21 Sep
21Sep

 

“Eu represento a nova juventude na cultura pop da TV e do cinema. Somos jovens e somos que precisam de cuidados. É esse o meu papel aqui”.

[Zendaya no discurso do Emmy 2020]. 

 

 

 

Desbancando nomes como Jennifer Aniston (The Morning Show), um ícone consagrado, Olivia Colman (The Crown) e Laura Linney (Ozark), a nossa querida Zendaya (Euphoria) conquista seu primeiro prêmio de sua carreira de atriz. Com a personagem Rue em Euphoria pela HBO, Zendaya aos 24 anos é a mais jovem atriz a conquistar o prêmio de MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE DRAMA.

Sua vitória é significativa e muito representada num contexto bem turbulento. Em seu discurso de agradecimento, a jovem atriz levanta a situação jovem do mundo e fala que “eles precisam de cuidados”. Assim como Rue, sua personagem na série, é uma jovem confusa, turbulenta e perdida, nossos jovens também compartilham das mesmas condições e situações que vimos na série.

Essa é a primeira indicação de Zendaya a receber um prêmio por sua atuação. Além disso, ela é a segunda negra da história a vencer na categoria, depois de Viola Davis (“How To Get Away With Murder”), que venceu em 2015.


Sobre o que é Euphoria?

Produzida pela HBO, a série está em sua primeira temporada. As perturbações e desconsertos da faze jovem de uma pessoa são abordadas de maneira corajosa e bastante realista nos episódios da temporada de abertura dessa série. A loucura e o ambiente desconfigurado é misturado a uma trilha sonora envolvente e a luzes que entorpecem nosso juízo e nos desmonta.

Parece ser assim a vida de Rue (Zendaya), uma jovem viciada em drogas e álcool, disposta a experimentar tudo a fim de “melhorar” a realidade estranha em que vive. Suas experiências relacionais também são bem ousadas e refletem acertadamente na atualidade em que vivemos. Os jovens querem, tem o desejo e a curiosidade em experimentar. Não importa o que, não importa onde, não importa quem, só querem conhecer, desbravar novos mundos que estão ali, à frente.

As cenas são pesadas, chocantes, as vezes até incompreendidas, no entanto, não se compreende somente aquilo que não aceitamos que acontece diariamente nas ruas de nosso bairro. Euphoria é sobre as dores e traumas que os jovens carregam desde sua infância e os atormenta durante toda a vida. São dores e cicatrizes escondidas porque a sociedade insiste em ser um lugar normal.

Euphoria é sobre criar uma realidade alternativa para escapar da real situação de abandono e estrutura familiar destroçados com a condição financeira, econômica e psicológica. Euphoria é sobre conflitos, relações doentias, amizades abandonadas, falta de oportunidade para jovens, ausência de um projeto de vida saudável capaz de resgatar nossa geração desse caos.


O que está acontecendo com nossa geração?

Euphoria é uma produção que precisa ser lida com mais sensibilidade. Ela é mais sobre os dramas sociais e menos sobre as cenas de nudez. Criticar tais momentos é gastar um nível de energia altíssimo desviando completamente o foco do que é realmente importante e essencial para a nossa discussão.

O retrato geracional que a série apresenta fornece uma preocupação cultural pouco discutida. Eu posso até me preocupar com o tema da gravidez na adolescência, mas eu não tenho coragem de tocar no assunto com meus filhos. Eu posso saber do perigo das DST’s entre os jovens, mas esse assunto ainda é um tabu dentro de minha casa e eu não sei falar com meu filho sobre relação sexual. Eu posso até saber que uso de drogas mata, mas eu nunca sentei na mesa com meus filhos para dialogar.

Isso é Euphoria! Sabemos de tudo, mas não abrimos a boca para salva-los. Sabemos, conhecemos os riscos, mas somos indiferentes diante da situação.  É aquele velho ditado: “uma coisa é saber, outra é quando ela acontece na sua porta”. A série retrata com total fidelidade do que é a vida dos jovens hoje. Nas periferias, nos lugares afastados dos olhos públicos de segurança e políticas públicas, lazer e educação, saúde e moradia.


“Eu aprecio muito você, você é minha família”

Na premiação, Zendaya dirige-se para Sam Levinson, o responsável por Euphoria, e agradeceu a toda equipe: “Eu aprecio muito você; você é minha família ”, disse Zendaya, dirigindo-se a Levinson, que baseou a série em sua própria batalha contra o vício em drogas. “Eu sou muito grata por Rue. Estou muito grata por você ter confiado em mim para contar sua história”.

A euforia causada pelo curto espaço de tempo que os entorpecentes proporcionam fornece-nos aquela sensação de delírio e prazer momentâneos. A euforia nos salva da preocupação, ou seja, não importa o porquê estou feliz, o importante é que eu estou. Mas é efêmero, repentino e destruidor. Ao contrário da euforia, a melancolia é depressiva, assassina e tortuosa. As tragédias do dia a dia sempre vão existir. Dramas, dores, cicatrizes, isso não vai desaparecer na euforia do estalar de dedos. Mas, é sempre oportuno o recomeçar a caminhar de um jeito certo.

A 72ª edição do Prêmio Emmy Primetime da TV foi realizada nos moldes virtual. Cada um na sua casa sendo prestigiado. Em nossa conta do Instagram você pode conferir todos os vencedores da noite.


“Vivemos em um mundo em que uma árvore vale mais financeiramente morta do que viva; em que uma baleia morta vale mais do que ela viva. Enquanto nossa economia funcionar dessa forma, nós continuaremos a matar árvores e baleias, a minar a terra sem pensar nas consequências de que terra as gerações futuras receberão”

(O Dilema das Redes. Série Documental Original Netflix, 2020. Dirigido por Jeff Orlowski)


 

 

Por Dione Afonso

Jornalismo PUC-Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.