17 Jul
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Casal de heróis da ficção de HQs da DC Comics protagonizam uma perfeita relação entre o jornalismo ético e os desafios de manter a cidade e a família seguras.


As representações de jornalistas em produções do audiovisual despertam a quem é amante da profissão um misto de desgosto com piada. Comumente vemos, em papeis da ficção ou até mesmo aqueles baseados em fatos reais, personagens que apresentam uma faceta do jornalista preguiçoso, ou aquele inocente sonhador que beira ao ridículo em busca da notícia grandiosa visando prestígio e status. Felizmente, a profissão é mais do que isso. O jornalismo não se preocupa, primordialmente, com a notícia quente e o furo de reportagem: sua preocupação primeira é coma verdade, com a defesa da vida de outrem e com a verdade na história que se dispõe a contar. 

Neste século, nasce entre o jornalismo tradicional novas fontes independentes de jornalistas que decidem “navegar” por vias pouco exploradas da notícia. Também começa a surgir a corrente do Jornalismo de Resistência que, mais que uma notícia perfeita, bem escrita e rica em detalhes apurados, este se preocupa com a luta do povo, com as minorias exploradas pelo fanatismo comercial que busca vender e lucrar sob a imagem do pequeno, do vulnerável e do pouco comerciável. Entre vias e opções, importa ao verdadeiro jornalismo ser o mais real e verdadeiro possível. Ético e responsável, sobretudo, quando a vida de outras pessoas depende do que se é noticiado. 


Lois Lane e Clark Kent, jornalistas 

Originalmente criado na década de 1930, Superman é um super-herói não-humano criado pela dupla de quadrinistas Joe Shuster e Jerry Siegel. Para esconder sua verdadeira identidade na terra, decide viver ao lado de Lois Lane e, adotando o nome Clark Kent, forma uma dupla de jornalistas no jornal local, o Planeta Diário. A versão do herói kriptoniano é interpretado por Tyler Hoechlin. Entre as mais variadas adaptações do casal para o cinema e TV, a mais recente, e, talvez, uma das melhores já feitas, chegou em fevereiro de 2021 pelo canal The CW Television Network e no Brasil pelo serviço de streaming HBO Max

Atualmente com duas temporadas e uma terceira já encomendada, Superman and Lois contém 30 episódios. É muito forte a relação da jornalista Lois Lane vivendo as tensões entre os limites da apuração jornalística e a proteção da própria família. Lois começa a se incomodar como fato de ser uma jornalista compromissada com a verdade tendo que omitir informações em nome do segredo do Superman e do perigo que sua família estaria na iminência de sofrer. Na série, Lois é interpretada por Elizabeth Tulloch que entrega para as telinhas uma Lois Lane mais centrada em sua profissão. A ponto de abandonar um grande jornal, de renome e prestígio e investir num jornal pequeno, local e que precisa ganhar respeito e visibilidade na cidade. 

Nas duas temporadas da série da CW, o papel do jornalismo protagonizado por Lois Lane foi fundamental para extirpar as fake news e informar a cidade sobre o mal que a ronda. O vilão da série só é desmascarado graças à apuração séria de Lois. O Superman consegue combater o perigo pautado nas descobertas jornalísticas de sua esposa. O que coloca o jornalismo como o verdadeiro herói da narrativa. Lois Lane se destaca como uma jornalista que prima pela ética e o compromisso social com a informação e apuração. 


O jornalismo que salva 

Salva vidas e salva tudo o que é certo e saudável para a sociedade. Em tempos de discursos de ódio, ataques violentos a colegas da profissão, desrespeito com a ética e a verdade, racismo e preconceito com quem prima pelo trabalho respeitoso e sério, é urgente emergir entre o jornalismo uma atitude coerente com a vida e com a sociedade. O jornalismo que salva pode ser inspirado na atitude dura de Lois Lane, quando decide revelar segredos que colocaram sua família em risco, mas, em nome de um projeto maior, salvaria toda a cidade. A cada dia, vemos jornalistas e suas respectivas famílias tendo que se esconder, ou conviver com guardas e proteção policial por conta de ataques e riscos de morte. 

Mas há os limites entre a redação jornalística e a proteção da família. Em tudo a ética vem em primeiro plano, mas quando a família se torna palco da notícia, o jornalista se vê diante de limites difíceis de separar o profissional e o pessoal. O trabalho e a família. Entre a verdade e a segurança da própria vida e a vida dos que ama. Os 30 episódios dessas 2 temporadas não deixam de debater essa linha tênue que divide os interesses profissionais e os pessoais que são colocados em uma verdadeira encruzilhada. 

Poder olhar para os jornalistas e o jornalismo e ainda enxergar segurança, respeito, confiança e verdade é uma urgente necessidade para o nosso tempo. A todo lugar que estamos, entre TVs e celulares, tudo o que lemos parece estar contaminado com a falsidade ou com um linguajar que destila ódio e violência. Cada um querendo ser dono da verdade, cheio de opiniões dispostas a se tornarem regra mundial. Entre as mais representações fracas de jornalistas em filmes e séries, a Lois Lane de Tulloch se destaca com seriedade, compromisso social, ética, confiança e coragem. Não teme os desafios de escancarar a verdade e os perigos que rondam a sociedade, mesmo quando eles põem em risco sua vida. E, no nosso tempo, abrir o Twitter e ver, todos os dias, o tweet da jornalista Eliane Brum, cobrando “quem matou Mariele” e contando os dias é um sinal de que o jornalismo vive e resiste e busca, diariamente a verdade.





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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