21 Feb
21Feb


Choveu torrencialmente!

A terra, que, encharcada, estava mais volátil, ficou 

E a encosta desmoronou.

Era uma bela tarde de tempo "embruscado"

De um calor abafado.

Todos seguiam sua rotina, suas vidas.

Estudantes na escola, trabalhadores nas obras, comerciantes afoitos em vender, 

Donas de casa arrumaram a louça do almoço e já pensavam no que preparar para o jantar.

Com a alta dos alimentos, causada por excesso de chuva, talvez não teriam nem salada, nem legumes no cardápio  

E em muitas casas não teria carne, pois é artigo de luxo no cardápio de muitos. 


Uma nuvem pesada se aproximava no horizonte por entre montanhas. 

Nuvens escuras, diferentes de outras épocas, pois, já há alguns anos não caía chuvas torrenciais naquela região.

Da última vez que choveu muito foi uma tragédia, mas poucos se lembravam, pois com a rotina da vida, pensamentos  e memórias  perdem lugar paras as preocupações do dia a dia. 

Houve um trovão, rasgou o céu  de canto a canto alertando da catástrofe.
O céu "embruscado" recebia mais e mais nuvens vindas de longe e as abraçava apertando-as como uma dona de casa aperta o pano de chão molhado torcendo-o para tirar-lhe o excesso de água, 

Mas a água veio em excesso dos céus, choveu torrencialmente. 


Não deu tempo dos estudantes chegarem em casa, a chuva os atingiu dentro do ônibus na avenida.

A água descia morro abaixo em disparada e fazia das ruas íngremes, cachoeiras.

Algumas vegetações da encosta foram arracadas pela força das águas e carregadas rua abaixo com os carros que lá estavam.

Os trabalhadores das obras foram surpreendidos com as ruas inundadas e não havia lugar pra ir.

No morro, o barranco cedeu e trouxe abaixo, em segundos, as casas que por sobre ele demoraram uma vida toda para construírem.

Os comerciantes viram seus "mercadinhos" serem tomados pelas águas e não teve tempo de salvar quase nada.

A dona de casa, que pensava no que fazer para o jantar, agora pensava a que horas o marido, os filhos iriam chegar.


Em algumas casas não chegaram entes queridos que ficaram aflitos ao verem a vida se findar num desespero insuportável, que até quem não estava lá sentiu.

A chuva caiu sobre todos.

Não se teve segurança pra todos.

A tristeza e o luto envolvem o povo.

De novo?

Mais uma tragédia. 

Dizem ser o aquecimento global, mas há quem diz ser mentira. 

O certo é que perdemos vidas e pra quem perdeu alguém da família não há dor maior.

A cidade conta seus falecidos, notas de solidariedade são escritas, doações são arrecadadas, mas, até quando? 

Será culpa da chuva? 

Será culpa de Deus? 

Será culpa de quem? 

Enquanto buscamos culpados, façamos nossa parte de lutar por uma sociedade mais justa e fraterna, e é na dor que podemos enxergar mais claramente esta urgência.


Naquela cidade de nome grego, as chuvas torrenciais  causaram muito estrago.

Naquela cidade de nome real, a realeza humana sente na pele a dor da incoerência humana.

Naquela cidade de nome cristão, agarra-se à fé, como único caminho para superar toda a destruição.

Naquela cidade de nome Imperial, os tecidos, da terra e dos homens, se encharcam das gotas de chuvas e das lágrimas que rolam.

Naquela cidade de nome feminino, fica a ausência de pais, mães, filhos, homens, mulheres, crianças, idosos, nomes marcados para sempre na memória da gente...

Naquela cidade, desde que a chuva parou de cair do céu, houve uma chuva de lágrimas por quem não teve sorte de simplesmente poder viver.





Por Mínison Domingos  |  Matipó-MG

17 de fevereiro de 2022  

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Foto: Imagem de "Trilhar e Mochilar"  

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