15 Sep
15Sep

“Quando eu desafiei meus alunos do Ensino Fundamental a ler Agatha Christie aquilo virou uma febre na escola. Ninguém mais queria saber de outra coisa. Seus livros infestaram a memória de nossos alunos de uma forma que eu nunca vi. Outros professores começaram a me questionar assustados perguntando-me o que eu fiz com os alunos, eles não sabiam falar e nem pensar outra coisa quem não estivesse vinculado às histórias de Agatha Christie”. 

[LENINHA TAVARES, professora, Espera Feliz-MG].

 

 

 

Agatha Christie (1890-1976), escritora inglesa foi a responsável em criar mais de 80 romances policiais além de contos e outros escritos. Criou o “detetive comas células cinzentas, bigode expressivo e cheio de humor”, Hercule Poirot que até hoje é sucesso seja nos livros que sobrevivem e renascem a cada virada de ano, seja nas adaptações que os serviços de streamings e os cinemas nos apresentam.

Não só a literatura inglesa, como a de todo mundo ganhou praticamente um novo gênero artístico literário com Agatha. Não estamos afirmando que ela criou um novo gênero literário, ela deu gás a um gênero esquecido e tornou-se ícone mundial através dele. Romances policiais ganharam espaços nas estantes de todos os leitores do mundo depois que tiveram contato com os escritos de Agatha Christie.

Hercule Poirot e Miss Marple são seus mais estimados e amados personagens. Ele, um detetive sagaz, ela, uma solteirona que também não deixa uma investigação por menos enquanto não responder a todas as perguntas que envolvem um fato criminal. Nascida Agatha Mary Clarissa Miller, ela nasceu em Torquay, condado de Devonshiri, Inglaterra, no dia 15 de setembro de 1890. Hoje fãs de todo o mundo relembram seu nascimento com as frases e obras mais memoráveis de sua carreira de escritora. Agatha ainda permanece viva e presente na memória de muitos leitores.


Quando tudo começou...

Sua primeira história policial foi escrita em 1917. Agatha havia sido desafiada a escrever uma versão emq eu houvesse um crime, mas que quem lesse tivesse que ser desafiado a desvendar a identidade do assassino. “O misterioso caso de Styles” foi seu primeiro livro ambientando numa mansão bem ao estilo inglês. Agatha “mata” a proprietária da casa por envenenamento. A obra ganhou publicação três anos depois.

Entra em cena aquele que se torna sucesso em todo o mundo. Talvez Agatha não esperasse que um personagem carismático e tão misterioso pudesse ganhar tanta fama assim. No entanto, Hercule Poirot é dotado de carisma, um bom senso de humor e até brincalhão às vezes. A sua sagacidade em desvendar os mistérios consegue hipnotizar o leitor de tal forma que nem os olhos piscam no devorar página após página. Um homem de estatura baixa, belga, de chapéu coco e bigode militar... Era assim que nossa Rainha descrevia seu melhor personagem. Poirot hoje é considerado o maior nome dentre a cultura de ficção do romance policial, seja nos livros, seja nas adaptações.

Agatha faz de Poirot um personagem com início, meio e fim. Ele “nasce”, vive, some e morre. Em 1926 com o grande sucesso de O Assassinato de Roger Ackroyd Agatha decide dar um susto em seus leitores quando resolver dar um “chá de sumiço” e não entrega mais nenhuma nova aventura de nosso detetive. As “células cinzentas” caíram no “conto do vigário” e foram engaioladas em algum lugar desse universo. Por problemas pessoais Agatha só precisou de estar um pouco longe dos holofotes para se recuperar e voltar à ativa.


Estilo, bom gosto e identidades literárias

Desde seu primeiro romance, já era perceptível que Agatha desenharia um mapa de seu estilo e bom gosto por histórias luxuosas e sempre de grandes telas. Ela não economiza nas cenas. Nada é pequeno. Rico em detalhes, dos menores possível, mas nada pequeno. Egito, Rio Nilo, as Grandes Pirâmides, mansões luxuosas, hotéis de boas famas, um trem... Tudo sempre com grande impacto de cenas.

Sua identidade literária nunca se perdeu desde sua primeira aventura policial. Agatha também sempre foi muito bem regada de humanidade. Com o passar dos anos, ela não escondeu as fraquezas e o cansaço humano de Poirot. O peso da idade, o cansaço do trabalho, o stress das viagens... todo esse deslocamento não fazia de nosso detetive um x-man imortal. Não. Agatha quis deixar sempre claro para o leitor que Poirot era humano e tinha suas limitações. É muito prazeroso e, ao mesmo tempo de grande temor, como que vamos percebendo o crescimento do personagem a cada romance e seu envelhecimento físico. E, por outro lado, como que suas células cinzentas sempre continuam ativas e vivas sem perder o vigor e a perspicácia no trabalho.

Essa embriaguez de humanidade de nossa Rainha sempre nos colocou também em ambientes onde as relações foram machucadas e feridas. Não se trata apenas de estudar o caso de um corpo sem vida, mas, também de desvendar as relações que morreram naquele lugar. Amizade, amor, paixão, relações familiares, sociais, políticas, econômicas... Numa briga de herança, por exemplo, não é só a morte de um corpo que leva Poirot ao local, mas é a quebra de confiança e empatia também.


Sucesso no teatro e no cinema

Em 1934 Agatha publica Assassinato no Expresso do Oriente. O romance tornou-se single da escritora. Uma das obras de maior sucesso e um dos livros mais vendidos da autora. O romance policial recebeu várias versões adaptadas. O cineasta Sidney Lumet adaptou a obra para o cinema em 1974. A produção foi de grande sucesso e levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante a Ingrid Bergman que interpretou Greta. Hercule Poirot ganhou vida na pele de Albert Finney.

Não obstante, a mesma obra voltou aos cinemas em 2018 na direção de Kenneth Branagh que também deu vida ao detetive Poirot. No elenco juntaram-se ícones hollywoodianos como Johnny Deep (Ratchett), Michelle Pfeiffer (Mrs. Hubbad) e Judi Dench (Princesa Dragomiroff).

A nossa Rainha do Crime também escreveu peças para o teatro. Entre elas a mais popular A Ratoeira (1951) foi encenada por mais de 13 mil vezes na Inglaterra. Testemunha de Acusação foi escrita dois anos depois e também tornou-se grande sucesso da autora nos palcos.

A Rainha ainda recebe várias homenagens em outras produções e séries limitadas de TV. Algumas são baseadas diretamente em suas obras, outras apenas fazem menção e a homenageiam em grande estilo. Entre Facas e Segredos de (2019) de Riam Johnson é um exemplo.


Uma vez Rainha, sempre Rainha

Hercule Poirot protagoniza 33 de seus romances. Agatha divide suas aventuras também com uma grande amiga, a simpática e animada Miss Jane Marple que apareceu pela primeira vez em 1930 em Assassinato na Casa do Pastor. Ms. Marple também possui uma inteligência tão profunda quando Poirot.

Um dado curioso e muito importante da autora é que ela é uma mulher de grande sucesso num momento histórico em que isso gera um desconforto na sociedade. Agatha Christie consegue alavancar a memória de mulheres de sucesso mostrando que não importa quem você, seu sexo ou sua religião, é possível sim conquistar seus direitos.

Enfrentando os desafios da Investigação Criminal da cultura moderna, o estilo que Agatha consagrou como whodunnit (quem matou?) começam a dividir espaços com caminhos alçados na alta psicologia, a evolução da cibernética e até mesmo a tecnologia altruísta. Isso não desmerece suas obras e, a nostalgia do nosso público sempre cumpre com a missão de resgatar boas e grandes histórias. As de Agatha Christie, por exemplo, nunca saíram da lista dos mais lidos.

Seu estilo corresponde sim a uma época, a uma cultura, a um estilo de vida passado e arcaico. Mas a literatura nunca é arcaica, ela é sempre atual e adaptável a novos tempos, novas culturas, inspirando novas histórias. Para terminar esse artigo, não queremos cair na maldição de nomear seus melhores escritos, eu, como grande leitor de Agatha, quero deixar os livros da Rainha que me marcaram profundamente. E você que é leitor também dessa grande mulher, deixe sua lista, não dos melhores, mas do que te transformaram para sempre.

  • O Homem do Terno Marron (1924)
  • O Caso dos Dez Negrinhos (1939)
  • Assassinato no Campo de Golfe (1923)
  • Os Cinco Porquinhos (1942)
  • O Caso do Hotel Bertram (1965)

Quando Agatha Christie viaja para o Oriente com seu marido arqueólogo, ela se inspira e escreve Assassinato no Expresso do Oriente (1934), Morte na Mesopotâmia (1936), Morte no Nilo (1937) e Aventura em Bagdá (1951).

Agatha Christie faleceu em Wallingford, Inglaterra, de pneumonia, no dia 12 de janeiro de 1976.



“O mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém jamais observa”

(Sir Artur Conan Doyle)


 

 

Por Dione Afonso

Foto: Arquivo Pessoal/OGlobo/Cultura.

Jornalismo PUC-Minas

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