D.A.:
O PINTOR
Ele é agonia
Está sentindo muita dor
Está desesperado
Com medo de ficar sozinho
Medo da solidão
Ele é a melancolia
Sobre a tela as cores turvas da soberania
Parece um Vampiro que domina o outro
Mas não o conquista
Só o escraviza
Não sabe amar, não conhece o amor
Não entende
Tem medo de amar
Tem medo de sentir
Vislumbra a lua cheia e se sente solitário
Olha para a noite e percebe-se só
Não tem nada e nem ninguém
Mas ao mesmo tempo ele constrói
Nem que seja por hipnose
Por persuasão
Ele está lutando com seus demônios
Quer dominá-los e não ser escravo deles
Ele tem seus dragões
Seu inferno
Seus Lobisomens
Mas o que ele quer
É o caçador
Esse é viril, indomável, intocável
Incontrolável
Esse é um
Estéril
Noturno
De vampiro a lobisomen
Caço aquele que me serve
Não aquele que me ama
De demônio ele já está farto
E o amor só tem valor se me for útil
Controlável.
L.C.:
A agonia é flor dos meus dias
O desespero me contamina me alucina
Não sou de ninguém, nem mesmo das ruas
Sou das matas, das árvores e dos pássaros
Os ventos contrários são o que me regozija
Feliz infeliz
Pecador ambulante
Mato a sede com o próprio veneno
E me seco pelo egoísmo
A cegueira me cobriu com seu manto
E não tenho outra visão a não ser esta, a mesma que me dá sede de viver
Vida pobre, pobre vida
Apenas a necessidade
Sobrevivendo.
Estou bem, não se preocupe
Não surpreenda se eu soluçar
Minha mãe diz que a vida é muito dura,
E sim, quando quebra, se parte mil pedaços o coração.
Lua cheia, pupilas dilatam, correndo até chegar a algum lugar.
D.A.:
Hoje eu não estou nos meus melhores dias
Vivo num luto comedido
Uma vida dolorida
Num cimento derretido
Perdoe-me se não seguro a dor
Vivo como se eu tivesse partido
Não tem como se explicar o ocorrido
Só sei que assim encerrou o dia daquele indivíduo.
L.C.:
Como esquecer
Alguém que foi para mim
Como uma mãe
Nos seus braços me carregou
Desde o meu primeiro mês de vida
Hoje ao meu lado não estás
E sinto tanto por isso
Na verdade ainda está, mas não a sua matéria bruta
Ainda ouço suas risadas
Ainda lembro sua fisionomia
Fazem três anos de sua ausência
Mas parece que são três dias
Noites doloridas...
D.A.:
Noites doloridas e dia interminável.
Perdi alguém que foi uma âncora para mim
Ganhei uma liberdade cedo demais
Cresci rápido demais
Não estava pronto pra sua partida
Mas você se foi e nem me deixou me despedir
Agora estou eu aqui com uma vaga lembrança
E não sei o que fazer com ela.
L.C.:
O tempo passa tão depressa
Mal posso acreditar
Seria eu imaturo o bastante para não aproveitar o que a vida da?
Você nos deixou no abismo
Foi tirado de seu ventre a sua luz interior, você foi golpeada
Por tanto sofrer você também não resistiu e foi a procura de um alívio
Nos deixou a sós
O que vamos fazer agora
Se existe um sinal...mandai-o!Não nos castigue mais
Tudo foi possível, até mesmo te ver indo embora aos poucos
Só não é possível que volte mais.
D.A.:
Sinto falta do seu café
Tento refazer a minha fé
Hoje consegui ir em frente
Mas esqueci
Não dá pra esquecer
Sua ausência é presença
É alegria porque me fez crescer.
L.C.:
Alegria era quando estava aqui
A gargalhar conosco
Não dá pra lembrar sem uma lágrima soltar
Não dá pra imaginar sem se cansar
Mil dúvidas passam em minha mente
Porque tão jovem?
Porque aquela hora?
Porque você?
Doce e amada titia.
D.A.:
Por que me machucas desse jeito?
Por que ser essa agulha que me fura o coração e que rasga minhas veias?
Por que?
Por que não para com essa dor?
Por que não me deixa viver?
Por que?
Por que não para?
Por que não me mata?
Para?
Sai daqui!
L.C.:
Continua na minha mente
Porque não me responde quando eu chamo?
Sei que me escutas, mas não fala nada!Os olhos mantêm fechados
Mas continua aí dentro eu sei que sim,
Não me diga que antes era corpo e alma e agora só alma
Não nasci pra perder
Ainda que é já me acostumaste com isso
Porque perder alguém
Se veio pra ficar porque veio?
Deixe de existir agora, ou não me faça sofrer
Não habite mais em mim.Isso foi tudo um sonho e você não vai ser uma lembrança pra mim.
D.A.:
A boca não fala
Me obrigaram a me calar
Os olhos não veem
Me fizeram cerrar
Não sinto
Não penso
Não pego
Me sequestraram
Me impediram
Me amordaçaram
Fizeram de mim um nada
Tudo isso porque tudo se foi
Partiu
Apagou
Meu coração chorou
L.C.:
Você é responsável por suas ações
Não venha se vitimar por isso
Ninguém faz aquilo que você não permite a você mesmo
Se imponha
Se coloque
Se mostre
Levante e limpe seus joelhos
Não ande descalço sobre o pedregulho
Tire a farpa da mão
E fale firme e em bom som
Você é dono de si mesmo e isso ninguém te tira
D.A.:
Sabe aquele sinal de esperança no horizonte?
Sabe aquele gesto que nos faz erguer todos os dias?
Sabe aquela luz que te aquece?
Sabe aquela voz que estremece?
Aquele sorriso que enriquece?
Aqueles olhos que perfuram a alma?
Aquela presença que transforma?
Aquele conselho que modera?
Aquela briga que corrige?
Tudo isso
Tudo isso é o que mantém de pé.
Porque isso não se foi
Permanece com você
Onde você estiver
E eu?
Seu eterno aprendiz
E professor
Dos que virão.....
L.C.:
Tudo é elemento
Todo o resquício de pó
Toda folha caída
Toda a natureza
Faz parte de mim
E toda a minha história me traz um aprendizado
Que nem mil livros me ensinariam
Eu sou terna e grata
D.A.:
Ausência
Presença e essência
Dor
Exercício da mente
Choro
Lamento dos olhos
Saudade
Amizade eterna
L.C.:
Todos os dias
O sacrifício
Cada dia o "ofício"
A ressuscitar e restaurar me
Desde o latente
Até a velhice
Apenas um fundamento
Arder intensamente
Quem mais sente
É quem mais sofre
Pessoas iluminadas
São as que passam por mais provações
D.A.:
A provação te liberta e fortalece
A privação te enfraquece e prende
A prevenção te equilibra e rejuvenesce
L.C.:
A queixa permanece
A inteligência carece
A passagem fornece
Sensibilidade resplandece
D.A.:
A morte é uma estrutura que não conhecemos
Nossa estrutura não suporta toda a construção
Um evento que chega sem planejamento
E que abala até a sua fundação
A morte é um prédio de muitos andares
Em cada andar habita uma geração
Silva, Rodrigues, Obolari
Entrelaçando os genes em cada gestação
A chamam de passagem
A chamam de fim
A chamam de crueldade
A chamam de jardim
Dizem que é um outro lado
Como se uma porta se abrisse
E que a chave surge de ocasos
E o caminho nunca é a mesmice
Oh, morte!
O que tu és?
Aliada ou maldição?
Amiga ou inimiga?
Irmã ou traição?
Tu morte
É a sina, a separação, a autonomia, a conclusão
Tu e a decisão
A maturidade e a solução.
L.C.:
A morte pode ser amiga ou inimiga
Compreendida ou desentendida
Está que chega avassaladora
Dilacerando
O que é a morte?
Não é ausência de vida
Mas vida não vivida
É desperdício de tempo
É solidão que dói por dentro
Morte é dor de amor não correspondido
É sinal que arde ferido
É partida sem despedida
Morte é a felicidade do ontem que não habita mais aqui
D.A.:
O que habita
Há vida
Varrida, vivida e não dita
O que há vida, habita em mim!
L.C.:
O que habita em mim
Não diz
Grita, ruge
Sai pelos olhos
Transpira pela pele
Domina, fascina
Dopamina, citosina
Cora Coralina
Vida que alucina
L.C.:
LUTO DA AMIZADE
Todos os dias me lembro
Daquelas amizades, aquelas que formávamos trio
As mesmas que pisaram em mim
Ainda que eu voltasse atrás
Não adiantaria
Pois a amizade que está ali, está morta
Continuamente consigo me manter estagnada,mas em meio a devaneios me bate o desespero e quero recorrer
Eu quero tanto abraçar e sorrir de novo
Por favor, não rejeite os meus sentimentos
Eu só venho pra reconciliar
Vamos esquecer tudo que passou
E não voltar a ser como antes
Mas diferente de antes...
D.A.:
Perdi tudo o que escrevemos
L.C.:
AaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaEu não posso lidar
D.A.:
Eu chorei de verdade Lorena
L.C.:
Até eu aqui
Escrevi esse poema pra poder desabafar e você me vem com essa
D.A.:
Depois dessa tudo morre pra mim
Até mesmo a inspiração
Só me vem o martírio
O preço a se pagar
É alto demais
Carregar essa culpa
É a sina de quem não sabe se autoperdoar
Mas que só se machuca
Perdão
Perdão por minha distração
L.C.:
Vou dar um jeito de salvar e sei lá talvez te mandar depois
D.A.:
Não consigo mais escrever há depois dessa
Perdão
L.C.:
Não leve a perda a sério
Mesmo que hoje seja dia de luto
Não torne o seu dia uma morte
E nem este momento uma luta
Tudo isso é matéria
Que vai com o tempo
Isto está no seu coração
Não deixe que isso morra
Por Dione Afonso | PUC Minas
Por Lorena Cristina | Unifemm
Foto: Imagem de Stefan Keller por Pixabay.