28 Jan
28Jan


Não sei quantas janelas serão necessárias para entreter aqueles que se encantam por livros, filmes e da TV. Entre uma janela e outra, uma taça de vinho e outra, um vizinho e outro, um comprimido e outro, uma dor e outra, um luto... Assim como foi difícil dar título a esta pequena narrativa, por não saber de qual janela se trata: se é a da casa, a do corpo, a da geografia ou a da vida da gente.

Assisti às duas adaptações da Netflix: A Mulher na Janela, um filme de Joe Wright estrelado pela impecável Amy Adams, adaptação direta da obra de mesmo título escrita por A. J. Finn; e a recente série de uma temporada com oito curtos episódios A Vizinha da Mulher na Janela criada por Rachel Ramras, Hugh Davidson e Larry Dorf e estrelada pela atriz e cantora premiada Kristen Bell. Essa recente minissérie satiriza a obra de Joe Wright, que se tornou um fracasso de crítica. Contudo, esse ritmo textual é material para outra narrativa. Nesse momento, meu interesse maior é com esse interesse repentino com janelas e o que elas nos revelam. 

As duas obras são protagonizadas por uma mulher. Ambas vivem o desmoronamento das próprias vidas. Ambas vivem medos profundos: enquanto a personagem de Adams era agorafóbica; a de Bell era pluviofóbica. A primeira desemboca numa crise de pânico de lugares públicos e contato com pessoas. A segunda, tem medo da chuva que, na verdade, conecta-se com o episódio do luto de sua filha de 7 anos. Ambas são acompanhadas por um terapeuta. Ambas misturam vinho com remédios. Ambas são testemunhas de um assassinato assistido de sua própria janela. Ambas são desacreditadas e tidas como loucas o bastante para não serem levadas a sério. Ambas vencem suas fobias e conseguem redenção. 

O fato de ser sempre uma mulher que protagoniza uma narrativa de traumas, fobias, luto, descontrole emocional, simboliza, não a fragilidade feminina (como 99% das críticas afirmam), mas simboliza a sensibilidade e a capacidade de absorção de situações, relacionamentos e dores de outrem. Costumo considerar essas pessoas como seres de profundidade. Capazes de não ficar na superfície das situações e na superficialidade das relações. Quem nasceu para afundar os pés na areia, nunca saberá o que é entrar no mar. As duas narrativas que partem de uma janela, são histórias profundas contadas por duas mulheres que não se contentaram em ficar no raso. Não digo só em relação ao crime que aconteceu, mas em relação às suas próprias vidas. Quem deixa seus medos e inseguranças reger a própria vida são aqueles que não se aventuram, que não partem para o mar e não se abrem para o novo, para uma nova janela. 

Quando a gente se desmorona de dentro pra fora, as feridas ficam mais difíceis de se cicatrizarem. Mas não significa que não há cura para as doenças da alma. O caminho pode ser mais doloroso. É difícil tratar algo que não se vê e nem se toca. Mas é essencial cuidar daquilo que te machuca. Você não vê, mas sente. Manter a janela trancada não é buscar a cura, e não soluciona o problema. Uma janela fechada é uma vida não vivida. Não fique olhando da janela a vida lá fora. Seja aquele que abre as janelas, da casa, do corpo, do carro, de onde estiver, e viva. Uma janela aberta, é um recomeço...




Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

Foto: Reprodução/Irasonja via Pixabay

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