29 Mar
29Mar

Em tempos tão estranhos, presenciamos o desarranjo, que o egoísmo causa. É preciso buscar bons exemplos, cultivar bons pensamentos, pra ver se a vida melhora. Lembro-me de Olavo Bilac, um dos grandes poetas da língua portuguesa e tenho certeza das muitas coisas boas que temos escondidas por aí. Nas páginas dos livros; nas esculturas dos museus; nas pinturas dos teatros... 

E assim começou nosso devaneio: 

Certa vez, um grande amigo encontra esse tal Olavo. Nesse encontro acontece o seguinte diálogo: “Você é  bom com as palavras, crie um anúncio de venda para o jornal, pois quero vender minha chácara que você tão bem conhece” (achamos que você já conhece essa história não é, querido leitor?) Olavo pega caneta e um pedaço de papel e então escreve: “Vende-se encantadora propriedade, onde em extensos arvoredos, pássaros cantam ao amanhecer. É cortada por marejantes e cristalinas águas de um belo ribeirão. A casa nela existente é banhada pelo sol nascente e ela oferece sombras tranquilas das tardes em suas varandas”. 

Eu não disse que ele era bom com as palavras? Isso são provas do quão agradável e ás vezes, surpreendente são as pessoas que nos rodeiam (tanto de longe, como o nosso caso), mas também os de perto, mesmo com a pandemia, alguns conseguem se ver ou ter algum contato físico, mesmo que mínimo. 

Seres curiosos são as pessoas. Não falo apenas das que vemos todos os dias, mas também daquelas que nem fazemos ideia que existem, mas, estão em algum lugar desse planeta, ocupando uns centímetros dessa mesma terra que pisamos. São curiosas também essas pessoas que já conhecemos de longa data: por mais que conhecemos cada um deles, amigos, conhecidos, parentes, colegas de trabalho, parceiros na faculdade, eles ainda nos surpreendem com algum gesto ou ato inesperado que nunca havíamos visto antes nessa pessoa. Temos a certeza que enquanto você está aí lendo esse parágrafo, sua cabeça está rebobinando a fita relembrando de algum fato que ilustra essa frase anterior, não é mesmo? 

Mas, voltando ao encontro de Olavo com seu amigo. Passados uns dias eles se encontram e o poeta pergunta: “E aí, vendeu a chácara? – O amigo responde: Nem pensei mais nisso. Quando li o anúncio me dei conta da riqueza que eu tenho”. Não esperemos outros fazerem anúncio de nossas riquezas. Hoje em dia, mais urgente do que nunca, é preciso começar a sermos agradecidos pelo que temos e somos. O que será que ainda é preciso ter na vida pra dar valor ao que temos? O que ainda nos resta para valorizar tudo isso? Uma pandemia ainda não está sendo suficiente? O simples fato de respirar (e aqui a metáfora é forte) e de viver ainda não é o bastante? Quanto vale uma vida? Quanto está valendo a minha vida? Será que ela só terá valor quando estiver à beira do precipício? Será que a perda vale mais? 

Estranho é essa ingratidão! Complica ainda mais quando agimos ao calor da emoção. Talvez a vida que você acha ruim é o sonho de alguém. Talvez a companhia que você despreza seria tudo pra quem da solidão é refém. Seu emprego, seu salário, sua rotina, seus afazeres, seu lar, sua família, suas ocupações, seus passeios, o lugar em que está e mora... Tudo isso pode ser, nesse exato momento, o sonho de alguém. 

Seu barraco, é o sonho de um sem teto. 

Sua saúde é o sonho de um moribundo. 

Seus estudos, são sonhos dos analfabetos. 

Sua família é o sonho de um estéril. 

Seus filhos é o sonho de muitos pais e mães. 

Então, querido leitor, a crônica dessa semana só tem um objetivo: ensinar a cada um de nós que grandes amizades podem ser construídas com gestos tão pequenos que nem mesmo nós, homens, somos capazes de perceber. Quando nos damos por conta, ela já aconteceu e está aí, firmada em algo que tão diariamente desprezamos: a confiança. A base da amizade e de qualquer outro relacionamento não é o status e a importância e relevância da outra pessoa, lembre-se disso. Não se corre atrás de amigos, eles, simplesmente vêm.




Por Mínison Domingos  |  Matipó-MG

or Dione Afonso  |  PUC Minas 

18 de fevereiro de 2021 

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Foto: Imagem de Elias Sch. (@Eliassch) por Pixabay 

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