24 Jun
24Jun

“Desde o momento em que eu me juntei à [produção de] Loki, era importante para mim, e era meu objetivo, reconhecer que Loki era bissexual. É uma parte de quem ele é, e uma parte de quem eu sou também. Eu sei que este é um passo pequeno, mas eu estou feliz de dizer que isso aqui agora é canônico no MCU” 

[Kate Herron, diretora de Loki via Twitter (@iamkateherron).  



Loki é a mais nova investida da Marvel Studios para garantir sua perenidade e atualizar discursos sociais e humanos em narrativas de super-herói. Recentemente, a DC Comics foi bombardeada ao tentar trazer para as telas uma cena mais picante entre os personagens do Batman e da Mulher Gato em que viveriam uma paixão explícita. Isso não é coisa de herói fazer, afirmaram os críticos ressentidos que se sentiram violados e abusados. 

As narrativas que grandes franquias cinematográficas construíram desde o início com suas HQs e historinhas para crianças revelam algumas falhas como essas em explorar bastante a literatura ficcional e não acopla-la com as literaturas mais reais e concretas de nosso cotidiano. No entanto, à medida que o universo e a cultura dos heróis vão se impregnando em nossa cultura, isso começa a movimentar o mercado e o saber. A cada dia percebe-se que “coisa de herói” é coisa nossa também. E isso influencia no que estamos dispostos a assistir nas telas. 


Atenção: há possíveis spoilers dos episódios de Loki 

Estreando durante o mês de junho, com episódios semanais, a primeira temporada de Loki conterá um total de 6 episódios. Conhecido como o deus da trapaça, Loki está longe de ser o melhor personagem da Marvel e muito menos o melhor vilão que ela já desenvolveu até hoje. Ademais, seu carisma, espírito cômico, humor, e o jeito espirituoso de lidar com situações ganham o gosto do público que aplaude motivos para se divertir. 

E Loki nos diverte. Loki nos faz viajar em espaços e tempos fora do nosso convencional e, portanto, viver experiências íntimas e puras. Voltando àquele ponto em que levantamos sobre a linha que divide a ficção e o real, com a indústria do entretenimento se desenvolvendo cada dia mais, os estúdios responsáveis pelas identidades de seus super-heróis começaram a perceber que essa linha divisória precisava se misturar. A ficção heroica tinha que começar a se identificar com elementos de atos heroicos que assistimos no cotidiano, e até mesmo atos políticos, religiosos e sociais. 

Quando vimos em Falcão e o Soldado Invernal a luta política que Sam Wilson teve que enfrentar para trazer à realidade um Capitão América negro em pleno Estados Unidos, percebemos que “coisa de herói” é lutar pelos direitos do povo. É lutar pela aceitação, amor social e amor próprio também. Lutar pela diversidade, pela liberdade. Coisa de herói é ser humano e fazer o que um bom homem, mulher, jovem e criança estão dispostos a fazer ao se deparar com uma vida em risco. 


O Cânone da Marvel é inclusivo e isso é coisa de herói 

A Fase 4 do MCU (que teve início com Homem-Aranha Longe de Casa), preocupa-se com a narrativa dos personagens vivendo pós-Thanos. Cada um, cada herói e a própria humanidade tenta de readaptar num mundo que lhes foi tirado e devolvido cinco anos depois. Em WandaVision, o MCU, sem rodeios, já protagoniza mulheres heroínas nas telas dando a elas um espaço de narrativas que nem mesmo o longa da Capitã Marvel nos deu. As mulheres presentes nessa série chegam para nos dizer que o cânone da Marvel se expande e não se intimida em trazer identidade feminina no mesmo páreo que os homens. Ser mulher é coisa de herói. Ser heroína é coisa de herói. 

Agora, Loki avança mais. No terceiro episódio da série o personagem num dos melhores diálogos (até agora), discutem sobre o amor. Relações amorosas do passado e interesses amorosos do agora e do futuro. Loki (Tom Hiddleston) em conversa com uma variante de uma outra versão sua, Sylvie (Sophia Di Martino) responde a ela seu interesse bissexual. Sim. Loki é bi. E a comunidade LGBTQIA+, pela primeira vez no MCU encontra seu lugar, porque isso é coisa de herói.  

É coisa de herói incluir a todos. É coisa de herói ser humano, ser gente, ser homem, ser mulher, ser o que quiser. É coisa de herói reconhecer a própria humanidade que nos cerca. O discurso narrativo que a série nos entrega a partir de então é um discurso de inclusão, de aceitação e de amor humano. Estamos vivendo um momento em que se definir LGBTQIA+ é pedir a própria morte. É se arriscar por sobrevivência. E isso sim, isso não é coisa de herói. 



“O que é o amor?  O amor é uma adaga imaginária. E quando você a pega... não é real” (Loki, Ep03).



Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.