21 Aug
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Encabeçada pelo diretor e roteirista John Carney, a série Modern Love chega em sua segunda temporada sem perder o ritmo e o clima da primeira. Apostando na mesma fórmula, o streaming oferece histórias reais daquilo que é essencial diante de um mundo polarizado politicamente e perdido socialmente. No meio de tantas guerras, mortes e uma pandemia, ouvir histórias reais nos faz recuperar o que é realmente essencial: o amor. 

Modern Love tem uma história mais longa do que você imagina. As história começaram a surgir numa coluna publicada no Jornal The New York Times trazendo relatos reais de seus leitores. Segundo afirmam, quando o jornal resolveu abrir uma caixa de e-mail, eles chegaram receber mais de 80.000 “relatos de amor”. Modern Love é sobre o amor puro, esse que vemos no dia a dia. Leve, calmo, caótico, mas, amor. Amor sem interesse, comprometido, vivo. São amores modernos que se encaixam em qualquer lugar, manifestam em qualquer ser vivo e transforma qualquer relação. 

Trata-se de celebrar o real amor. Há amores românticos? Sim. Mas também somam-se as alegrias e tensões da amizade, que é um amor de alto nível, alteridade, sororidade, empático. Amor familiar que enfrenta as montanhas russas das relações, perturbações, brigas e reconciliações. Amor que supera o luto e também há o amor-próprio. O que se autorreconhece, auto-manifesta. E cura também. 


Modern Love e as múltiplas formas de expressão do amor 

A fórmula da série é simples. Até porque ela tem o compromisso de simplificar as expressões de um sentimento de forma leve e alegre. As histórias que embalam as duas temporadas – de 8 episódios cada uma – são histórias conectadas com a rua, o jardim, a praça da cidade, os restaurantes e clubes. Porque narram a nossa história. Nos vemos ali. Nos identificamos com uma amizade sincera que sofreu quando a cama se tornou palco de uma transa, mas depois superou-se e perdoou. Nos identificamos com sessões e mais sessões de terapias quando o que mais precisávamos era de um banho de chuva para lavar os trejeitos pessoais e entender que família supõe mais de uma pessoa. Nos identificamos com as renúncias quando queremos ficar perto de alguém que é diferente de nós em tudo. E esse alguém é mais que uma pessoa, é presença e tudo o que se quer é estar perto dela. 

Eu tenho uma relação muito profunda e forte com a chuva. Eu já vivi um amor assim. Leve e ao mesmo tempo, pego de surpresa. Inesperado. Mas necessário. Como se estivesse sido programado. As pessoas estão acostumadas com os amores tradicionais. Esses que são planejados. Propostos e as vezes até arranjados. Mas se esquecem que existem amores fora da caixinha. Esses que são confusos, briguentos, nada delicados, mas são amores. Amores modernos. Amores amigáveis. Amores urgentes. Amores molhados da chuva. 

O amor cotidiano não é aquele que só se vive entre um casal, a dois, ou familiar. O amor não é seletivo assim. Ele é livre, como a chuva. Ele é desprogramado, como os raios. As vezes silencioso, mas as vezes é como trovoadas. Ele é sempre comprometido, mas não pesado. Não se identifica com ares sérios, tóxicos, irresponsáveis e de cobranças. Não. O amor consegue ser livre pelo simples fato de ser algo leve e puro. 


Amores modernos para curas atuais

Tudo isso é um respirar ar puro. Crises de choro, ansiedade excessiva, tristezas profundas, uma família que não vai bem, enfrentar o difícil desafio da saúde frágil dos pais, as sequelas de uma pandemia, as tristes histórias de guerra, a violência contra mulheres, jovens e negros, o desemprego, a política falha... Infelizmente essa triste lista parece não ter um fim. Mas para todas elas a cura é uma só: o amor. E não é um comprimido, ou uma injeção. Nem é um tratamento de choque, ou sessões de radioterapia. Como cada episódio da série nos mostra. O amor está no olhar do porteiro de seu prédio. Na companhia de um universitário na viagem de trem. Na ex-marido que precisou se separar para entender o que é o amor e voltar para a família. Na traição. Na melhor amiga. Num telefonema. Num abraço... 

A coluna do The New York Times tem 16 anos que está no ar. Mais de 750 colunas foram escritas e publicadas. Modern Love tornou-se a coluna de jornal mais acompanhada e lida por todo o mundo. Hoje as histórias compõem livros, podcasts e uma adaptação para série. São histórias escritas por qualquer novaiorquino. Não eram jornalistas, roteiristas, assessores de redação, eram pessoas comuns que transitavam pelas ruas de Nova York. O jornalista Daniel Jones assumiu a desafiadora missão de toda semana selecionar uma de mais de 7 mil histórias para ser publicada semanalmente. 

O amor, ah! Ele mora no olhar. Brilha na cor de nossos olhos. Vive na intensidade daquilo que enxergamos. Há muita gente entre nós que carece desse olhar. Olhares vivos, podem ser até cegos, mas vivos. Não é a qualidade da visão que determina a presença amorosa, mas é a intensidade do brilho, da cor, da serenidade que seus olhos transmitem. Não é o casamento, não é o melhor amigo, não é o namoro, não é a atração sedutora capaz de responder o que é o amor. Mas é aquele que sabe ler seus olhos, amigo ou não, conhecido ou não. As vezes é alguém que simplesmente te atendeu num balcão, que olhou pra você por 3 minutos apenas. Mas nesses 3 minutos te amou incondicionalmente, porque quis que você ficasse bem. Porque viu nos seus olhos um brilho único e belo.




Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

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