29 Mar
29Mar

D. A.:

Mais uma vez vomito palavras sob o céu turvo 

Passei 500 anos te procurando 

Não sei se me alegro por sua existência 

Ou se lamento por você não ter morrido 198 anos não são perdoáveis numa única noite 

Talvez nem pela eternidade 

Você me abandonou 

Não olhou nem no meu rosto 

Desprezou como um saco de lixo 

O que sente agora? 

Culpa? 

Arrependimento? 

Remorso? 

Ou dor? 

Esse seu lamento é piegas 

Desnecessário esse seu importar 

Vives em outro continente 

Será que foges das pegadas que deixou? 

Aqui vive o seu DNA 

E não passa disso 

É só o que terá 

Não venha me pedir perdão 

Se tu não quis se autoperdoar 

Esse sentimento de culpa não carrego 

Porque eu sobrevivi à sua negação 

Encontrei quem aceitou e me deu a mão 

Me deu o sobrenome 

E me ajudou a vencer a solidão 

Não tente repor o que não existiu 

São anos demais pra pôr num barril 

Que hoje o barro não suporta mais


L. C.:

Depois da fúria eloquente 

Vem a conformidade 

Que por sua vez 

Acompanhada de aceitação 

Nenhuma melhora foi aderida 

Apenas aceitei 

Deixei os meus valores de lado 

E até mesmo deixei de querer 

Estou bem assim 

E me afundo nisso o máximo que posso

E eu estou aceitando 

E não quero que ninguém me tire daqui 

Está suficiente 

Ademais 

Percebi que por mais que eu implore por algo grandioso 

O grande é o aqui e o agora 

Tudo o que está havendo 

Até porque para algo mais teria de amadurecer arduamente 

Não estamos falando de valores 

Então jogue-os de lado 

Esqueça as ideias da sua cabeça 

Não leve em consideração quem está ao seu lado 

Pense apenas no que sente 

Talvez seja egoísmo sim 

E afunde nesse egoísmo 

Até se sucumbir num abismo.


L. C.:

Você me modificou 

Me viciou 

Mas não me curou


Porque faz isso 

Se não pode sustentar o meu vício? 

Que desperdício!


Não me prenda 

A menos que me surpreenda 

Me contenta, me ostenta...


D. A.:

Você morreu e voltou à vida 

Eu te salvei, não tive outra saída 

Hoje está diferente, morta-viva


Agora suas emoções foram ampliadas 

Vai ter que aprender a lidar e a controlar 

Ou vai sucumbir e se deixar levar


A humanidade não faz mais parte de nós 

Mas não te prendo, siga sua voz 

Só quero dizer que se você não conseguir 

Não estará só!


L. C.:

Como lidar 

Como suportar 

Como abordar?


Tudo o que eu sinto está incumbido 

Sucumbido 

Foragido


Ninguém saberá 

Alguém ainda exclamará 

Mas não parará


Não me dê a mão 

Com a intenção de me tirar o chão 

Não me estenda a mão 

Se logo me der um empurrão.


D. A.:

Ninguém precisa saber dos seus sentimentos 

São seus, cada pensamento


Incumbência, fulgência, ardência 

Coisas de sua cabeça 

Faz sentido somente pra ti 


Não é no empurrão que aprendemos a andar? 

Não é no abandono que nos fortalecemos 

E aprendemos a odiar e a amar? 

A escolher e abandonar?


Darei a mão a você 

Mas você não é mais uma criança 

Saberá caminhar na hora certa 

E eu reconhecerei a hora de te deixar ir


O pior fui eu que quando criança 

Não tive uma mão que me ensinasse 

Aprendi na marra 

E hoje carrego marcas jamais cicatrizadas.


L. C.:

Não seja impertinente 

Insolente, 

Sua alma é mais vergonhosa 

Do que o próprio corpo despido


Nem o silêncio pode contê-lo 

Uma vez que seus olhos já dizem por si 

Meus sentimentos são como pedras amarradas numa trouxa 

Presa de maneira frouxa 

Que levo pra onde Deus mandar.


D. A.:

Impertinente? 

Seria impertinência chorar por uma ausência paterna? 

Gritar de dor quando a porta foi batida na sua cara 

E ele nem quis saber daquela bem-amada?


Ela estava com a criança nos braços 

Toda feliz por carregar um pedacinho de si 

Mas ele não quis, não a ouviu, desprezou 

Disse ser pra sua vida um atraso


E a criança assim ficou 

Sendo lançada de cidade a cidade 

Com sua mãe guerreira 

Não tendo a vida que sonhou


Cheguei na Cidade Maravilhosa com ela 

Ali, ela construiu seu mundo 

Não se acovardou ao trabalho pesado 

Eu a vi como minha Cinderela


Tivemos a bruxa má 

Mas tivemos também a Fada Madrinha 

Hoje ela vive na Serra dos Órgãos 

E reza por mim todos os dias.


L. C.:

Não saberia dizer 

Tampouco o que fazer 

Minha vinda ao mundo, foi, 

Contudo, um acidente 

Tive boa aceitação 

Mas não era pra ser aquele dia, aquela hora...


O atrasos não são um alguém 

Isso pode fazer mal a ninguém


Você é homem 

Adulto 

Ainda que aguente tudo isso


A vida é mais que isso 

As cruzes foram feitas para serem carregadas 

E as dores são os espinhos da coroa.


D. A.:

E hoje estamos aqui 

Com direito de ir e vir 

Fazemos os outros sorrir 

E tentamos consolar aquele que tenta fugir


Sou homem 

E você é uma mulher 

Formada 

Diria até privilegiada 

A família ainda é tudo o que temos 

Estão conosco mesmo em casos extremos 

Mesmo puxando nossa orelha 

Não nos abandona 

Aconselha


Ela é minha âncora 

Porto seguro 

Minha razão de existir 

Não saberia como seria 

Quando ela decidir partir


Mas isso são cenas de um capítulo futuro 

Espero que dure o suficiente 

Carrego sim as cruzes que me são cobradas 

Os espinhos por vezes maltratam minha alma 

Mas sigo forte em busca da Bem-Amada.


L. C.:

Família são valores enraizados 

Mas quando crescemos não podemos abranger elos em sua totalidade 

São como sapatos 

Usamos até quando nos servem 

A vida é uma história mal contada 

Os espinhos existem 

Na coroa fixada em minha cabeça 

E estes são Mais difíceis que o peso da cruz 

Mas ei de carrega-la “Se a vida é uma guerra, é meu destino combate-la sozinha”.


D. A.:

Vivo na intensidade 

Na crueldade 

Na individualidade 

Mas me falta originalidade


Sobrevivo aos meus vícios 

À vulgaridade 

Aos desenfreados e devaneios

Atos da puberdade


Bato e apanho como o coração 

Porque vivo desistindo e recomeçando 

Uma hora o tempo vai virar-se contra mim 

E me jogar por caminhos desconhecidos


Morro!


D. A.:

Rebuscado? 

Robuscado”?

Ou Rabiscado?





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Por Lorena Cristina  |  Unifemm

Foto: Imagem de tjg_3d por Pixabay. 

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