29 Mar
29Mar

5h da manhã. Hora de sintonizar no programa que me faz pegar o ritmo do trabalho e da primeira chaleira de café. Ao cantar do galo... um som estranho, um “hehehe” familiar... Meu galo tem a crista azul marinho, daquelas bem brilhantes, mas o que vejo pela janela é uma crista vermelha, um topete alto. Alguém roubou o meu galo...

Criado em 1940 pelo artista de storyboard Walt Lantz, o Pica-Pau tornou-se ícone dos anos 40 para as animações televisivas. Um show de fantasias e loucuras provocadas por um pássaro intrometido e arteiro faziam a alegria da criançada. O seriado é um dos poucos que sobreviveu por décadas no ar. No entanto, semelhando ao seriado Chaves, ambos hoje não estão mais presentes nas TVs brasileiras.

Em animações como Pica-Pau e em séries cômicas como a do Chaves é muito comum vermos na maravilha das ficções, os personagens desenhados “ver” o som fazendo curva para chegar até os ouvidos. Todos nós nos lembramos de quando o som de uma vitrola passava por debaixo da porta, dobrava a esquina e chegava até o vizinho Leôncio num dos episódios de Pica-pau. No programa do Chaves, as coisas eram mais reais. Mas mesmo assim, a música fazia a alegria daquela pequena vila.

Depois de anos de sucesso, o seriado que muito marcou nossa infância foi tirado do ar. Tanto da TV aberta, quanto das plataformas digitais que mantia o programa eternizado em nós. Nem mesmo o ditado “tudo o que é bom dura pouco” consegue dar significado a essa era, pois durou muito. Mas, nos deixará saudades. O pássaro que adora entrar em encrenca pelo menos está se modernizando e indo pro cinema. Sua última tentativa de 2018 fez até que um sucesso considerável nas telonas. O diretor Alex Zamm dirigiu um bom live-action que fez a alegria da criançada em todo o mundo.

Agora estamos aqui: em 2020. E os sons da nova música tem que se modernizar, encarar as novas curvas para atingir os ouvidos dos nossos ouvintes. Hoje as músicas encontram espaço no twitter, no instagram e em apps feitos sob medida para guardar vozes e experiências que surgem por esse país. O Spotify vem para achatar essa curva. Fazer com que a música chegue cada vez mais rápido e numa velocidade superável nos ouvidos do público.

Acredita-se que a curva do rádio tem enfrentado esses concorrentes. Enquanto a curva do rádio dribla seus sons, a linha reta dos apps bate o placar.

Corremos então para a prorrogação desse jogo e a única solução é englobar os dois times num só. Numa disputa um lado sempre perde. Mas não é esse o nosso propósito. Não podemos perder. Diferente do que aconteceu com o seriado do Chaves e com o nosso querido Pica-Pau, com o rádio a história muda de posição. Rádio é música, rádio é onda, som, e, porque não, digital. O rádio pode sim, ser digital, ser virtual, ser Rede Social. No rádio pode entrar até mesmo o Pica-pau!

Já imaginou? O galo do seu terreiro ganhar um parceiro? E, de repente você ser acordado pelo “hehehe” de um Pica-Pau? Sim! Aquele pássaro de topete vermelho e penas azuis que um dia te provocou altas risadas nas tardes dos finais de semana. Quem inventou a novela? Foi o rádio! Quem inventou os programas de TV? Foi o rádio! Quem inventou os efeitos visuais do cinema? Num foi o rádio? O rádio também pode reinventar o Pica-Pau, já pensou nisso?

Hoje o rádio se reinventa e nunca perde sua essência. Ele continua informando, formando, entretendo, comunicando. Isso é rádio. E sempre continuará sendo rádio. Só que agora ele resolveu contornar a curva e chegar em nossa casa por várias estradas. E continua sendo sempre o rádio de sempre. E continuará sendo nosso companheiro.





Por Dione Afonso, Jornalismo PUC-Minas

Foto: Pica-Pau, o filme. Foto de Universal Pictures / Reprodução

13 de agosto de 2020. 

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