29 Mar
29Mar

D.A.:

O PINTOR
Ele é agonia

Está sentindo muita dor

Está desesperado

Com medo de ficar sozinho

Medo da solidão

Ele é a melancolia

Sobre a tela as cores turvas da soberania

Parece um Vampiro que domina o outro

Mas não o conquista

Só o escraviza

Não sabe amar, não conhece o amor

Não entende

Tem medo de amar

Tem medo de sentir

Vislumbra a lua cheia e se sente solitário

Olha para a noite e percebe-se só

Não tem nada e nem ninguém

Mas ao mesmo tempo ele constrói

Nem que seja por hipnose

Por persuasão

Ele está lutando com seus demônios

Quer dominá-los e não ser escravo deles

Ele tem seus dragões

Seu inferno

Seus Lobisomens

Mas o que ele quer

É o caçador

Esse é viril, indomável, intocável

Incontrolável

Esse é um

Estéril

Noturno

De vampiro a lobisomen

Caço aquele que me serve

Não aquele que me ama

De demônio ele já está farto

E o amor só tem valor se me for útil

Controlável.



L.C.:

A agonia é flor dos meus dias

O desespero me contamina me alucina

Não sou de ninguém, nem mesmo das ruas

Sou das matas, das árvores e dos pássaros

Os ventos contrários são o que me regozija

Feliz infeliz

Pecador ambulante

Mato a sede com o próprio veneno

E me seco pelo egoísmo

A cegueira me cobriu com seu manto

E não tenho outra visão a não ser esta, a mesma que me dá sede de viver


Vida pobre, pobre vida

Apenas a necessidade

Sobrevivendo.


Estou bem, não se preocupe

Não surpreenda se eu soluçar

Minha mãe diz que a vida é muito dura,

E sim, quando quebra, se parte mil pedaços o coração.


Lua cheia, pupilas dilatam, correndo até chegar a algum lugar.


D.A.:

Hoje eu não estou nos meus melhores dias

Vivo num luto comedido

Uma vida dolorida

Num cimento derretido

Perdoe-me se não seguro a dor

Vivo como se eu tivesse partido

Não tem como se explicar o ocorrido

Só sei que assim encerrou o dia daquele indivíduo.


L.C.:

Como esquecer

Alguém que foi para mim

Como uma mãe

Nos seus braços me carregou

Desde o meu primeiro mês de vida

Hoje ao meu lado não estás

E sinto tanto por isso

Na verdade ainda está, mas não a sua matéria bruta

Ainda ouço suas risadas

Ainda lembro sua fisionomia

Fazem três anos de sua ausência

Mas parece que são três dias

Noites doloridas...


D.A.:

Noites doloridas e dia interminável.

Perdi alguém que foi uma âncora para mim

Ganhei uma liberdade cedo demais

Cresci rápido demais

Não estava pronto pra sua partida

Mas você se foi e nem me deixou me despedir

Agora estou eu aqui com uma vaga lembrança

E não sei o que fazer com ela.


L.C.:

O tempo passa tão depressa

Mal posso acreditar

Seria eu imaturo o bastante para não aproveitar o que a vida da?

Você nos deixou no abismo

Foi tirado de seu ventre a sua luz interior, você foi golpeada

Por tanto sofrer você também não resistiu e foi a procura de um alívio

Nos deixou a sós

O que vamos fazer agora

Se existe um sinal...mandai-o!Não nos castigue mais

Tudo foi possível, até mesmo te ver indo embora aos poucos

Só não é possível que volte mais.



D.A.:

Sinto falta do seu café

Tento refazer a minha fé

Hoje consegui ir em frente

Mas esqueci

Não dá pra esquecer

Sua ausência é presença

É alegria porque me fez crescer.


L.C.:

Alegria era quando estava aqui

A gargalhar conosco

Não dá pra lembrar sem uma lágrima soltar

Não dá pra imaginar sem se cansar

Mil dúvidas passam em minha mente

Porque tão jovem?

Porque aquela hora?

Porque você?

Doce e amada titia.


D.A.:

Por que me machucas desse jeito?

Por que ser essa agulha que me fura o coração e que rasga minhas veias?

Por que?

Por que não para com essa dor?

Por que não me deixa viver?

Por que?

Por que não para?

Por que não me mata?

Para?

Sai daqui!


L.C.:

Continua na minha mente

Porque não me responde quando eu chamo?

Sei que me escutas, mas não fala nada!Os olhos mantêm fechados

Mas continua aí dentro eu sei que sim,

Não me diga que antes era corpo e alma e agora só alma

Não nasci pra perder

Ainda que é já me acostumaste com isso

Porque perder alguém

Se veio pra ficar porque veio?

Deixe de existir agora, ou não me faça sofrer

Não habite mais em mim.Isso foi tudo um sonho e você não vai ser uma lembrança pra mim.


D.A.:

A boca não fala

Me obrigaram a me calar

Os olhos não veem

Me fizeram cerrar

Não sinto

Não penso

Não pego

Me sequestraram

Me impediram

Me amordaçaram

Fizeram de mim um nada

Tudo isso porque tudo se foi

Partiu

Apagou

Meu coração chorou


L.C.:

Você é responsável por suas ações

Não venha se vitimar por isso

Ninguém faz aquilo que você não permite a você mesmo

Se imponha

Se coloque

Se mostre

Levante e limpe seus joelhos

Não ande descalço sobre o pedregulho

Tire a farpa da mão

E fale firme e em bom som

Você é dono de si mesmo e isso ninguém te tira


D.A.:


Sabe aquele sinal de esperança no horizonte?

Sabe aquele gesto que nos faz erguer todos os dias?

Sabe aquela luz que te aquece?

Sabe aquela voz que estremece?

Aquele sorriso que enriquece?

Aqueles olhos que perfuram a alma?

Aquela presença que transforma?

Aquele conselho que modera?

Aquela briga que corrige?

Tudo isso

Tudo isso é o que mantém de pé.

Porque isso não se foi

Permanece com você

Onde você estiver

E eu?

Seu eterno aprendiz

E professor

Dos que virão.....


L.C.:


Tudo é elemento

Todo o resquício de pó

Toda folha caída

Toda a natureza

Faz parte de mim

E toda a minha história me traz um aprendizado

Que nem mil livros me ensinariam

Eu sou terna e grata


D.A.:

Ausência

Presença e essência

Dor

Exercício da mente

Choro

Lamento dos olhos

Saudade

Amizade eterna


L.C.:

Todos os dias

O sacrifício

Cada dia o "ofício"

A ressuscitar e restaurar me

Desde o latente

Até a velhice

Apenas um fundamento

Arder intensamente

Quem mais sente

É quem mais sofre

Pessoas iluminadas

São as que passam por mais provações


D.A.:

A provação te liberta e fortalece

A privação te enfraquece e prende

A prevenção te equilibra e rejuvenesce


L.C.:

A queixa permanece

A inteligência carece

A passagem fornece

Sensibilidade resplandece


D.A.:

A morte é uma estrutura que não conhecemos

Nossa estrutura não suporta toda a construção

Um evento que chega sem planejamento

E que abala até a sua fundação


A morte é um prédio de muitos andares

Em cada andar habita uma geração

Silva, Rodrigues, Obolari

Entrelaçando os genes em cada gestação


A chamam de passagem

A chamam de fim

A chamam de crueldade

A chamam de jardim


Dizem que é um outro lado

Como se uma porta se abrisse

E que a chave surge de ocasos

E o caminho nunca é a mesmice


Oh, morte!

O que tu és?

Aliada ou maldição?

Amiga ou inimiga?

Irmã ou traição?

Tu morte

É a sina, a separação, a autonomia, a conclusão

Tu e a decisão

A maturidade e a solução.


L.C.:

A morte pode ser amiga ou inimiga

Compreendida ou desentendida


Está que chega avassaladora

Dilacerando


O que é a morte?

Não é ausência de vida

Mas vida não vivida

É desperdício de tempo

É solidão que dói por dentro


Morte é dor de amor não correspondido

É sinal que arde ferido

É partida sem despedida


Morte é a felicidade do ontem que não habita mais aqui


D.A.:

O que habita

Há vida

Varrida, vivida e não dita

O que há vida, habita em mim!


L.C.:

O que habita em mim

Não diz

Grita, ruge

Sai pelos olhos

Transpira pela pele

Domina, fascina

Dopamina, citosina

Cora Coralina

Vida que alucina


L.C.:

LUTO DA AMIZADE

Todos os dias me lembro

Daquelas amizades, aquelas que formávamos trio

As mesmas que pisaram em mim

Ainda que eu voltasse atrás

Não adiantaria

Pois a amizade que está ali, está morta

Continuamente consigo me manter estagnada,mas em meio a devaneios me bate o desespero e quero recorrer

Eu quero tanto abraçar e sorrir de novo

Por favor, não rejeite os meus sentimentos

Eu só venho pra reconciliar

Vamos esquecer tudo que passou

E não voltar a ser como antes

Mas diferente de antes...


D.A.:

Perdi tudo o que escrevemos


L.C.:

AaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaEu não posso lidar


D.A.:

Eu chorei de verdade Lorena


L.C.:

Até eu aqui

Escrevi esse poema pra poder desabafar e você me vem com essa


D.A.:

Depois dessa tudo morre pra mim

Até mesmo a inspiração

Só me vem o martírio

O preço a se pagar

É alto demais

Carregar essa culpa

É a sina de quem não sabe se autoperdoar

Mas que só se machuca

Perdão

Perdão por minha distração


L.C.:

Vou dar um jeito de salvar e sei lá talvez te mandar depois


D.A.:

Não consigo mais escrever há depois dessa

Perdão


L.C.:

Não leve a perda a sério

Mesmo que hoje seja dia de luto

Não torne o seu dia uma morte

E nem este momento uma luta

Tudo isso é matéria

Que vai com o tempo

Isto está no seu coração

Não deixe que isso morra




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Por Lorena Cristina  |  Unifemm

Foto: Imagem de Stefan Keller por Pixabay.

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