02 Feb
02Feb


Meme de 2018 tem se tornado referência de motivação, otimismo e força de vontade. Mais uma pérola viralizada de dentro de um reality show que virou modinha agradável e bem humorada em nosso país. Eu acho fantástico a forma que nossos irmãos brasileiros têm uma capacidade incrível de resumir tanta coisa numa única palavra e fazerem isso viralizar e ganhar o mundo. Muitas vezes, orgulho-me disso! 

O meme também exalta o que você tem de melhor. Sua beleza, sua existência, sua força, sua simpatia, sua naturalidade. Parece que todos nasceram para serem príncipes e princesas, reis e rainhas. Dignos de portar sobre a cabeça uma joia tão visada como uma coroa. Em histórias de fantasias e até mesmo aquelas reais da Idade Média, a conquista de um povo, lugar ou a vitória em um duelo era marcada por uma coroação. Portanto, “levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai” não é só um meme motivacional, é um lema de vida e uma ordem social: todos são dignos de portar uma coroa; todos são dignos de possuir terra, trabalho, casa, educação, saúde, dignidade, direitos... todos têm o direito de vencer. 

Depois de ter assistido Spencer, a mais uma caracterização da Princesa Real Diana, fiquei a pensar, momentaneamente nessa expressão “mimética”, que é o meme, uma imitação, uma representação do real de maneira mais divertida. Talvez, a única vez que parei para pensar nele. E comecei a me questionar o peso que uma coroa pode nos trazer. Não a coroa em si, com seu ouro puro, joias, diamantes, arranjos. Mas o que ela representa, o símbolo que ela aponta. Lady Di sentiu amargamente esse peso em seu corpo. Não sustentou por muito tempo a sua cabeça erguida. A coroa foi demais para ela. Ser mulher foi demais para ela. Ser princesa não estava em seus planos. Ser mãe era a única coroação na qual ela se orgulhava, mas, mesmo assim, houve momentos em que era demais para ela. 

Então, princesas do agora: levanta a cabeça, mas se a coroa tiver que cair, deixem-na cair. Deixem a coroa para trás, tilintar no chão frio de um mundo que mata um trabalhador só porque ele queria receber o que lhe era justo pelo seu dia de trabalho. Ele estava com a cabeça erguida, mas fizeram questão de tirar-lhe à força, sua coroa, sua dignidade, sua humanidade, sua vida. Spencer é sobre uma fuga para tentar ser feliz pelo menos por um segundo. Tentar viver sem o peso de uma coroa que regula e cronometra cada passo e o tempo de respirar livremente por aí. 

O filme, talvez tenha exacerbado algumas expressões bastante duras de se encarar, contudo, talvez, a sua fábula teria essa intenção: se a coroa lhe é pesada demais, se a vida que leva lhe é pesada demais, se a sua rotina lhe pesa nos ombros, se o seu trabalho suga suas energias para além do combinado pela folha de pagamentos, se as companhias que lhe rodeiam monopolizam o seu tempo e o ar que respira... abandone essa coroa e mantenha a cabeça erguida, livre, mais leve, sem o peso dos protocolos que o mundo impõe.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.