Por seis horas fiquei sem WhatsApp, sem Instagram... Por seis horas me senti livre, vivo e em paz. Um pane no sistema serviu para que eu reiniciasse o meu sistema. Há um sistema humano, de veias, batimentos cardíacos, epiderme, ligações neurônicas, cérebro, ossos, sangue... Esse sistema estava em pane já há um bom tempo. Ele era o melhor de nós, e precisa ser sempre o nosso melhor. Não são cabos, fios, redes telefônicas, ligações via satélites, universo virtual que irá sobreviver no final a A.I. não é o nosso melhor, muitas das vezes, pode tornar-se o nosso pior. O pior de nós.
Por mais bela que esteja a lua nas noites atualmente, avermelhada, radiante, quando misturadas a poucas nuvens, fica misteriosa, a beleza diante de nós revela uma das maiores atrocidades naturais. Queimadas, aquecimento global, desmatamento, poluição industrial, gases-estufa, lixo... O retrato triste de um ambiente que pede socorro.
O verão está cada vez mais quente; o inverno esquenta ao invés de congelar; cai neve no período das frutas e a primavera... coitada... fica sem flores a cada ano.
O melhor da Primavera é quando ela acontece do lado de dentro da gente. Quando floresce em nós o que temos de melhor, sentimos de melhor, pensamos de melhor. Quando somos assim, somos pessoas mais empáticos, menos odiosos, e mais gentis, sobretudo quando em muitos ao nosso redor a estação das flores já pulam logo para as sementes secas lançadas ao vento. Perdem o melhor de si mesmos. E, infelizmente, o calendário não anda para trás.
As vezes nos esforçamos, lutamos, enfrentamos desafios, obstáculos, medos, tabus para ter pós, MBA, Doutorado, Especialização, PhD, mas somos incapazes de ler os sentimentos humanos. Somos analfabetos em humanidade. Não sabemos ler os olhos doloridos e sofridos da outra pessoa. Não conseguimos compreender o melhor de cada um de nós mesmos. E aí, nos perdemos nas páginas dos livros, embrenhamos em aventuras incríveis e fantásticas, mas, não nos aventuramos no simples sentar à beira de uma calçada e viajar na aventura que a luz daquela lua branca e irradiante sobre um céu escuro. Desfrutar a brisa da noite, a companhia do vizinho, a Primavera que há em cada um de nós. O melhor de nós.
Por Dione Afonso | PUC Minas
05 de outubro de 2021
Foto: Imagem de Erik Lucatero (@erik_lucatero) via Pixabay.
