O grande Elvis Presley [1935-1977], cantor estadunidense foi considerado o Rei do Rock de maior popularidade no século XX. Não obstante, seu gingado, penteado, estilo e gosto pela moda na cultura musical ainda ditou normas e padrões sociais para uma geração de fãs e admiradores de seu trabalho. Nascido no Mississipi, o músico fez de suas canções mais que melodias, mas regras sociais para a sociedade. Claro que seu sucesso no rádio e na TV emplacou os TOP 10 por muitos anos.
Nos tempos vindouros tanto do rádio como da TV, a programação que era basicamente local era formatada de acordo com o que vendia e quem comprava. Presley, mesmo sendo considerado a figura modelo do Rock in’ Roll, sua fama e sucesso garantiram a tramitação da moeda na cultura pop. Além do mais, quem nunca ouviu falar do Repórter Esso? Sabatinas Maizena? Corte Rayol? Ou seja, no rádio, ainda bem antes do sucesso de Elvis Presley, o sucesso de um programa era veiculado graças à marca que ele anunciava. Ainda mais: a qualidade não era tom de importância, nem mesmo o carisma e competência de quem o radiava, como o locutor.
Isso esteve presente durante muito tempo no início do Rádio e também da TV. Não só Elvis Presley se valeu disso, mas também o reconhecido mundialmente com Rei do Pop Michael Jackson e a Rainha do Pop, Madonna, também estiveram nesse páreo. Com a evolução e desenvolvimento das tecnologias e também a influência do digital, essa marca comercial foi deixando um pouco de ter relevância e o público começou a ter o seu púlpito. Ou seja, pra que que eu vou dar crédito a algo patrocinado pelo Pó Royal, por exemplo, se eu posso buscar outro tipo de fermento em outra “freguesia”?
Você já deve ter ouvido falar de Quentin Tarantino. Um cineasta norte-americano de grande referência na cultura pop do cinema e da fotografia. Um exímio diretor e roteirista. Recentemente, em 2019, Tarantino reuniu num único projeto, Brad Pitt, Leonardo De Caprio, Margot Robbie e Al Pacino. Um elenco e tanto. O filme Era Uma Vez... em Hollywood vendeu mais pelos rostos do que pelo trabalho e pela história contada. Todos queriam ver um filme estrelado por De Caprio e Pitt ao mesmo tempo. Os atores mais bem pagos da cultura hollywoodiana. Vejam que mudamos de universo, saímos da cultura musical e entramos na cinematográfica, mas os estereótipos comerciais não mudaram.
Essa evidência propagandista e de comércio foi desaparecendo, nunca deixada de lado, mas jogada a escanteio. Não nos iludamos. Até hoje o patrocínio e o recurso financeiro continuam tendo sua força e relevância no comercializar um projeto e um programa de rádio e TV. No universo da música, a concorrência é ainda mais desleal. O que muda é o foco. Priorizamos por qualidade, antes da marca. Isso é o que nos importa. O Rádio nunca perde seu patrocínio, ele continua precisando de recursos para manter suas estruturas e continuar veiculando responsabilidade e ética aos ouvintes.
Agora, não vendemos mais o programa pela marca, mas oferecemos pela competência, respeito, qualidade e atualidade da notícia e da informação veiculada. O Rádio não foi o único que sofreu com essa história. Hoje quantas produções cinematográficas são vendidas pelo rosto bonito? Um filme só faz sucesso se nele estiver estampado o rosto mais bonito e bem pago de toda a Hollywood. O cinema passa a virar um antro comercial de elite. Não é mais a obra pela obra, o filme pelo filme, mas é a obra pelo rosto da Angelina Jolie, ou o filme pelo carisma de Leonardo De Caprio.
O universo da propaganda, publicidade, TV, Rádio, música e Cinema sofrem com a pressão capitalista e o comércio desleal. A cada dia precisamos lutar por uma maior diversidade cultural, social e identitária em nossos veículos de comunicação. A primeira radialista mulher foi aparecer no rádio 20 anos depois que o veículo de comunicação surgiu. A presença feminina no radiojornalismo, por exemplo, ainda é um tabu que sofre resistência e descrédito tanto dos profissionais quanto do público. No cinema, com quase 100 anos de Oscar, até hoje somente uma mulher levou a estatueta para casa no prêmio de melhor diretora. E nas indicações para concorrer, elas quase não aparecem. Isso é algo que precisa ser repensado.
Não podemos mais sustentar essa ideologia de vender nosso trabalho pela marca e nem de consumir conteúdo pelo rosto bonito ou o artista mais caro. Mesmo com toda a pressão pelo capital e pela economia, Elvis Presley vendia sua música pela boa melodia, letra com conteúdo, bom gingado e uma moda impecável para aquele tempo. Hoje também olhamos para as novas gerações da cultura pop que tentam vender seu produto artístico com qualidade. Mas ainda há muito o que fazer.
Mas, sim, devemos divulgar o trabalho pela sua qualidade, esforço e competência do assunto abordado. Pela história contada. Somos contadores de histórias e não é de qualquer história. Não somos aqueles que contam as histórias só do ponto de vista de quem venceu, mas de quem lutou, vencendo ou não.
Por Dione Afonso | Jornalismo PUC Minas
Foto: Elvis Presley. Foto de Asklepios Wien por Pixabay
27 de agosto de 2020.