29 Mar
29Mar

Toda cidadezinha, por mais pequena ou desconhecida que ela seja sempre possui em sua geografia cimentada uma pracinha. Sempre no centro, no coração da cidade. Quando a cidade cresce, outras novas praças vão surgindo não substituindo esses corações, mas multiplicando paixões. A praça é sempre o ponto de partida para que sejam traçadas as ruas do bairro. Todas as ruas se convergem na praça. Muito semelhante as veias e artérias do corpo que sempre se conectam com o coração.

As praças guardam muitos eventos. Desde shows, quermesses, feiras livres, festejos da igreja até encontros casuais, pessoais, românticos, enamorados, amigos, encontros... Mas também pode ser palco de desencontros e despedidas. Aquele adeus, aquele último abraço, aquele término de namoro, desenlaces matrimoniais. Despedidas... E tudo isso no coração da cidade.

A igreja está ali. A farmácia popular está ali. A primeira agência bancária está ali. O supermercado antigo da cidade está ali. A escola está ali. O lugar mais bonito e mais bem cuidado da cidade é ali: a praça. Igual tratamento deve receber também nossos corações, centro do corpo físico e centro de nossas emoções. Todas as emoções que sentimos e que distribuímos está ali, seja bom ou ruim, alegre ou triste, está e sai dali, do coração, a praça da gente. Onde todos aqueles que chegam, sentam e proseiam. Uns são de pouca demora, outros fazem da praça, morada. Alguns moram no calor das paixões, outros sentem frio pela falta de atenção. Mas, sempre estão ali, como um cômodo antigo deixado de lado, num cantinho do coração. O que ele faz ali? Cada um de nós cuidamos da nossa praça. Cada um de nós permitimos quem queremos e quem não queremos desfrutando do banquinho, morando em nosso coração. Logo, que saibamos responder o que fazem ali, mendigando atenção, implorando pra ser visto. Sempre ali... O que fazem ali?

Uma multidão de pessoas atravessa a praça da cidade a cada dia. Tudo o que vão realizar, o caminho mais certo é pelo centro da cidade, pela praça. Quantos também não atravessam o nosso caminho, passando por nosso coração a cada dia? Quantos não esbarram em nós? Quantas vezes não paramos para simplesmente responder alguém que está perdido, que não encontra o endereço urgente daquele dia. E assim, a praça do nosso coração vai recebendo visitantes das mais diversas cores e estilos. Eles vem, passam, param, uns permanecem, outros seguem...

Tudo é filmado noite após noite pelas luzes que enfeitam os passeios, que iluminam os bancos, que aquecem a madrugada. Elas nunca falham, mesmo quando queimam ou estouram, rapidamente são substituídas por lâmpadas novas. As luzes da pracinha sempre estão de prontidão nos mostrando as belezas daquele encontro, as alegrias daquela conversa, as dores daquele diálogo, os sofrimentos daquela briga que ali começamos.

As luzes da praça iluminam nossos corações por vezes frios e confusos com tantos sentimentos misturados e desorganizados. As luzes da praça dão cor e forma a tudo o que sentimos, vivemos, experimentamos. As luzes da praça são nossas maiores companhias quando queremos um lugar para organizar as ideias e colocar os pensamentos no lugar.

As luzes da praça nos salvam e nos libertam. Nos fazem apaixonar pela beleza de tudo o que nos rodeia. As luzes da praça nos encantam e nos fazem dançar em volta daquilo que nos movimenta e nos constrói. As luzes da praça é como uma bússola que aponta para o centro, para o meio, para a origem de tudo o que nos fortalece e nos faz viver e respirar.

As luzes da praça não devem ser valorizadas apenas na época natalina que enchem nossas cidades de boas vibrações. Da mesma forma nossos corações devem despejar sentimentos de família e de amizade em todas as épocas do ano. Natal pode ser tempo de reunir a família, perdoar aqueles que nos magoaram, rever amigos, cumprimentar tios e sobrinhos, mas o Natal é apenas uma vez ao ano. E nunca saberemos se essa data irá se repetir no ano seguinte. E assim, a praça fica apagada, sem luz, sem brilho, sem amigos, sem amor, sem carinho. Corações gelados, sozinhos, amargurados, distribuindo raiva e tristeza, remorsos e brigas com quem deveríamos sempre perdoar e permitir uma chance de recomeçar. Mas, ainda não é Natal e as luzes da praça ainda não foram acesas. Vamos aguardar... E enquanto você aguarda, o outro já pode ter partido e não poderá desfrutar das luzes que você enfeitou seu coração.  




Por Dione Afonso, jornalismo PUC-Minas

Foto: “Luzes da cidade no coreto da praça”. Foto de PublicDomainPictures via Pixabay

22/10/2020

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