25 Mar
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A Avenida Amazonas, uma das que corta toda a capital mineira, tão grande quanto o lugar que ela reverencia, é imponente. Ela possui dois estados de espírito: de um lado, o esquerdo para quem sobe, ela é habitável, colorida, com mansões antigas e casas modernas nas quais um estilo respeita e conversa com o outro. Mas, do outro lado, ela é feia, feia, respira a capitalismo com seus galpões mal arquitetados. Fede a mijo e a vida desse lado é bem mais frenética e triste.

Pessoas vem e vão. Carros seguem sua trajetória na pista dupla da avenida. Ônibus, sem escrúpulos, invadem os pontos demarcados embarcando e desembarcando corpos despreparados para a lida de cada dia.

A rua de mão dupla segue de ponta a ponta, ligando o norte e o sul, o belo e o trágico, a sua morada e o horizonte enorme e sem fim que se descortina entre os arranha-céus que se erguem suntuosos e provocantes entre as poucas árvores alicerçadas sobre o cimento frio e morto.

Já perceberam que a nossa vida se torna enfadonha; que não temos mais tempo nem para comer; que tudo é corrido; que o tempo não nos ajuda mais; que o descanso noturno não é mais suficiente a partir do momento em que tudo é feito na correria? Corremos pra pegar o ônibus naquela hora determinada. Corremos com o almoço pra não sair mais tarde. Corremos com os afazeres da casa. Corremos no trabalho pra não deixar nada pro dia seguinte. Corremos no supermercado porque tem que congelar os marmitex da semana. Corremos até pra tomar banho... Corremos pra dormir e mais rápido ainda é para acordar.

O gosto de se viver tornou-se amargo demais. Na Avenida Amazonas, muitas corridas são percebidas, desde os carros em alta velocidade, às bicicletas sem freio e aos pedestres nas calçadas que não param mais nem pra cumprimentar alguém. Parece que estamos todos os dias encarando uma maratona, que foi dada o ponto de largada, mas o de chegada parece nunca chegar. Quando vamos chegar? Quando vamos parar? Quando...

A vida da gente, assim como a Avenida Amazonas, também tem dois sentidos: um que nos leva para os lugares mais desejados da vida. Que permite que descansemos, que desfrutemos da família, dos amigos, dos doces na padaria, do chop no fim de tarde, de uma casa limpa, aconhegante... Mas o outro sentido, tira de nós as melhores energias. Suga-nos, tira o descanso, a tranquilidade. Deixamos de ter tempo pros filhos, pra família, pros amigos... passamos a comprar a cerveja e bebê-la na varanda, sozinho, admirando a lua, e não sai mais com os amigos pro barzinho da esquina...

Não se trata de termos mais tempo pra um, ou pro outro lado da avenida, talvez seja necessário vivermos com os dois, mas em equilíbrio. Nesse caso, seja mais importante nos questionarmos quanto de energia e de tempo estamos aplicando num lado e no outro... E assim, vamos aprendendo a andar numa via de mão dupla, que vai e que volta, sem furar o sinal vermelho do semáforo e respeitando os quebra-molas e as paradas obrigatórias que a vida nos pede.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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