaticano. Realmente uma total quebra de padrões. A Guarda Suíça Pontifícia zela pela segurança do Papa desde 1506. Diz-se que são compostos por homens imaculados, quer dizer, sem passagem criminal, totalmente corretos, não casados, entre 18 e 30 anos, saúde física perfeita, estatura, corpo força físicas implacáveis.
Traduzindo: a seriedade, rigidez e rigorismos expressos nos rostos desses homens devem ser mesmo, de fato, amedrontadores. É por isso que não pode ceder aos desejos das artes e aos prazeres carnais e, até mesmo dessas necessidades essenciais como se sentar ou dar um aperto de mão a alguém. Mas, para o atual papa, isso nada lhe importa: falar bom dia para alguém não pode ser um crime hediondo e nem cumprimentar alguém um sinal de laços com o inimigo.
O lema que carregam, acriter et fideliter (coragem e fidelidade), os direcionam para a missão à qual devem cumprir: coragem para renunciar a todos esses desejos sociais e luxúrias atraentes e também total fidelidade ao Papa e ao Palácio Papal. Não se envolvem em guerras e nem são chamados a servirem seu país. Hoje, eles só servem unicamente ao Papa e ao Vaticano.
É, no mínimo, interesse e, de fato, é curioso, quando investigamos esses casos excepcionais do mundo em nossas pesquisas históricas. Tanta rigidez e seriedade assim não mais condiz com o carinho e o sorriso largo de nosso pontífice. Ele quer que todos que estão ao seu redor sejam pessoas sorridentes e felizes. Bem-humorados e sempre solícitos. Dispostos a conversar e a trocar, nem que seja, um bom dia.
Brincamos com o carinhoso gesto de Francisco, mas, no fundo percebemos que quanto mais a gente não se sentir obrigados a cumprimentar ou a sorrir pra alguém, mais a gente não é incomodado pelos outros. É incômodo demais ter que responder um bom dia, ou perguntar se o outro está se sentindo bem. Quando o papa se senta num tamborete de madeira no meio da praça e convida um Guarda Real a deixar o seu posto de rígida postura ereta e imóvel, ele, diz para nós que também precisamos abandonar a nossa superioridade ereta e assumir o nosso inclinar da generosidade. Ele só queria uma companhia para lanchar. E, ao ser indagado, ele respondeu: “eu fiquei preocupado, será que ele estava com fome? Foi o que pensei”. Respondeu ele com aquele olhar mais acolhedor que alguém pudesse transmitir.
Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas
Foto: Charge veiculada na Folha.uol. Charge retrata Papa Francisco indignado com os Guardas Reais torcendo na Copa do Mundo
07/10/2020