30 Jun
30Jun

Vida pessoal e profissional as vezes não se separam - e nem devem. Muito provavelmente, em algum momento de nossas vidas, ouvimos de alguém que “é preciso separar o pessoal do profissional”. Frase clássica e de certa forma correta. Mas, e quando o pessoal influencia no profissional? E, se esse indivíduo for rico, famoso ou ambos? Devemos separar esses dois polos antagônicos? 

Na maior liga de basquete do planeta, a NBA, temos diversos casos dessa separação do pessoal com o profissional. Por exemplo, o armador do Golden State Warriors, Stephen Curry, tem o seu cunhado como companheiro no time que joga. Mas, quero abordar outro tipo de separação, a de crimes e acusações de gravidades elevadas ao extremo que são, de certa forma, acobertadas ou silenciadas pelo fato da pessoa ser famosa, rica e estar na posição de idolatria perante seu público. No mês de junho de 2021, houveram duas trocas de comando técnico das equipes de Portland Trail Blazers e Dallas Mavericks assumindo Jason Kidd e Chauncey Billups, ambos com históricos imperdoáveis perante a lei, principalmente contra violência e abuso doméstico. Em 2001,Jason Kidd, ex-jogador, foi detido por agressão contra a sua esposa. Kidd admitiu ter agredido sua cônjuge, mas foi liberado sob custódia. Por esse infortúnio, foi condenado a pagar algumas cestas básicas, mas nada de reclusão, que convenhamos sabemos o motivo. 


Já Billups,em 1997,foi acusação de assédio sexual quando atuava pela franquia do Boston Celtics. Segundo relatos, Billups arrastou a vítima até a despensa da casa e consumou o ato sexual contra a mulher sem sua permissão, praticando o estupro. A garota que sofreu o abuso fez a denúncia, no dia seguinte, e os exames comprovaram que havia ferimentos condizentes com o testemunho da mesma. Se esses casos ainda não foram suficientes para você, Karl Malone, uma superestrela do basquete, e Hall, da fama da NBA e maior ídolo da franquia, Utah Jazz (inclusive possui uma estátua sua em frente ao ginásio) é acusado de pedofilia e estupro de vulnerável. O ala-pivô acabou engravidando a menor de idade e recusou-se a assumir o filho. A vítima tinha, na época, apenas TREZE ANOS e ele vinte. 


Uma das conclusões que podemos tirar é de que, se a pessoa possuir fama e fortuna, ela passa a ter o poder de estar “acima da lei”, o que a desobriga de seguir regras impostas pela sociedade. Ambos os casos são completamente abafados pela mídia ou até mesmo pelos próprios times. Kidd e Billups como headcoachs de franquias, da maior liga de basquete do planeta, afronta o movimento que por anos luta a favor da vida. E mesmo assim, ainda existem pessoas que ainda conseguem separar o “pessoal do profissional” nesses casos, infelizmente. A posição de ídolo deveria ser preservada a pessoas de boa índole que realmente possam exercê-las. 


Casos de abuso entre os jogadores do Brasil

Esses acontecimentos não ocorrem apenas no basquete e nos Estados Unidos. No Brasil temos casos recentes de jogadores de futebol que foram facilmente abafados. Jean,ex-goleiro do São Paulo, Bahia e Atlético Goianiense, espancou sua esposa e, ao invés de ser preso ou julgado pelo que fez, ganhou mais uma oportunidade de tornar-se ídolo. Na época do ocorrido o atleta pertencia ao São Paulo e foi emprestado ao clube goiano onde fez um bom campeonato brasileiro, que apagou em partes o crime que cometeu. 


O caso “Robinho” foi outro dos que ficaram famosos nos últimos tempos por aqui. Robinho, ex-jogador, foi acusado – e condenado – por estupro na Itália e ainda assim foi contratado pelo Santos. Após fortíssima pressão da torcida e dos patrocinadores, o clube recuou e desistiu da contratação do jogador. Apesar de todo apelo da condenação pelo crime, o clube não hesitou ao vê-lo como uma boa oportunidade de retorno técnico em campo. 


Ambos os casos, dos ex-jogadores Jean e Robinho, são bem conhecidos e vieram à tona nesse último ano. Um caso totalmente abafado pela mídia é o caso do técnico Cuca, famoso treinador que hoje exerce a função no Atlético Mineiro, com passagem em diversos clubes grandes e ex-jogador. Cuca foi acusado em 1987 de estupro de vulnerável contra uma jovem,com menos de 13 anos, em uma excursão do Grêmio Porto-alegrense, na Suíça. O caso foi uma denúncia de estupro coletivo com outros três atletas.Os jogadores chegaram a ser detidos durante um mês quando retornaram para o Brasil. Foram condenados, porém sem extradição, cumpriram a pena em liberdade. Cuca retornou ao Atlético no começo de 2021, com um forte protesto da torcida, contra sua contratação. Mas, novamente a diretoria o encarou como profissional, o treinador ideal, para substituir o anterior. 


Fora do futebol, os casos também aparecem no basquete

Mas não pense que permanecer jogando mesmo com acusações é exclusividade do futebol. No basquete existem casos como o de Kristaps Porzings, do Dallas Mavericks, com uma forte acusação de abuso sexual que atua normalmente na liga, e também, Derick Rose, hoje no New York Knikcks também é acusado de estupro contra uma ex-namorada. Segudo a denuncia, o armador do Chicago Bulls á época com ajuda de mais dois amigos alcoolizaram e drogaram a vítima. O caso Rose foi julgado de forma, no mínimo, estranho. Após todos os depoimentos e do atleta afirmar que era uma armação, Rose foi inocentado em júri popular alegando falta de provas e que seria realmente uma armação. Até ai, de certa forma é comum, mas após o julgamento o atleta foi completamente cercado pelos juristas que participaram do julgamento para tirar fotos, dar autógrafos e coisas do gênero. Até mesmo o juiz fez uma piada dizendo “Boa sorte, menos quando enfrentar o Los Angeles Lakers”, time da cidade onde ocorreu o julgamento. Ambos permanecem jogando e tendo sucesso em suas carreiras. 

Percebe-se que o núcleo e a bolha dos atletas pouco importam, salvo raras exceções, para condenações ou acusações absurdas, como as citadas acima. O foco principal é sempre do sucesso esportivo, em primeiro lugar, o financeiro em segundo e, se sobrar tempo, a análise sobre esses assuntos de forma rasa. A pergunta que fica é: realmente fomos criados e educados para ignorarmos todos esses absurdos por dinheiro e pela cega paixão aos nossos times? A nossa sociedade é machista o suficiente para conseguirmos fazer essa separação de forma tranquila, sem responsabilizarmos os verdadeiros culpados por crimes, sem que nos sentíssemos culpados, colocando a vítima à mercê de um trauma que, muito provavelmente, ficará cravado em sua alma, honra e lembrança durante toda sua vida. O esporte, por sua quase totalidade, afasta as comunidades minoritárias de seus arredores. Estádios de futebol, basquete, futebol americano, que seja, ainda tem uma certa aversão contra pessoas da comunidade LGBTQIA+ e com mulheres em posições de igualdade a de homens, como de comentaristas e narradoras de transmissões de todos os esportes. Esse asco é uma clara representatividade de uma ignorância que permanece em grande parte da sociedade, onde não há mais espaço para esse tipo de absurdo. 

A separação não deve ser feita! Devemos culpar os culpados e responsabilizar os responsáveis. Sem passar pano, sem “mas” nem “porém”. 



Todas as informações contidas nesse texto foram retiradas de fontes seguras de pesquisa e com auxilio da completíssima pesquisa da Ana e você pode encontrar esses artigos em @carolianando no Twitter.



Por Matheus Teodoro  |  Jornalismo Promove-BH

29 de junho de 2021

Fotos: Reprodução/via Twitter.

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