01 May
01May


Perdi uma amizade de anos. É estranho usar a ação "perder" para esses casos. Mas, para quem ainda não passou por isso, é bem essa a sensação: de perda, término, luto, acabou.

E num foi uma briguinha de fazer as pazes depois. Nem teve briga. Não no sentido literal do termo. Talvez a briga tenha acontecido dentro de nós. Cada um lutando (e matanto) por suas ideologias e o que acredita ser certo. E ninguém disposto a plantar a paz e respeitar a vida e a opinião do outro (nem mesmo do melhor amigo). 

Não houve um momento em que alguém disse: "acabou"; "não dá mais"; "está insustentável". Não. Foi uma conversa, normal, de buteco. Cada um contava sobre sua vida, as novidades, por onde andava, suas realizações... Entre uma pauta e outra cada um colocava, sem querer ofender, a sua opinião na roda, concordava e discordava. Infelizmente, num certo momento, as divergências ideológicas foram pesadas demais. E foi nesse momento que o ponto final na amizade se escreveu.

Acabou a resenha, pagamos a conta, cada um seguiu para um lado com um "nos vemos por aí". E já sabíamos que esse "por aí" foi bem literal. Coração amigo não se engana, sabe quando uma história termina. Ninguém mais ligou pro outro, no WhatsApp, a conversa também não continuou. Silenciamos. Cada um em sua vida. Sozinho, porque não soube ouvir e acolher nem mesmo alguém que convivia junto há tanto tempo.

Sabemos que cada um está seguindo com sua vida. Cada um com seus "corre" diários. Somos amigáveis, mas não mais amigos. Não mexe comigo e eu não te ofendo. Não me pergunte, e continuamos "ok". A divergência de opiniões nos afastou. Não nos tornamos inimigos. Mas, existem dores piores do que a inimizade: a indiferença e o julgamento.

Hoje paro e penso o quanto está difícil manter amizades duradouras, firmes, sinceras e sustentáveis. As pessoas andam tão centradas em suas próprias crenças que não conseguem mais se relacionar com quem pensa diferente. Por causa de uma diferença de ideia, a convivência e gue muros e constrói barreiras difíceis de perfurar. O ser humano se isola porque prefere defender um papel cheio de normas a manter viva uma amizade de anos.

Enquanto isso, a única ideologia que estamos construindo é a do ser humano sozinho, sem amigos, sem companhia, vivem fechados achando serem autossuficientes, autossutentáveis, malham, cuidam do físico, mas descuidam do coração, das amizades (as vezes até da família). Num segundo, estamos rindo das piadas e tirando selfies, no segundo seguinte, a roda de conversa silencia e já inventamos um compromisso pra sair e ir embora. Nas redes sociais, o ex-amigo continua ali, entre os contatos, mas sem a mínima vontade de chamar e perguntar se está bem e se quer sair pra lanchar ou "tomar uma". Fica ali, insensível, indiferente.





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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