09 Sep
09Sep

“O pai tá on” significa que acordamos, que tamo ativo, que tamo aí pro que der e vier. Significa que tamo esperto, tamo pra jogo, tamo na crista da onda, tamo no topo.

[LÉO SANTANA, músico, via twitter].

 

 

“O pai tá on” significa que a pessoa, seja ela qual for, está pronta pro que vier pela frente.

[RAFAEL ZULU, ator, via twitter].

 

“O pai tá on” significa que tô na ativa. Tô na área. É uma gíria muito específica para aquele momento. Você acha que eu estou morto? Tô, morto não, estou ligadíssimo

[PEDRO SCOOBY, ator, via twitter].

 


 

Usando os artifícios da imagem visual e até de recursos áudios visuais, os memes ganham novo impulsionamento do discurso narrativo: as hashtags. Com a forte presença e participação pelas Redes Sociais, os memes cada vez mais viralizam e tornam-se assuntos de pauta do dia. Todos os dias na escala dos assuntos mais comentados do twitter, sempre aparece uma ou duas – as vezes até mais – hashtags indicando o assunto mais comentado do dia.

Meme tem o objetivo de: a) transmitir o bom humor e a risada; b) provocar uma rápida assimilação da mensagem que quer transmitir; c) angariar visibilidade sobre determinado assunto ou figura célebre; e, d) cobrir, “de forma alternativa” um fato ocorrido sem recorrer aos rigores jornalísticos da notícia.

Atualmente a expressão “o pai tá on”, #opaitaon, configura-se como um dos memes mais visualizados na internet. Cunhado pelo jogador brasileiro Neymar, sua expressão viralizou nas Redes Sociais tornando-se até tema de música, de brincadeira, de desafios nas Redes Sociais, de torcida organizada a favor da vitória do jogador e... com tudo isso, vira também elemento narrativo do discurso.


São os memes que fazem história, ou as histórias que fabricam os memes?

O meme nunca está fora de um contexto. Numa “sociedade em rede” (CASTELLS, 2006), o ser humano que compartilha um meme, compartilha junto dele uma experiência de vida, um contexto social. Assim, os memes buscam referências sociais, antropológicas, vivenciais e relacionais. O sucesso dos memes dá-se num contexto de midiatização da sociedade. Ou seja, nós respiramos mídia. Estamos imersos numa cultura digital que perpassa e impregna o ser antropológico.

Segundo Maldonado, a midiatização “atravessa todos os outros campos condicionando-os e adaptando-os às novas formas expressivas e representativas da mídia” (MALDONADO, 2006). Ainda citamos Muniz Sodré que afirma que no âmbito da comunicação, essas práticas se constituem numa nova forma de vida.

A história fabrica os memes. Vemos no caso do Neymar, por exemplo, um meme serviu de expressão condicionante de seu ser/estar naquela situação. Da mesma forma, quando o meme “o pai tá on” virou ritmo musical, também serviu para expressar uma condição humana em que o intérprete se encontrava. Por fim, quando nós compartilhamos, levantamos a #opaitaon em nossos posts, tweets, em nossas Redes Sociais, também estamos expressando a nossa condição social, emocional e relacional que estamos tendo naquele momento.

O foco é a história de cada um. A nossa história. A história e trajetória do jogador Neymar. A história do cantor de funk que idealizou a letra “O Pai Tá On”. Claro que toda essa expressão dada pelo meme guarda aí uma espécie de “mediação” semiótica. Usa-se de um código, de signos que, juntos comunicam uma mensagem. Ao contrário da notícia, do jornalismo, da narrativa jornalística e do fato contado, o meme é algo efêmero, imediato. O meme possui seu auge de 15 minutos de fama e depois passa, como uma febre momentânea. Com o jornalismo sério, expressivo e com a notícia narrada é diferente. A história permanece. Nós permanecemos. Uma hashtag por exemplo #VidasNegras Importam pode ter tido seu auge, mas as histórias que ela narra, conta e reconta, permanecem...


Convergir as informações e buscar novos paradigmas da comunicação

Nosso compromisso deve e sempre continuará sendo com a notícia, com o fato, com os dados seguros e confiáveis. Nosso compromisso é sempre firmado com a ética e o compromisso de narrar histórias. Nesse sentido, diante das emergentes mídias contemporâneas, é preciso encontrar os pontos convergentes para que o jornalismo e a comunicação continuem apresentando como produto final o melhor trabalho feito com competência e veracidade.

A proliferação dos memes revela os locais de fala e quem é que fala. Se o meme é reflexo de um contexto, então, ele está nos contando alguma coisa. Ele quer nos dizer algo. Nesse “novo tempo”, o jornalista assume a postura de ler e ouvir o que aquele meme e aquela hashtag está informando, que história está narrando.

Na série Control Z, criada por Carlos Quintanilla Sakar, Adriana Pelusi e Miguel García Moreno apresenta uma trama focando a era digital. Produzida pela Lemon Studios para a Netflix, a série mexicana de drama teen aborda temas envolvendo riscos e perigos com as Redes Sociais, tecnologia digital e compartilhamento de dados no campo virtual. Num certo episódio da série, percebe-se que as pessoas tornam-se praticamente reféns e são dominadas por uma “vida virtual”. Nessa trama, a jovem Sofi (Ana Valeria Becerril) começa uma corrida em tentar desvendar quem é o hacker que está chantageando os alunos de sua escola.

As hashtags, os memes, são discursos poderosos que podem até matar. Control Z aborda assuntos como a transfobia, bullying virtual, transtornos mentais, preconceitos... “Exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, as modas no vestuário, as maneiras de fazer potes ou de construir arcos. Tal como os genes se propagam no pool gênico saltando de corpo para corpo através dos espermatozoides ou dos óvulos, os memes também se propagam no pool de memes saltando de cérebro para cérebro através de um processo que, num sentido amplo, pode ser chamado de imitação” (DAWKINS, 2007, p. 330). O que Dawkins quer nos dizer é que os memes foram ressignificados pela cultura digital e o advento da internet. O meme universaliza a informação. Seu potencial é viral, ou seja, apresenta um conteúdo que viraliza na internet em escala até mundial.


O meme constrói um novo lugar de fala

Analisar os memes partindo de onde ele veio, de onde foi criado proporciona um novo movimento de leitura e de comunicação. O meme nos aponta um novo lugar de fala. Mesmo no tom irônico, as vezes até sarcástico, o meme é em si próprio uma leitura noticiosa. Mesmo com o único intuito de ser uma grande piada e que roda o mundo, a mensagem mimética traz contexto e um fato ocorrido. Esse contexto é cultural e humanossocial. Aqui, evidenciamos o meme que dá visibilidade ao jogador Neymar. Que contexto esse meme está? Onde Neymar se encontra? O que ele fazia antes? Ele é jogador, como está sua fama? Tudo isso são evidências contextuais de uma história sendo narrada através de uma única hashtag.

Ser um jornalista e um jornalista que narra histórias é ser alguém que saiba olhar para as hashtags e saiba lê-las com olhar crítico e atento. Identificar que contexto aquele meme está nos revelando e ir atrás da notícia, da informação, do fato. E aí, construir a história.


“Deixei meus amigos e minha vida pra trás para começar do zero. É importante que você se adapte. Coisas fáceis não valem a pena. Apesar de tudo, no final as pessoas encontram a esperança”

(Control Z, 2020 - Netflix)



Por Dione Afonso

Jornalismo PUC-Minas

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