17 Dec
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Desde sua criação, em 1962, o “Amigão da Vizinhança”, como ficou popularmente conhecido, o super-herói que sofre uma mutação genética de um aracnídeo, conquistou um fan service grandioso. Suas HQs criadas pela Marvel Comics se tornaram sucesso de vendas e fez que com o super-herói começasse a conquistar espaços ainda maiores e de mais destaque. Stan Lee e Steve Ditko, seus criadores, conseguiram, reunir na personalidade de um herói não os mais fortes poderes, mas as mais marcantes personalidades. 

Um jovem, quase adolescente, por volta dos seus 14 anos, órfão, criado pelos tios que também ficaram famosos, tio Bem e tia May, morando no Queens, em Nova York, o jovem Peter Parker era um menino sonhador como qualquer outro adolescente de sua idade. Escola, primeira namorada, pobre, tinha que ajudar os tios no trabalho para ajudar a sustentar a casa. Quando o Spider-Man surge no início da década de 1960, o que era pra seguir como outros heróis mais jovens, fazendo papeis coadjuvantes, acabou tornando-se muito maior do que o que se esperava. Peter Parker, tendo que viver uma vida entre combater o crime das ruas e lidar com os dilemas do início da juventude acabou ganhando adeptos. 

Jovens da mesma faixa etária que Peter Parker encontraram nas histórias em quadrinhos alguém com quem pudessem se identificar. Viam naquele menino uma esperança de poder mudar as suas vidas. Claro, que, ninguém iria ser picado por uma aranha radioativa e ganhar super poderes, contudo, aquele jovem tornou-se motivo para que os jovens de hoje não desistissem de seus objetivos. 


Homem-Aranha: Sem Lar Para Voltar

O mais recente filme do Teioso acaba de chegar aos cinemas nesse dezembro de 2021. O longa de Jon Watts fecha uma trilogia iniciada com Homem-Aranha: De Volta para Casa (2017) e Homem-Aranha: Longe de Casa (2019). Seu ator, Tom Holland, um jovem que tem se tornado destaque nos tapetes vermelhos de Hollywood, deu vida ao super-herói mais aclamado das últimas décadas, por conta desse protagonismo que ganhou desde as HQs. O recente filme dá sequência à participação do Homem-Aranha no time dos Vingadores que vinha recrutando os heróis mais poderosos da terra desde o longa de 2012. 

ATENÇÃO: há spoilers a partir daqui do filme  

Para seguir, é preciso dar dois passos para trás. Das HQs, o personagem foi para as séries de animação de TV e também para Filmes Animação. Nos cinemas, ele ganhou outras adaptações como a interpretada por Tobey Maguire de 2002 a 2007 e, depois, por Andrew Garfield entre 2012-2014. É importante mencionar esses dois, pois, a cultura geek já consolidada desde o início, das primeiras aventuras dos quadrinhos afirmou uma convenção geracional. O que queremos dizer é que o fan service, que, muitas vezes não foi visto como elemento significativo, fez do jovem nerd um jeito de ser, de viver, de conviver, de estudar e de aprender. 

É expressamente necessário entender que o nerd não é o magricelo de óculos redondos exagerados sobre o rosto e que não convive com a comunidade. Não afirmamos que esses jovens ainda não existem. O que afirmamos é que jovens que são julgados e discriminados por suas culturas, seus hábitos, são vítimas de um sistema ativista que vê o capital financeiro como único recurso de sobrevivência. Jovens e adultos que vão para o cinema vestidos com as cores e os uniformes de seus super-heróis, estão, com toda convicção, revelando para a sociedade que valores eles carregam e que estilo de vida eles seguem. 


Fazer a coisa certa, custe o que custar 

O novo filme de Tom Holland, na direção do Watts traz uma bula de sobrevivência, um mapa para o jovem que está em busca de seus sonhos e de suas conquistas. Parker, tem que lidar com seus erros e suas posições heroicas. O filme eleva o conceito de vilão e de maldade humana. Ninguém é tão mal que não possa ser bom. A maldade é uma doença que tem cura. E a cura é dar-se uma nova chance. A cura é o perdão pelos erros. A cura é mostrar a eles que é possível recomeçar e que é possível voltar a ser bom novamente. O problema é que vivemos num mundo que não está acostumado a perdoar sem antes estipular uma sentença a cumprir. O sofrimento nunca foi a cura, mas o amor, sim. 

Trazer de voltar o Peter Parker de Maguire e Garfield transformou as salas do cinema num verdadeiro estádio de futebol. Essa experiência pôde ser vivida em Vingadores: Ultimato (2019), quando o “Assemble” aconteceu. Três Homem-Aranha na mesma cena, contra seus vilões, trabalhando juntos para dar a eles uma nova chance era demais para os fãs. Foi motivo de aplausos, de gritos, de lágrimas, de muita emoção. Ao mesmo tempo, vemos o Peter de Holland tendo que ser um adulto, enfrentar um luto difícil e o esquecimento de seus melhores amigos. Enfrentar a dor de ter que fazer a coisa certa para salvar o mundo, mas perder sua família. 

Nas HQs, a máxima “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” não foi dita nem pelo tio Bem, como vimos com Maguire e Garfield e nem pela tia May, como com Holland. Mas, nas adaptações cinematográficas, uma frase narrada para fechar um ciclo de HQs acabou tornando-se lema do super-herói, “Amigão da Vizinhança”. A frase resume o que significa ser um Homem-Aranha. A frase é um ideal de vida para o Peter Parker e para todos os jovens com os mesmos desejos, sonhos e aspirações que ele. 


Homem-Aranha e seu legado 

A fórmula Marvel novamente cumpriu com seu propósito. Não se trata aqui em responder à pergunto dos críticos se esse é o melhor filme de 2021. Homem-Aranha: Sem Lar para voltar é o melhor filme do ano? Depende do ponto de vista. Para o fan service, sim. Ele é. Ele supera o hype de Viúva Negra e de Duna. Para o Rotten Tomatoes ele está com 95% de aprovação pela crítica. Humor na medida certa. Emoções à flor da pele. E, o mais importante: não é mais um filme de herói com um vilão sobre-humano ameaçando toda a vida da terra. É um filme de herói, no qual, o vilão é um charlatão, um ser humano, um homem mal, que usa o poder para difamar quem quer fazer o bem. O Repórter J. J. Jameson (J. K. Simons) usa um meio de comunicação para instigar o ódio e levar as pessoas a se vingarem de quem tentou salvar a vida deles próprios. 

Um dos valores mais grandiosos do longa do Teioso é o da amizade e da família. Tom Holland, desde Homem-Aranha: De Volta ao Lar, deu ao herói um forte sentimento de pertença à família, mesmo que ela se reduzisse à tia May. Sua experiência com os Vingadores que iniciou em Guerra Civil, (2016) alargou seu ciclo de amigos e também deu ao herói uma nova família. Happy Hogan (Jon Favreau) tornou-se uma figura paterna na vida de Peter que fez toda a diferença. Deu a ele um novo lar e um novo sentido para lutar. 

O grande legado de Homem-Aranha é que, não importa a sua idade, não importa o que você sacrificou, não importa o que você vai conquistar. Lançando teias ou não, assumir suas responsabilidades e acreditar no poder que tem são os passos essenciais para correr atrás de seus sonhos e buscar seus objetivos. E isso, é coisa de herói!




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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