14 Jan
14Jan

A cinebiografia estrelada por um Will Smith mais introspectivo, sério, inchado e de poucos sorrisos é uma história sobre educação familiar e sobre como ser negro num país no qual a superioridade branca é quem dita as regras e determina o que pode e o que não pode um negro fazer. Contudo, a temática é abordada de forma despretensiosa e a escolha da narrativa entrega um produto final longo e sem aprofundar no assunto. Smith contracena ao lado de Aunjanue Ellis (Brandi Williams) no papel da mãe de cinco filhas negras que recebem dos pais uma educação rigorosa, mas, eficaz, no que tange ao respeito, responsabilidade social e saber humano. 

Basicamente, a história tenta dar foco às duas filhas Vênus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) que são treinadas pelo pai diariamente afim de conquistar um belo futuro através do esporte. Jogadoras de tênis, o pai e as meninas brilham a cada conquista. O mais interessante, e isso o roteiro de Zach Baylin fez uma escolha não muito sábia, é que as filhas Williams estiveram sob a tutela dos pais e puderam viver sua infância, nos dizeres do pai, “ela é uma criança e vai fazer coisas de criança”. O senhor Williams, o tempo todo, soube afastar das filhas o glamour e os holofotes da mídia, da imprensa, dos patrocinadores para que a pressão de sempre ser maior e melhor não as sobrecarregassem e as fizessem apenas mais uma atleta como qualquer outra. 


Uma mulher negra e jovem no esporte 

Não só negros, mas negras. Negras mulheres e jovens que se destacam, pela primeira vez, numa competição esportiva na qual o povo delas não é representado desde sempre. O único diálogo que vale a pena no filme de mais de duas horas de duração é quando a filha Venus briga com o pai quando ele não a deixa competir no campeonato. Tentando consertar as coisas, ele percebe que sua menininha já é uma pré-jovem que tem sonhos e que quer dar mais um passo. Está na hora da pequena menininha fazer suas escolhas e pôr em prática toda a educação que a família deu a ela. 

Que pena que essa cena não dura mais. Mas, logo em seguida, tudo é transportado para o campeonato. E Venus, de fato, faz as escolhas dela, o que orgulha sua família. No final, a lição que o longa nos traz é a de uma família pobre, negra, excluída que, entre um emprego e outro, faz tudo para os filhos. Educa-os. Ensina o valor da escola. De aprender línguas diferentes. Tudo sem recursos de programas governamentais. Tudo feito na simplicidade da casa. Assistir ao filme da “Cinderela” e perguntar às filhas qual é a maior lição do filme é indicar que, não importa onde chegamos, mas que sejamos humildes onde estivermos. Não esquecermos das nossas raízes, de onde viemos. 

Richard Williams cunhou a expressão, “estou criando campeãs”. Talvez o verbo gestar seria ainda mais literal ao que assistimos. Ele, literalmente gestou campeãs. Não se trata de sonhar alto demais, trata-se de sonhar o que é possível fazer, sendo quem é. A história da família Williams, que é real, é uma história que não se resume simplesmente a superação. Mas é uma história de educação popular, de amor, de conhecimento e de saber humano e social. Ao ver a proliferação da criminalidade, das drogas, da violência e da vizinhança invejosa, Richard decidiu que suas filhas não iriam viver pra sempre nesse ambiente. Elas iriam criar um mundo novo para elas. E mais, seriam as precursoras de um novo mundo para meninas como elas. O mundo iria ver nelas, que é possível chegar mais longe.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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