29 Mar
29Mar

L. C.: 

Quero me conter  

Porque se deixar acontecer  

Vou enlouquecer  

Pois é o que eu quero  

Ver  Mas não pode se fazer

Quero fugir dessa dimensão 


E cair na imensidão 

Desprender da solidão 

E me transbordar em paixão

É tudo tão pequeno 


Em tão pouco tempo 

Sem contento 

Desatento 

Descontento...


D. A.: 

Há dias que tenho me contido 

Tá tudo tão doído 

Sofrido 

Dolorido


Tenho me entregado à depressão 

Que não é nem solidão 

Mas insatisfação 

Obediência de servidão 

Exploração


Sinto-me como que sem rumo 

Às coisas têm saído do prumo 

Fora do mundo 

Imundo
O próprio universo se desinteressa 


Renega 

Atesta 

Afeta.


L. C.: 

Sofrido é o eu coração partido 

Depois de ter me expandido 

Me corrigido 

Me contido


Tudo que era unido 

Ficou repartido 

E se tornou repetido


Era colorido 

Era intensivo

Era sensitivo


Hoje tudo é iludido.


D. A.: 

Não foi minha intenção 

Usar dessa situação 

De traição


Fiquei sem reação 

Ação 

Atração


Tudo está separado 

Parado 

Estagnado 

Acabado?


L. C.: 

Acabado, isso não pode ser falado 

Porque seria abstrato 

Estagnado 

Atrapalhado 

Entediado.


D. A.: 

Cansado 

Fatigado 

Extasiado 

Desarmado 

Desamado 

Mascarado 

Subordinado 

E no fim eclipsado.


L. C.: 

Estou acabado 

Na alma acamado 

Desanimado 

Desencantado 

Amargurado 

Criticado.


D. A.: 

Não sei o que fazer com suas lembranças 

Tudo pra mim cheira a cobranças 

E quando vejo uso de arrogâncias


A vida veio me pregar um disfarce 

Tudo está transvestido de um disfarce 

Nem sei mais o que é real e o que é contraste


Cada vez mais tudo se revela um teatro 

A cortina arrogâncias e abre e nada é revelado 

Será que estou embriagado?


L. C.: 

Não sou adepta a mudanças 

Mas devido às minhas andanças 

Preciso de relevâncias


Talvez 

O perigo seja a insensatez 

A vivaz pequenez


O meu espaço 

É limitado 

E a infinidade 

Que habita aqui está em pedaços 

Como fiapos de um cadarço

Desamarrado 

Cabelo despenteado 

Cérebro, desnorteado ...


D. A.: 

Num mundo de Oz fiquei sem mente e sem perdão

Perdido na pedras douradas até o coração petrificou 

Bordado de esmeralda núcleo de safira 

Num mundo de magia onde o boneco de lata tornou-se amigo da concubina.


Delirei 

Me embriaguei 

A vodka me entreguei 

Sua vida sem abraçar fiquei.


L. C.: 

O perdão  

É algo do coração  

Que vive junto a emoção 

Que comoção!  


Na vida perdida 

Eu fui recebida 

E no delírio 

Eu fui entendida 

Sem medidas


Me equivoquei 

Me provoquei 

Não salvei 

Desconectei 

Me remediei 

Talvez arrependerei.


D. A.: 

Vivemos de arrependimentos 

Talvez precise coragem pra nos lançar mais vezes 

Sobrevivemos de entretenimentos 

Quando vemos estamos presos às redes


Virtuais? 

Sociais? 

Digitais? 

Banais? 

No cais? 

No rio, no ar, no fogo, no mar, nos ais? 

Reais


Preciso de um lugar 

Onde é possível desconectar 

Descobri que posso sozinho ficar 

Mas o mundo fica sem verdade e sem ar


Talvez eu devesse ter me apegado menos 

Amado menos 

Me importado menos 

Preocupado menos


Só assim eu não teria chorado demais 

Não estaria doendo demais 

Eu teria telefonado mais 

Não teria que me despedir 

O outro tendo que me ver partir 

E eu não conseguido mais sorrir...


D. A.: 

SUBÚRBIO 

Lutei contra todos e tudo 

Fugi pra algo que achava seguro. 

Me encolhi num mundo escuro. 

Longe das relações, encontrei-me no meu subúrbio.


Mesmo estando sujo. 

A paz foi meu refúgio. 

Mesmo não sendo meu tudo 

A solidão era meu porto meio turvo.


Não estaria eu imundo? 

Achando que estava no certo rumo? 

Que o relógio não ludibriaria meu mundo? 

Fazendo do universo o meu escudo?


Só sei que ali me acharam escuso 

Talvez um pouco moribundo. 

Por estar na sarjeta do oculto.

Na passarela do desuso.


Não me sinto obtuso 

Nem tão pouco multiuso 

De qualquer falha me acuso 

E da própria natureza me acuso.


L. C.:

Nem sempre da pra fugir  

Mesmo que a vontade não deixe de existir  

E queira foragir


Talvez a desistência seja 

O passo para a covardia 

Quem diria que um dia 

Eu aqui chegaria

É possível que a minha presteza


Seja pela minha natureza 

Que leveza!

Mas ainda,


Eu digo 

Minhas palavras esgotaram 

E eu não tenho mais o que dizer 

Estou apenas enrolando a você e a mim mesma.


D. A.:

Mas se eu tentar fugir 

Estaria eu negando a mim? 

Estaria eu desistindo? 

Estaria eu me extinguindo?


As vezes sinto que estou errado 

Por não aceitar o ponto fraco 

E assim fingir ser pesado 

O que nem deveria ser um fardo


Também me faltam palavras 

Também estou enrolando a gente 

Não sei se seriam águas passadas 

O que ainda está caminhando.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Por Lorena Cristina  |  Unifemm

Foto: Imagem de xmstms12 por Pixabay.

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.