29 Mar
29Mar

Em outra ocasião, num outro texto, inspirado pelo dia que naquela ocasião me regurgitou uma outra história eu havia escrito sobre o Reino de Agrabah. Isso mesmo, aquele reino longínquo que se sustentava sobre as areias do deserto. O reino de Aladdin e sua lâmpada mágica. Histórias que esse mundo Disney gosta de veicular seduzindo-nos com um mundo todo perfeito e cor-de-rosa. Rainhas, bruxas más, princesas, cavalo branco, ratos de luvas e roupa, castelos suntuosos, uma realidade fictícia e cínica que a Disneylândia conseguiu construir com a simples missão de enganar-nos e nos comprar revelando um mundo lindo, perfeito e maravilhoso.

“É preferível criar nossos filhos assim, nesse mundo cor-de-rosa, você num acha?” alguém havia me questionado. Calei-me. Calei porque eu discordava. Calei porque, por um momento, não seria nada mais reconfortante do que você apresentar para alguém um mundo assim, todo Disney, onde as princesas existem e os príncipes irão salva-las de um dragão enfeitiçado por uma bruxa. A vilã da história.

O mundo precisa de esperança. As pessoas precisam de esperança. Precisamos contar histórias que regurgitam esperança. Histórias reais, verdadeiras sem complexos da Disneylândia. Princesas e castelos são mais complicados do que a história revela. Hoje a princesa não vive mais trancada no alto da torre aguardando por um salvador. Ela é salvadora dela mesma e o príncipe se orgulha e a encoraja por ser dona de si e capaz de transformar a vida.

Hoje muitos de nós ficamos à mercê de encontrarmos em meio às conquistas do dia a dia aquela lâmpada mágica que concedeu a Aladdin três pedidos. Bom, se somos devotos das histórias da Disney – histórias nada enriquecedoras – provavelmente já devemos ter uma lista de pedidos em mente. Uma lista que passa do número três, desconfio. Já que o tal de gênio tem uma disposição limitada para nos atender.

O mundo está cheio de gênios, controladores da vida alheia, pessoas que vivem tentando te convencer por onde você deve ir e o que deverá escolher para a sua vida. Pessoas assim deverão ser aprisionadas para sempre em suas próprias lâmpadas mágicas. Não é porque a lâmpada do colega brilha mais que a sua, que você deverá jogar areia e barro na lâmpada do outro. Cada um é gênio de si mesmo. Cada um é capaz de desejar o que quiser, desde coisas simples até aquelas que corações avassaladores são capazes de aguentar.

A bruxa má e a princesa das histórias também podem estar no nosso círculo de amizades e até mesmo no grupinho do trabalho. A todo instante tentam nos comprar com uma maça envenenada ou com um beijo encantado que irá nos fazer “acordar pra vida”. Entre o beijo e a maçã, fique com a maçã, se algo der errado, pelo menos você saciou a fome.

E, sem perceber com o que a Disneylândia faz conosco, vamos nos entregando as seduções desse gênio que nada mais quer do que controlar nossa vida e até os nossos sonhos. Não! Seja você próprio o seu gênio. Você não é dono de lâmpada nenhuma, você é a própria lâmpada e pode decidir o que quer realizar sempre e todos os dias. Então, levante de sua cama porque o sol pretende brilhar mais do que nunca hoje, ligue seu rádio e sintonize onde te faz vivo e disposto sempre a um novo recomeço. E faça seus pedidos...



Por Dione Afonso, SDN | PUC Minas

Foto: Sintonize-se na sua história.Foto de Otilia Damsescu @oti_ito88 por Pixabay

12 de novembro de 2020. 

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