14 Jul
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A trilogia do cineasta Ti West tem arrancado elogios do público. A chegada de MaXXXine celebra com grande estilo a sua filmografia ao consolidar o simples numa narrativa que entregou tudo, mesmo não tendo prometido nada. A celebridade de West começou muito antes de X, A Marca da Morte (2022). Cineasta norte-americano, nascido em Wilmington, EUA, West estudou cinema e se inspirou em Peter Jackson e se encantou pela franquia A Morte do Demônio tendo Sam Raimi como sua referência principal. Em 2005, West lançou Ataque dos Morcegos e dois anos depois ele lança Trigger Man, um drama baseado em fatos reais que ajudou o cineasta a ir moldando sua personalidade por trás das câmeras. Desde então, Ti West vinha lançando um longa a cada dois anos. O diretor também tem boas experiências em séries de terror para a TV. 

Em 2020 a produtora A24 convida West para dirigir X. Por conta da pandemia, que afetou as filmagens do longa na Nova Zelândia, o trabalho só chegou às telas em 2022. Com o título brasileiro X, A Marca da Morte, o roteiro e a direção assinados por Ti West nos colocam numa história pitoresca bastante curiosa: um grupo de produtores de filmes adultos resolvem alocar uma fazenda afim de produzirem o próximo trabalho. É neste contexto que conhecemos Maxine Minx, a personagem de Mia Goth que protagoniza mais outras duas obras futuras, completando a trilogia. Por mais que haja rumores de um quarto filme, é possível considerar a trilogia de West como um trabalho primoroso, que soube iniciar uma história, e encerrá-la com brilhantismo e bom gosto. 


Conheça Maxine Minx 

Maxine é uma jovem que sonhou a vida toda com o estrelado hollywoodiano. Vemos isso com mais ênfase no prelúdio Pearl (2022), um dos melhores entre os três. A jovem Maxine não teme os desafios, mas tem medo da rejeição e sua vida juvenil foi marcada por traumas. West sintoniza esta história no auge da Primeira Guerra Mundial, e o marido de Maxine, Howard (Alistair Sewell) está servindo no exército. Vemos, então, uma jovem como qualquer outra jovem que não consegue lidar com a solidão e nem com o fato de não ter um futuro que sempre sonhou. Em Pearl, Ti West injeta o seu melhor do cinema do horror: numa narrativa bucólica e simples, ele insere uma narrativa que pode se tornar muito real. 

O bom de Pearl é que o ambiente rural de X, A Marca Da Morte ganha camadas e uma sequência que é capaz de salvar o primeiro trabalho. Em X, percebemos que muita coisa nos fica sem explicação e a sucessão dos eventos ficam sem nexo. Quando percebemos que estamos diante de uma Maxine envelhecida, uma Maxine que não realizou seus sonhos e se tornou uma velha amargurada e sem amor, já é tarde demais para que consigamos nos conectar com as intenções do diretor. West é inteligente e até tentou nos proporcionar algo diferente, mas a conexão precisou de algo a mais para se tornar convincente. Mia Goth brilha do início ao fim. No mesmo filme ela apresenta a mesma personagem em tempos e jornadas diferentes: “você é igual a mim” é uma frase que só agora que ganha peso e sentido real. 

A Maxine de MaXXXine (2024) é a mesma jovem de Pearl e de X. Mas não é a mesma velha do primeiro filme. Esta Maxine se realizou, chegou onde queria. Abandonou a carreira que não a deixava feliz e conseguiu seu lugar na Calçada da Fama de Hollywood. Mesmo tendo que lidar com um passado que não a deixa orgulhosa e que pode detonar o futuro de sua carreira, ela se encontra com um presente promissor e cheio de apoio. Ti West entrega e muito neste trabalho tudo o que ele construiu desde 2005 com Ataque dos Morcegos. Para fazer filme de terror, não é preciso o terror em si, mas o medo e o pavor do que pode acontecer, dentro e fora dos filmes. 


Fazer filmes de terror também é algo bom 

Os filmes de terror sempre foram vistos como trabalhos de “segunda mão”. Os famosos Filmes B não ganham o reconhecimento que merecem. E são estigmatizados involuntariamente, sem ao menos terem a chance de se explicar o mostrar o valor que possuem. Sam Raimi, que é o grande referencial de Ti West, tem uma filmografia no gênero digna de respeito e que já rendeu grandes bilheterias ao redor do mundo. As bilheterias de Ti West podem não terem sido grandiosas, mas o cineasta ainda tem muito o que nos mostrar. Ele pode, e tomara que faça, muito mais pelo nosso cinema e pelo terror. 

A trajetória de Maxine Minx revela isso: tornar-se uma atriz famosa em Hollywood nos filmes de terror é uma resposta a toda esta estigmatização que o gênero, erroneamente recebe. Dar a Maxine um capítulo final de superação foi reconfortante. Assistir à MaXXXine e poder dizer: “ela conseguiu” é uma realização não só da personagem, mas também da atriz e do público que a acompanhou desde o começo. Mia Goth brilhou nas telas e mostrou seu valor. Uma personagem que, sem medo, levou até às últimas consequências a realização de seu sonho e do seu talento para a atuação. A violência gratuita de X, não consegue se justificar no retrato morno de Pearl, mas encontra a sua redenção no coroamento de MaXXXine. 

Portanto, toda a trilogia de merece nossa atenção. O terceiro filme traz um elenco de peso e com uma narrativa que foge do rural e se concentra em Los Angeles. Conhecemos a diretora Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), alguém que dá à Maxine um motivo para continuar correndo atrás de seus sonhos; Halsey; Giancarlo Esposito; Lily Collins; Bobby Cannavale e Moses Sumney estrelam o terceiro capítulo dessa saga redentora de uma jovem sonhadora que não se deixou abalar até que conquistasse tudo o que sonhou.




Por Dione Afonso  |  Jornalista


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