27 Jul
27Jul

A primeira vez de cada experiência é sempre celebrada, seja para o bom gosto ou para afirmar que foi ruim. As vezes me pego pensando nas tantas virgindades que tenho e no tanto de coisas que ainda me restam para fazer, experimentar, descobrir... São muitas as virgindades que carregamos. São muitos também o medo da experiência, do novo, do estranho. Primeira viagem. Primeiro namoro. Primeira academia. Primeira vez que andou de bicicleta. Primeira vez que dirigiu um carro. Primeira moto que comprou. Primeiro beijo. Primeira vez... 

Sempre soube da existência de uma bebida de nome milk-shake. Eu achava chique, quando criança, falar milk-shake. Lembrava-me das séries de comédia televisivas que assistia quando chegava da escola. Naquele tempo o milk-shake era febre e uma novidade. Na TV tornou-se uma bebida estereotipada de garota apaixonada. Quando o crush a presenteava com um copão de milk-shake sabor morango então... Esse foi o rótulo vendido para a bebida. E, do lado de cá da TV fui percebendo que milk-shake não era acessível a todos. Na TV não via nenhuma criança de favela, pobre, da periferia comprando um milk-shake. E mais, não havia postos de venda disso, a não ser nos grandes shoppings e praças de alimentação dos centros urbanos. 

Milk-shake. Tá aí uma coisa que nunca experimentei e nunca tive o desejo de experimentar. Mas aí, eis que o romper dessa novidade. No shopping, enquanto eu estava distraído falando ao telefone, meus amigos compraram um copo e me entregaram. Perguntei o que era aquilo e disseram: milk-shake de chocolate. Graças a Deus não era de morango. Eu amo chocolate. 

E eu estava ali, saboreando aquela bebida que não me causou nenhum sentimento de novidade ou de desgosto. Não percebi nenhuma novidade no sabor. Nada de legal ou saboroso. É normal. A questão é que fiquei triste quando ele acabou. O milk-shake é uma bebida triste. Quando acabou o líquido do copo eu não entendi o que faria depois. O que era pra fazer com aquela experiência? O que se faz depois de um milk-shake? Aquelas séries de TV que eu assistia não me mostrava o que acontecia depois que aqueles jovens de classe A tomavam seu milk-shake. Então fiquei sem rumo. Triste. Decepcionado. 

Perdi minha virgindade. Mas me perdi na experiência também.




Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

Foto: Arquivo pessoal. 

27 de julho de 2021

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