24 Dec
24Dec

Muitas famílias ceiam hoje, na véspera de Natal, reunidos numa única mesa.

Não pensem que acho isto anormal, é indelicadeza.

Lembrar dos fatos, acontecidos no passado,

Também se faz necessário.


O que vamos cear?

Alguns relembram: estamos na véspera do Grande Nascimento

Para alguns, é um importante evento

Narramos a estrada de um José desesperado, 

Uma tal de Maria já nas dores de parto, 

Montada, provavelmente, numa bibicleta.


O casal está em busca de um lugar para pousar

Mas, "o cara", digo, José, está sem "grana". 

Depois de uma longa viagem, tenta barganhar com o que tem

Oferece trabalho ou alguns objetos, por escambo, em troca de hospedagem. 

Pode ser que ofereceu até aquela bicicletinha velha, único meio de transporte, como forma de pagamento, pra ter um abrigo pro menino que estava para nascer.


Mas, não havia lugar para eles, 

Todos bateram as portas, 

O que vamos cear? 

As dores e contrações aumentaram, 

Eles se desesperavam,

Sem lugar...

A marquise de um viaduto foi a única opção.

O que vamos cear?


E ali...

Numa caixa de papelão 

Aquele José, sem outra opção

Conteve-se com aquela Ceia de Natal

Seu Menino nasceu.

José pôs Maria pra repousar. 

Ela, exausta e com fome, lágrimas corriam pelo rosto

De dor, de fome, de alegria, de medo, de esperança...


O que vamos cear?

Sem dinheiro pra uma hospedagem,

Não teriam dinheiro pra se alimentarem.

Sem uma enfermeira, sem Pré-Natal,

Sem abrigo,

Uma nova vida nasce...

Movidos pelo milagre.

Nasce pobre,

Rejeitado,

Sozinho com seu pai, sua mãe e animais.


É o Jesus de nossos tempos também...


Que vamos cear?

O que essa família vai cear?

O que eu tenho na mesa?

Brigas? 

Richas entre parentes?

Discórdia entre tios que disputam quem tem mais dinheiro?

Tapas entre primas pra ver quem "pegou" mais rapazes durante o ano?

E os avós, singelos, só queriam ver a família reunida mais uma vez na vida deles...


O que vamos cear?


Que nesta ceia não lhe falte o pão com fartura, 

Mas também não lhe falte consciência de quem celebra o aniversário de um menino que nasceu pobre entre os pobres.

E de tantas famílias que ainda hoje tentam recomeçar, mas ninguém lhes abre uma porta para isso.

Muitos festejam bem porque podem,

Outros festejam bem porque roubam

Mas há neste mundo quem não pode, e festeja feliz com o que tem

Outros que podem, festejam em sintonia com quem tem menos

Tem quem "dá seu jeito" tentando pôr o básico na mesa,

Assim como tantos Josés, outras Marias e milhares de Jesus que ainda hoje nascem numa caixa de papelão


O que vamos cear?


Um feliz Natal,

Com fartura de alimentos, saúde e paz e também consciência social.

Esta última só faz bem, não faz mal.




Por Mínison Domingos  |  Matipó-MG

24 de dezembro de 2021  

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Foto: Imagem de Tima Miroshnichenko via Pexels 

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