29 Mar
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Lançada por Leonard Cohen em 1984, Hallelujah consagrou-se como uma das mais célebres canções de toda a sua carreira. Inúmeras versões da música ganharam os microfones e os mais diversificados álbuns pelo mundo. No entanto, a versão original de Cohen é majestosa. Uma canção digna de ouvidos apurados e de muito bom gosto.

Um hino espiritual. Uma música com vida própria. Cohen levou dois anos para compor a versão final da música. Ela “teve uma história difícil”. “Enchi dois cadernos e me lembro de estar no Royalton Hotel [Nova York], no carpete de cueca, batendo a cabeça no chão e dizendo: Não consigo terminar essa música”. Cohen disse ter composto mais de 80 versos para a música e, felizmente, ele conseguiu nos entregar uma obra prima. Digna de ser transmitida de geração para geração.

Para o nosso deleite, Cohen, mais tarde, nos revelou que dos 80 versos escritos, ele manteve 36. Ele não conseguiu descarta-los. Então, veio a solução: ele decidiu criar duas versões da canção. Segundo ele, a primeira, e, talvez, “oficial”, seria uma versão mais espiritualizada, calma, uma verdadeira oração. Essa foi lançada em 84 no álbum Various Positions. Sua segunda versão seria algo mais erótica, ousado, nada tranquilo, mas, algo mais catártico. Essa foi cantada ao vivo num show em 88 e foi incluída no álbum Cohen Live de 1994.

A versão de 1988 omitiu as referências bíblicas do original. Cohen trouxe o hallelujah ainda com mais foco e força vocal. As referências bíblicas do Antigo Testamento da versão de 84 desapareceram.  Não vemos a harpa do Rei Davi utilizada para acalmar Saul (“o acorde que Davi tocava...”). Em seus seis versos, Cohen envolve todos os temas pertinentes à existência humana: amor, sexo, desejo, morte, solidão, fraqueza, religião, fracasso, perdão, redenção, misericórdia - e, claro, o próprio ato de compor.

Hallelujah é uma canção repleta de referências bíblicas que vão desde o amor e a beleza de Sansão e Dalila até a fé inabalável do Rei Davi. Uma música que nos coloca nos passos de alguém que busca esperança num mundo catastrófico e prestes a cair num apocalipse. É possível se salvar? É o amor, a beleza, a fé, nossas âncoras de salvação?

Ao mesmo tempo a canção é uma celebração de uma longa jornada que chega ao fim. Ou que termina com a sensação de que algo bom e bonito foi concluído com grande sucesso. Hallelujah nos convida a celebrar, rezar e até mesmo a recordar toda a nossa vida, olhar para o nosso passado com gratidão e mirar-se num futuro cheio de esperanças.

Recentemente, o cineasta Zack Snyder pela segunda vez usou a canção de Leonard Cohen, versão original, em mais um trabalho seu. A produção da Liga da Justiça pelo corte SnyderCut será lançado no próximo ano pelo serviço de streaming HBO+. No primeiro trailer de sua produção, Snyder ambienta a ameaça global dos inimigos do homem com a trilha de Cohen. Ali a visão apocalíptica é muito clara. O “aleluia” se desponta como que numa encruzilhada: ou tudo estará perdido, que nós perdemos, que o mundo sucumbirá; ou, ainda há uma chance de salvar o mundo, todos nós juntos, unidos, seremos capazes de impedir o apocalipse.

“A música explica que muitos tipos de aleluia existem, e todos os aleluias perfeitos e quebrados têm o mesmo valor. É um desejo de afirmar minha vida, não de uma forma religiosa formal, mas com entusiasmo; com emoção. Eu sei que há um olho observando todos nós. Há um julgamento que pesa tudo o que fazemos”, disse Cohen.




Por Dione Afonso, SDN | Jornalismo PUC Minas

Foto: A queda de Lúcifer é a queda da humanidade. Åsa K por Pixabay

24 de setembro de 2020. 

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