14 Oct
14Oct

Um dia depois

Um dia.

24 horas.

Uma data.

Um feriado nacional.

Uma festa.

Uma viagem.


Um dia dedicado a padroeira de um país. 

Dia 12 de outubro.

Mas quem é esta que tanto falamos, esta tal Aparecida?

A santa negra de um país racista.

A santa pobre, quebrada, jogada ao rio, envelhecida, suja de barro, que hoje é coroada Brasil afora.

Insistem em lhe oferecer presentes e votos, lhe oferecem flores e lindos altares mas a Santa insiste em estar ao lado empobrecido da sociedade brasileira.


Apareceu em sinal de esperança de liberdade ao povo negro escravizado, ao índio executado, ao pescador, ao trabalhador abandonado, hoje lhe rendem graças no maior santuário das Américas, ricos e pobres se colocam diante de sua imagem.


Pedidos diferentes? 

Talvez.

Mas não se esqueça que Aparecida é a mesma Maria dos pobres, a Maria de Nazaré, a menina grávida que saiu as pressas pra servir, a menina que deu à luz ao filho de Deus num estábulo, pois, não havia lugar para eles nas casas e pensões da cidade, a mulher que pediu ao filho o primeiro milagre em Caná da Galileia quando faltou vinho na festa de casamento, a mulher que Jesus na cruz, se preocupa em entregar ao discípulo que amava, pois sabia que ela, viúva, sem filho, iria ser abandonada pela sociedade. 


Não se pode amar uma Santa e desconhecer sua história. 

Não se pode erguer altares pra um dia, no outro continuar a mesma vida com opressão, discriminação, racismo coisas que a própria santa festejada sofreu e denunciou.

Um dia.

Basta um dia.

As coisas parecem não mudar.

Cadê as lágrimas e a comoção do dia 12?

Cadê os votos e pedidos a Aparecida? 

Sumiram?

Vão ficar pra ano que vem?

Vão estar na luta do dia a dia? 

Vão fazer parte de uma conversão verdadeira?

Será que no ano que vem haverá algo de diferente no dia 12 de outubro? 

Será apenas mais uma peregrinação? 

Serão mais promessas e pedidos em vão? 

Até quando se viverá um teatro onde eu peço, suplico, invoco, me declaro à mãe dos empobrecidos mas dias depois, continuo na primeira oportunidade, agindo a favor da opressão, me rendendo ao lado dos ricos, ou simplesmente , omito a minha colaboração por uma sociedade mais humana e fraterna.


E lá estará ela ano que vem, a Santa negra num altar, coroada, com flores ao seus pés, sem entender o porque ainda não entendemos que o seu ensinamento é outro, o seu pedido é que façamos o que seu filho Jesus mandar e nos lembramos bem do seu mandamento não é verdade?

Amar e amar e amar!!!



Por Mínison Domingos  |  Matipó-MG

13 de outubro de 2021 

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Foto: Imagem de Marco Pazzini via Pixabay. 

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