D. A.:
A gente se intoxica de palavras e sentimentos.
De maldade e de momentos.
De raiva e de revestimentos.
Esses venenos eu jamais quero deixar de ter.
Quero me intoxicar, endoidar desse veneno.
Sair de mim.
L. C.:
Todos os dias ao acordar
Transbordo veneno
Aspiro, respiro transpiro
Todo o veneno de uma vida insana
Algo que jamais perderei
Faz parte de mim
Que me tirem o chão Só não tirem o meu veneno
E isso não me faz venenosa
Apenas ....tirana
D. A.:
Nossas presas sugam as mentes daqueles que não são estruturalmente preparados
Pra nos ler tem que ser muito fortes.
Senão será corroído pelo veneno de nossos sentimentos
Pra entender terá que morrer e nascer de novo.
E nunca entenderá
Será como poeira no deserto
Como Aladdin em busca da lâmpada mágica
Só entra quem tem coração
L. C.:
Na verdade
Quem nos ler
Antes de ser devorados
Mergulhará numa profunda dúvida
Pois somos incompreensíveis
Nem nós mesmos nos entendemos
Ainda bem
Não quero me entender
E se alguém se atrever a me descobrir
Eu fujo de mim
Gosto de ser presa
De ser resgatada
Estudada
Ouvida
Jamais entendida
D. A.:
Somos a raça fogo fúria e paixão
Somos o Apocalipse
Do mundo a solução
Somos os renomados
Os consagrados
A raça pura Indecifrável
Somos os deuses do Olimpo
Terra água fogo e a
Tempestade furacão
O recomeço
L. C.:
Somos a lua
Somos as estrelas
A destruição
A ressurreição
Algo jamais visto no século
Quem nos consome é o tempo
O que promete
É só a vitória
A tempestade não é a chuva nervosa
Mas o rugir dos corações...
D. A.:
Sou Meireles, Drummond, Pessoa
Sou Shakespeare, Grimm e Rowling
Sou mistura e homogeneidade
Sou loucura e intimidade
Sou tímido e pervertido
Decidido e indeciso
Cristão e pagão
Cachaça e água com sabão.
L. C.:
A sua timidez está escorrida na sua cara
Quem acreditava
Que com o tempo sua preguiça acabava
A mistura que você diz na verdade é apenas você
E o que você faz alusão
É apenas sua emoção abundante
Despida, introvertida
Recebida.
D. A.:
Que atrevida
Sua bandida
Sua intimidade intimida
Vagabunda destemida.
L. C.:
Não tenho papas na língua
Quem me conhece
Se reconhece
Se entorpece
Se estremece.
D. A.:
És entorpecente
Sou cobaia consciente
Faça os experimentos que desejar
Só não deixe de me usar
Me faça útil pra sua ciência
Não se prenda ao coerente
Só faça ser atraente
Diferente
Permanente.
L. C.:
Você pede
Mais uma dose
Uma gota
De tudo isso que sou
Que o tornou
Que se formou
Mesmo incoerente
Se faz exigente
Talvez não permanente
Mas enquanto sobrevivente.
D. A.:
Dentro do vulcão sinto frio
Dentro da cachoeira estou seco
Bebo e tenho sede
Me alimento e tenho fome
Sim
Sou sobrevivente nesta terra
Onde tudo se manifesta
Onde a gente faz nossa deste escreve a seresta.
L. C.:
AMOR E AMIGO:
Tenho um amor
Que na verdade é uma paixão
Nem sempre me escuta
Nem sempre é entende que doente
Mas para isso eu tenho um amigo
Que querido
No meu coração se torna inquilino.
D. A.:
Amor de aluguel
Amigo de motel
Amante de bordel
Paixão amiga
Amor bandido
Eu lhe amo minha parceira
Que mesmo quando o dia nada produz
Você foi o fruto derradeiro.
Por Dione Afonso | PUC Minas
Por Lorena Cristina | Unifemm
Foto: Imagem de Susanne Jutzeler, suju-foto por Pixabay