D. A.:
Mais uma vez vomito palavras sob o céu turvo
Passei 500 anos te procurando
Não sei se me alegro por sua existência
Ou se lamento por você não ter morrido 198 anos não são perdoáveis numa única noite
Talvez nem pela eternidade
Você me abandonou
Não olhou nem no meu rosto
Desprezou como um saco de lixo
O que sente agora?
Culpa?
Arrependimento?
Remorso?
Ou dor?
Esse seu lamento é piegas
Desnecessário esse seu importar
Vives em outro continente
Será que foges das pegadas que deixou?
Aqui vive o seu DNA
E não passa disso
É só o que terá
Não venha me pedir perdão
Se tu não quis se autoperdoar
Esse sentimento de culpa não carrego
Porque eu sobrevivi à sua negação
Encontrei quem aceitou e me deu a mão
Me deu o sobrenome
E me ajudou a vencer a solidão
Não tente repor o que não existiu
São anos demais pra pôr num barril
Que hoje o barro não suporta mais
L. C.:
Depois da fúria eloquente
Vem a conformidade
Que por sua vez
Acompanhada de aceitação
Nenhuma melhora foi aderida
Apenas aceitei
Deixei os meus valores de lado
E até mesmo deixei de querer
Estou bem assim
E me afundo nisso o máximo que posso
E eu estou aceitando
E não quero que ninguém me tire daqui
Está suficiente
Ademais
Percebi que por mais que eu implore por algo grandioso
O grande é o aqui e o agora
Tudo o que está havendo
Até porque para algo mais teria de amadurecer arduamente
Não estamos falando de valores
Então jogue-os de lado
Esqueça as ideias da sua cabeça
Não leve em consideração quem está ao seu lado
Pense apenas no que sente
Talvez seja egoísmo sim
E afunde nesse egoísmo
Até se sucumbir num abismo.
L. C.:
Você me modificou
Me viciou
Mas não me curou
Porque faz isso
Se não pode sustentar o meu vício?
Que desperdício!
Não me prenda
A menos que me surpreenda
Me contenta, me ostenta...
D. A.:
Você morreu e voltou à vida
Eu te salvei, não tive outra saída
Hoje está diferente, morta-viva
Agora suas emoções foram ampliadas
Vai ter que aprender a lidar e a controlar
Ou vai sucumbir e se deixar levar
A humanidade não faz mais parte de nós
Mas não te prendo, siga sua voz
Só quero dizer que se você não conseguir
Não estará só!
L. C.:
Como lidar
Como suportar
Como abordar?
Tudo o que eu sinto está incumbido
Sucumbido
Foragido
Ninguém saberá
Alguém ainda exclamará
Mas não parará
Não me dê a mão
Com a intenção de me tirar o chão
Não me estenda a mão
Se logo me der um empurrão.
D. A.:
Ninguém precisa saber dos seus sentimentos
São seus, cada pensamento
Incumbência, fulgência, ardência
Coisas de sua cabeça
Faz sentido somente pra ti
Não é no empurrão que aprendemos a andar?
Não é no abandono que nos fortalecemos
E aprendemos a odiar e a amar?
A escolher e abandonar?
Darei a mão a você
Mas você não é mais uma criança
Saberá caminhar na hora certa
E eu reconhecerei a hora de te deixar ir
O pior fui eu que quando criança
Não tive uma mão que me ensinasse
Aprendi na marra
E hoje carrego marcas jamais cicatrizadas.
L. C.:
Não seja impertinente
Insolente,
Sua alma é mais vergonhosa
Do que o próprio corpo despido
Nem o silêncio pode contê-lo
Uma vez que seus olhos já dizem por si
Meus sentimentos são como pedras amarradas numa trouxa
Presa de maneira frouxa
Que levo pra onde Deus mandar.
D. A.:
Impertinente?
Seria impertinência chorar por uma ausência paterna?
Gritar de dor quando a porta foi batida na sua cara
E ele nem quis saber daquela bem-amada?
Ela estava com a criança nos braços
Toda feliz por carregar um pedacinho de si
Mas ele não quis, não a ouviu, desprezou
Disse ser pra sua vida um atraso
E a criança assim ficou
Sendo lançada de cidade a cidade
Com sua mãe guerreira
Não tendo a vida que sonhou
Cheguei na Cidade Maravilhosa com ela
Ali, ela construiu seu mundo
Não se acovardou ao trabalho pesado
Eu a vi como minha Cinderela
Tivemos a bruxa má
Mas tivemos também a Fada Madrinha
Hoje ela vive na Serra dos Órgãos
E reza por mim todos os dias.
L. C.:
Não saberia dizer
Tampouco o que fazer
Minha vinda ao mundo, foi,
Contudo, um acidente
Tive boa aceitação
Mas não era pra ser aquele dia, aquela hora...
O atrasos não são um alguém
Isso pode fazer mal a ninguém
Você é homem
Adulto
Ainda que aguente tudo isso
A vida é mais que isso
As cruzes foram feitas para serem carregadas
E as dores são os espinhos da coroa.
D. A.:
E hoje estamos aqui
Com direito de ir e vir
Fazemos os outros sorrir
E tentamos consolar aquele que tenta fugir
Sou homem
E você é uma mulher
Formada
Diria até privilegiada
A família ainda é tudo o que temos
Estão conosco mesmo em casos extremos
Mesmo puxando nossa orelha
Não nos abandona
Aconselha
Ela é minha âncora
Porto seguro
Minha razão de existir
Não saberia como seria
Quando ela decidir partir
Mas isso são cenas de um capítulo futuro
Espero que dure o suficiente
Carrego sim as cruzes que me são cobradas
Os espinhos por vezes maltratam minha alma
Mas sigo forte em busca da Bem-Amada.
L. C.:
Família são valores enraizados
Mas quando crescemos não podemos abranger elos em sua totalidade
São como sapatos
Usamos até quando nos servem
A vida é uma história mal contada
Os espinhos existem
Na coroa fixada em minha cabeça
E estes são Mais difíceis que o peso da cruz
Mas ei de carrega-la “Se a vida é uma guerra, é meu destino combate-la sozinha”.
D. A.:
Vivo na intensidade
Na crueldade
Na individualidade
Mas me falta originalidade
Sobrevivo aos meus vícios
À vulgaridade
Aos desenfreados e devaneios
Atos da puberdade
Bato e apanho como o coração
Porque vivo desistindo e recomeçando
Uma hora o tempo vai virar-se contra mim
E me jogar por caminhos desconhecidos
Morro!
D. A.:
Rebuscado?
“Robuscado”?
Ou Rabiscado?
Por Dione Afonso | PUC Minas
Por Lorena Cristina | Unifemm
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