L. C.:
Quero me conter
Porque se deixar acontecer
Vou enlouquecer
Pois é o que eu quero
Ver Mas não pode se fazer
Quero fugir dessa dimensão
E cair na imensidão
Desprender da solidão
E me transbordar em paixão
É tudo tão pequeno
Em tão pouco tempo
Sem contento
Desatento
Descontento...
D. A.:
Há dias que tenho me contido
Tá tudo tão doído
Sofrido
Dolorido
Tenho me entregado à depressão
Que não é nem solidão
Mas insatisfação
Obediência de servidão
Exploração
Sinto-me como que sem rumo
Às coisas têm saído do prumo
Fora do mundo
Imundo
O próprio universo se desinteressa
Renega
Atesta
Afeta.
L. C.:
Sofrido é o eu coração partido
Depois de ter me expandido
Me corrigido
Me contido
Tudo que era unido
Ficou repartido
E se tornou repetido
Era colorido
Era intensivo
Era sensitivo
Hoje tudo é iludido.
D. A.:
Não foi minha intenção
Usar dessa situação
De traição
Fiquei sem reação
Ação
Atração
Tudo está separado
Parado
Estagnado
Acabado?
L. C.:
Acabado, isso não pode ser falado
Porque seria abstrato
Estagnado
Atrapalhado
Entediado.
D. A.:
Cansado
Fatigado
Extasiado
Desarmado
Desamado
Mascarado
Subordinado
E no fim eclipsado.
L. C.:
Estou acabado
Na alma acamado
Desanimado
Desencantado
Amargurado
Criticado.
D. A.:
Não sei o que fazer com suas lembranças
Tudo pra mim cheira a cobranças
E quando vejo uso de arrogâncias
A vida veio me pregar um disfarce
Tudo está transvestido de um disfarce
Nem sei mais o que é real e o que é contraste
Cada vez mais tudo se revela um teatro
A cortina arrogâncias e abre e nada é revelado
Será que estou embriagado?
L. C.:
Não sou adepta a mudanças
Mas devido às minhas andanças
Preciso de relevâncias
Talvez
O perigo seja a insensatez
A vivaz pequenez
O meu espaço
É limitado
E a infinidade
Que habita aqui está em pedaços
Como fiapos de um cadarço
Desamarrado
Cabelo despenteado
Cérebro, desnorteado ...
D. A.:
Num mundo de Oz fiquei sem mente e sem perdão
Perdido na pedras douradas até o coração petrificou
Bordado de esmeralda núcleo de safira
Num mundo de magia onde o boneco de lata tornou-se amigo da concubina.
Delirei
Me embriaguei
A vodka me entreguei
Sua vida sem abraçar fiquei.
L. C.:
O perdão
É algo do coração
Que vive junto a emoção
Que comoção!
Na vida perdida
Eu fui recebida
E no delírio
Eu fui entendida
Sem medidas
Me equivoquei
Me provoquei
Não salvei
Desconectei
Me remediei
Talvez arrependerei.
D. A.:
Vivemos de arrependimentos
Talvez precise coragem pra nos lançar mais vezes
Sobrevivemos de entretenimentos
Quando vemos estamos presos às redes
Virtuais?
Sociais?
Digitais?
Banais?
No cais?
No rio, no ar, no fogo, no mar, nos ais?
Reais
Preciso de um lugar
Onde é possível desconectar
Descobri que posso sozinho ficar
Mas o mundo fica sem verdade e sem ar
Talvez eu devesse ter me apegado menos
Amado menos
Me importado menos
Preocupado menos
Só assim eu não teria chorado demais
Não estaria doendo demais
Eu teria telefonado mais
Não teria que me despedir
O outro tendo que me ver partir
E eu não conseguido mais sorrir...
D. A.:
SUBÚRBIO
Lutei contra todos e tudo
Fugi pra algo que achava seguro.
Me encolhi num mundo escuro.
Longe das relações, encontrei-me no meu subúrbio.
Mesmo estando sujo.
A paz foi meu refúgio.
Mesmo não sendo meu tudo
A solidão era meu porto meio turvo.
Não estaria eu imundo?
Achando que estava no certo rumo?
Que o relógio não ludibriaria meu mundo?
Fazendo do universo o meu escudo?
Só sei que ali me acharam escuso
Talvez um pouco moribundo.
Por estar na sarjeta do oculto.
Na passarela do desuso.
Não me sinto obtuso
Nem tão pouco multiuso
De qualquer falha me acuso
E da própria natureza me acuso.
L. C.:
Nem sempre da pra fugir
Mesmo que a vontade não deixe de existir
E queira foragir
Talvez a desistência seja
O passo para a covardia
Quem diria que um dia
Eu aqui chegaria
É possível que a minha presteza
Seja pela minha natureza
Que leveza!
Mas ainda,
Eu digo
Minhas palavras esgotaram
E eu não tenho mais o que dizer
Estou apenas enrolando a você e a mim mesma.
D. A.:
Mas se eu tentar fugir
Estaria eu negando a mim?
Estaria eu desistindo?
Estaria eu me extinguindo?
As vezes sinto que estou errado
Por não aceitar o ponto fraco
E assim fingir ser pesado
O que nem deveria ser um fardo
Também me faltam palavras
Também estou enrolando a gente
Não sei se seriam águas passadas
O que ainda está caminhando.
Por Dione Afonso | PUC Minas
Por Lorena Cristina | Unifemm
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