10 Jan
10Jan

Tentando fugir das modas efêmeras e daqueles clássicos jargões que se maquiam de votos de bondade e gratidão, refletir sobre o que é preciso abandonar para (re)começar não é um exercício muito leve. Ele é peso pesado, e, constantemente nos pegamos fugindo da regra e abandonando a academia antes do tempo previsto. Contudo, ao contrário das smart fits espalhadas por aí e que andam apinhadas de pessoas em busca de corpo sarado e bem torneado e mente sadia, nesse caso, se você foge da sequência de exercícios, não terá aquele personal trainer a correr atrás de você e cobrar disciplina. Seu personal é sua “autodisciplina”. 

Na primeira crônica do ano resolvi relatar um momento em que me peguei flagrando alguns destes fugitivos. Sem exceção, todos eles, pipocaram seus perfis sociais digitais com frases já pré-formuladas que nada correspondiam ao momento em que estávamos vivendo. Dentre tudo o que passamos no ano que findou, o item que se chama “esperança” precisa ser retomado ainda com mais força. Constantemente me pego contemplando diversos pares de olhos pelas calçadas afora e percebo que a desesperança habita todos eles. Parece que perdemos a esperança. 

Perdemos a esperança de continuar; perdemos a esperança de acordar; perdemos a esperança da profissão, da família; perdemos a esperança de viver. Parece que “tocar o bonde” e ver no que que vai dar lá na frente tem sido a escolha mais tomada pela humanidade. Mas não é a escolha mais sábia. Como já afirmaram os inúmeros estatísticos, não é porque um dado percentual está altíssimo que signifique que ele dite com veracidade o que acontece no resto do mundo. Se a porcentagem dos que escolheram viver sem esperança é alta demais, significa que a maioria optou em não lutar pra viver, mas viver, independentemente se vai, ou não, vencer essa luta. 

Em 2023 é preciso lutar pela esperança e lutar com esperança. Sei que mar calmo não faz bom navegador, mas ninguém nunca me perguntou se ser navegador é o meu sonho. Talvez o desejo que habita na alma de muitos seja apenas de ter o mar calmo pela frente. Mar calmo não simboliza apenas serenidade ou pouca ambição. Há muitas calmarias por aí que escondem trovões e tempestades que nunca se acalmaram e que de uma hora pra outra se manifesta em crises, tumores, cânceres, loucura, pânico e fobias. 

Talvez, para os (re)começos de nossas vidas precisamos olhar com mais atenção aos mares calmos por onde passamos e ver se, de fato, são calmos ou se por dentro muitos de nós não carregamos fortes tempestades que não conseguimos deixar pra trás.



Por Dione Afonso | Jornalista

21.janeiro.2023

Foto: EvgeniT via Pixabay

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