Atualmente Dubai, no Emirados Árabes é dono do arranha-céu mais alto do mundo. O Burj Khalifa possui 828 metros e 160 andares. É considerado um dos projetos mais ousados da história desafiando as leis da arquitetura e da engenharia. Burj Khalifa foi inaugurado em 2010 e possui o mirante ao ar livre mais alto do mundo. O seu limite é até onde a vista alcança.
Em segundo e terceiro lugar a China e a Arábia Saudita permanecem no pódio como possuidoras das mais altas torres do mundo. Você já deve ter ouvido falar do reinado de Agrabah. Provavelmente se você for daqueles amantes dos filmes da Disney que contam historinhas de princesas num mundo de faz-de-conta. Calma que não vamos traduzir nenhuma história de princesas aqui, afinal, elas não seguem o roteiro original.
Pra início de conversa essas histórias infantis, nada tem de infantis. Estão mais para lendas urbanas de contos de terror que historinhas para entreter seus filhos em frente à TV. A história que hoje conhecemos como Aladdin e o Gênio da Lâmpada tem o seu original escrito em árabe e, atualmente faz parte da coletânea de contos dos Irmãos Grimm. Na versão original Aladdin tem um pai, um alfaiate e uma mãe que vive sob o desgosto de ter um filho vagabundando pelas ruas da cidade. Assim como no filme, Aladdin, entre uma peripécia e outra, cometendo pequenos delitos e furtos na cidade, conhece um feiticeiro que lhe conta a história de tesouro escondido destinado a ele. O resto você já viu no cinema...
Na verdade, a história original foi contada por Sherazade. Uma jovem promissora que resolveu dar lições a um sultão. Tudo começou quando esse tal sultão foi traído por sua esposa. Quando teve seu coração partido, ele usou de sua autoridade e condenou todas as mulheres do sei reino. Por conta da traição, para ele, nenhuma mulher presta, e todas deveriam morrer. Portanto, a cada noite ele se casava com uma mulher do povoado e a matava. Sherazade, então, deu início a um plano arriscado: para salvar as mulheres de seu povo, ela se oferece para casar-se com o sultão. Para sobreviver, ela decide contar uma história, mas sem revelar o final. Movido pela curiosidade, o sultão adiava a sua morte para a noite seguinte, e, assim, Sherazade conseguiu construir uma história em 1001 capítulos. Isso deu origem ao Livro das Mil e uma noites.
No original, escrito em árabe, o gênio não possui um número limitado de desejos. O possuidor da lâmpada pode pedir o que quiser e quantas vezes quiser. Os primeiros pedidos de Aladdin foram algo como, comer, saciar a fome e a sede com os melhores banquetes que poderia ter. Aladdin e sua mãe, então, nesses capítulos consegue se casar com a filha do dono de Agrabah e constrói um palácio tão majestoso quanto o do sogro. “Até onde a sua vista alcança, isso é Agrabah”, disse Aladdin à mãe.
Vemos nesse pequeno conto o desejo de Aladdin e sua mãe de possui, no meio do deserto da Arábia Saudita, o mais alto monumento, majestoso e imponente. Desejaram, mais do que tudo avistar o máximo que suas vistas podiam alcançar para se sentirem poderosos diante de tamanho império.Até onde a nossa vista alcança?
Da janela do quarto, ou do terraço da casa, ou, até mesmo, do alto do morro da fazenda. Até onde a vista alcança? Qual o tamanho da imensidão que sou capaz de enxergar e de contemplar? Nossa Agrabah pode não estar situada num deserto onde a vista é livre, mas ela está onde deveria estar. Não precisamos de uma lâmpada mágica para admirar o nascer do sol, nem mesmo contemplar a noite fria de lua cheia. As estrelas continuam formando suas misteriosas constelações ali, acima de nós, onde nossas vistas alcançam.
Talvez o máximo que minha vista alcance seja a porta do próprio quarto, ou a tela do smartphone. Na verdade, não temos o desejo de contemplar outras coisas que nos faça refletir. Quantos dias faz que não vemos a luz do sol da varanda de nossas casas? Quanto tempo faz que não contemplamos o rosto de quem mora conosco num café da manhã? Quanto tempo eu gasto trancado em meu quarto sem mesmo ousar abrir a janela? Onde está Agrabah?
Lutamos por sobrevivência, mas, sem compartilhar tal glória. Uma vida baseada em vitórias é vida sobrevivida e não vivida. Uma vida sobrevivida não é glória, é apenas a certeza de que numa guerra fostes amaldiçoados pela permanência. Em Agrabah, havia também a existência do mal. O tal feiticeiro também está na versão original e, ele lutou para conquistar tudo o que Aladdin e a mãe conquistaram. Mas, eles venceram, salvaram Agrabah não por bondade, mas, por vanglória. Não se iludam, Aladdin nunca foi o herói da história. Ele não se preocupou em viver sua vida, mas, sempre se preocupou em sobreviver. Sobreviver depois de uma infância pobre, sem ter o que comer... sobreviver...
Claro, Aladdin começou a ajudar as crianças pobres, mas a que custo? E a troco de quê? Até onde a vista alcança. Ao acordar, atreva-se a olhar pela janela e a admirar os raios do sol, verás que podes ver além do que está acostumado. Não é a altura do edifício que vai te oferecer a melhor vista, talvez o ângulo ajude, mas, o que importa mesmo, é a beleza do que está disposto a ver, da janela do seu quarto, do terraço de sua casa, da varanda... Até onde sua vista alcança?
Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas
Foto: “Window”. Imagem de Gerhard Gellinger via Pixabay.
14/05/2020
