04 Nov
04Nov

Não é sobre morrer, mas é sobre viver. Nas palavras da protagonista, “é sobre viver os seus meses que me restam como sendo os mais incríveis e felizes das nossas vidas a ter que viver 12 sendo uma luta sofrida e de dor”. Mesmo não sendo uma história original e nem uma narrativa que já vimos, o filme consegue fazer da história, única. É única porque ele não respeita os clichês que os dramas como este estão cansados de nos entregar. Ele consegue ultrapassar estes limites e vai além do drama pelo drama, do choro pelo choro e do amor pelo amor e faz da vida que temos uma grande chance de poder ser feliz, amar sem medidas e conquistar tudo o que um dia sonhou. 

Acompanhamos Almut Bruhl (Florence Pugh) e Tobias Durand (Andrew Garfield). Dois adultos de universos diferentes. Enquando ele é um representante comercial de sucesso, ela é uma Chef de cozinha renomada e que está prestes a inaugurar seu restaurante. O encontro dos dois no filme acontece de forma inusitada: Almut atropela Tobias e o acompanha no hospital. Todos estes clichês do primeiro ato do filme até que geram um certo desconforto em nós, mas não demora muito para percebermos que estaremos prestes a assistir a uma história de um jeito diferente. Dirigido por John Crowley e com roteiro de Nick Payne, a narrativa não obedece à temporalidade, assim como nossa vida também não é um evento terrestre linear e perfeito. 


A qualidade que damos ao tempo que temos 

Mais do que uma história sobre o fim da vida, estamos diante de uma história sobre como viver. Mais do que uma história de amor, estamos diante de uma história sobre como amar de verdade e se entregar totalmente. Enquanto Almut descobre um câncer de ovário, estágio 3, ela precisa lidar com os desafios da maternidade e sustentar com Tobias um casamento leve e regado de amor. Tobias apresenta-se como aquele homem que é mais do que um simples marido, mas é um parceiro, um companheiro, um confidente para Almut e a filha. Tal narrativa não-linear também não é uma novidade na indústria. Já temos muitas referências de obras que subvertem o cronológico linear para nos apresentar um roteiro e trama sem muita temporalidade cronometrada. 

O trabalho de Crowley também não é grandioso. Elenco reduzido, orçamento baixo, poucos efeitos... Mas, acaba se tornando grandioso pela perspectiva em que decide contar a história do jovem casal. Imediatamente o que nos chama a atenção em querer ir aos cinemas para assistir a Todo Tempo Que Temos é o fato de alguém ter juntado Pugh e Garfield na mesma tela. E ver a interação destes dois artistas que são magníficos no que se propõem a fazer foi um presente e tanto para nós. Outro fato curioso sobre o longa é que, por mais que estejamos diante de uma realidade difícil, uma história pesada e complicada de contar, sentimos uma leveza muito grande quando ela termina. 

Não obstante, muitas cenas nós demos risadas, e alguns até conseguiram terminar o filme felizes a ponto de terem um sorriso grandioso no rosto. Vale muito a pena conferir este trabalho. Perceber o quanto é necessário você assistir e encarar sua vida partindo de um novo ponto de vista. Almut é mais que uma esposa; é uma mulher viva, cheia de alma, vitalidade, vigor e que se desvela para nós sem nenhuma timidez. Nossos olhares precisam voltar para esta personagem com toda a nossa atenção e admiração. É uma atuação surpreendente. Dificilmente esqueceremos deste filme pelos próximos meses. Não devemos viver em vista do dia da nossa morte. Mas, precisamos morrer diante da maravilhosa vida que tivemos.




Por Dione Afonso - Jornalista

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.