06 Sep
06Sep

Protestos. Cartas dirigidas ao povo. Manifestações. Notas de repúdio. Circulares. Ofícios. Pronunciamentos oficiais. Carreatas, motociatas, caminhadas. Hasteamento de bandeiras. Desfiles cívicos. Opiniões e interpretações são o que costumam marcar datas históricas de nosso país. Entre tantas expressões, palavras e encontros, a sociedade costuma se perder entre tantos acontecimentos que tentam, cada um, com sua cor, decifrar o que, de fato, representa o nosso Brasil. 

Sempre fiquei confuso, desde os meus 9 anos, sobre o que é a política. O que simbolizam os variados partidos e o que o gesto de ir às urnas representa. Como diz um bom mineiro: “uai, sô! Num diz por aí que o ‘tár’ do voto é secreto?”. É o que aprendemos, na escola e na Constituição. Mas, nunca aprendi o porquê disso e tampouco o que aconteceria se tal segredo fosse revelado. 

Hoje, fala-se de polarizações, de terceira via, de esquerdismo e de extrema direita. Fala-se de um nome salvífico e nega-se o próprio partido. Fala-se de negacionismo e repudia a própria liberdade de expressão. Fala-se muito. Ofende-se quase todos. Mas defende a si mesmo. Olha-se pouco para o outro e nega a própria irmandade social. Todos nós somos constituídos em humanidade. Todos nós, construímos humanidade. Somos humanidade pelo simples fato de ser. 

Não basta sermos um jornalismo de oposição, que condena, que ataca, que – mais uma vez o regionalismo – “cutuca a onça com vara curta” – isso é pequeno demais diante do que o profissionalismo exige de nós. Precisamos ser um jornalismo de posição. Que não teme revelar sua opinião, mostrar do lado de quem está. Assinar a favor de quem e de que povo está a sua luta. Um jornalismo de posição se constrói também de humanidade. É preciso ter claro em nosso jeito de ser gente, de ser humano, que futuro nós enxergamos pra amanhã, pra daqui um ano, pra daqui 4 anos, 10 anos, 100 anos. E parar de provocar a onça perto demais de suas garras. Tomar posição é reconhecer no perigo também a nossa chance de mudar o rumo da nossa humanidade. 

Celebrar a nossa civilidade nesse bicentenário de (in)dependência é aprender a lição de que, entre tantas expressões, palavras e encontros que buscam decifrar uma cor que representa o Brasil, é oportunidade de acolher e abraçar as cores dos nossos “Brasis”. Chega de segregações! Chega de classicismo social! Chega de pré-conceitos fechados que nos separam! Chega de praticar desumanidade! Chega! Somos maiores que tudo isso. Somos tão grandes quanto é enorme nosso país. Somos do tamanho dele e ele é do tamanho do nosso coração, porque o Brasil também é humano. Se constrói de humanidade. 

O nosso próprio jornalismo, preso a normas, ao esquema de pirâmide, ao lead, ordem dos dados, números e estatísticas, costuma perde-se nas notas secas costuradas pela informação e a notícia em tempo real com a seriedade profissional do jornalista que mantém a população bem instruída e informada dos casos. Mas, perde sua humanidade, seu contato próximo e íntimo com a pessoa, o humano que, de fato, protagoniza e deu vida aos números que foram noticiados nas primeiras linhas da matéria. O lead saiu perfeito. Mas o humano foi esquecido. É por isso que um jornalismo mais próximo às pessoas, ao humano que nos provoca, nos toca e revolve nossa humanidade é um jornalismo de posição. Pois posicionamos, quer dizer, permanecemos do lado da humanidade, da história de uma pessoa que nos revolveu, provocou. Uma história que precisa ganhar o destaque necessário para que o mundo aprenda a lei da humanidade: amar. E é esse o papel do jornalismo.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

07.set.2022

Foto: Reprodução / Imagem de José Eugênio Costa jecosta por Pixabay   

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