27 Dec
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O ano de 2021 chega ao fim. Desde quando os estúdios da Marvel haviam anunciado uma nova fase nas produções do entretenimento da ficção e sobre o futuro de seus super-heróis, as expectativas para o que viriam eram enormes, sobretudo com o casamento entre cinema e streaming. Isso significava que telinhas e telonas iriam conectar-se numa única linha cronológica, contanto a mesma história num vasto universo. Claro que a pandemia, em 2020, atrasou bastante as coisas, mas, por fim, o futuro da Fase 4 do MCU – Universo Cinematográfico da Marvel – chegou. 

A pioneira, WandaVision chegou no streaming no início do ano e veio pra mostrar algo completamente novo dentro da Marvel. Uma minissérie totalmente fora da casinha, algo inédito dentro do grande estúdio. Nós, do Cicatriz, nomeamos a série como a melhor deste ano. Conectando-se com um futuro grandioso nas produções, WandaVision celebra a história da televisão numa memória emocionante sem deixar de lado o universo a qual a série representa e seus novos personagens. 

Falcão e o Soldado Invernal chegou logo em seguida e aí vimos algo menos grandioso, não pela história que se propôs a contar, mas pelo formato. A Marvel ainda precisa entender melhor o universo que ela explora que é a televisão. Vimos muito também com Loki e Gavião Arqueiro um grande filme picado entre episódios que não fizeram muito sentido terem sido pensados para as telinhas. É algo mais sobre o formato que a narrativa. Ademais, essa nova fase se concentra, num primeiro momento, em mostrar como que os heróis tentam lidar com a perda, com a derrota, com o luto – com o blip – e como a vida de cada seguiu com esse descompasso cronológico. E aí, o ano de 2021 se encerra com Clint Barton tendo que lidar com os fantasmas do passado. 


Mais que uma redenção, uma humanização 

Na grande celebração dos 60 anos de Quarteto Fantástico, os primeiros heróis da Marvel, a Fase 4 do MCU lança a sua quinta produção em 2021 para o streaming: Hawkeye, ou, como chamamos, Gavião Arqueiro. Clint Barton (Jeremy Renner) retorna a viver o herói de arco e flechas ao lado da novata, Kate Bishop (Hailee Steinfeld). Ambientada dois anos após os eventos de Vingadores: Ultimato, Clint volta em Nova York com seus filhos para passearem e terem um momento em família. Tal retorno revela um humano visto como um herói pelos novaiorquinos. Vemos o Vingador tendo que lidar com o grande peso de ser visto pelas pessoas com gratidão e salvador de tudo o que fez pela cidade e pelo país. 

Parte dessa volta é narrada por um segundo ponto de vista: de Kate. Vendo a invasão alienígena de 2012 e a torre de Stark como palco central da guerra comandada por Loki e ordenada por Thanos, vemos novas cenas daquele terrível dia para Nova York. Da cobertura de seu prédio, Kate Bishop vê o Gavião Arqueiro lutando apenas com um arco e flecha e salvando a sua vida. 

A partir dessa introdução, somos inseridos na narrativa que nos importa e que vem sendo construída desde WandaVision: a superação de um luto e o recomeço de nossas vidas. Clint ainda vive com a culpa e a dor da saudade pelo sacrifício de Natasha Romanoff em Vormir. Além disso, a sua perca de audição por conta das inumeráveis empreitadas junto aos amigos Vingadores o humaniza ainda mais. Já que, desde o time do Quarteto Fantástico, o grande diferencial da Casa das Ideias era o de quebrar aquela ideia de construir herois imortais e inumeráveis. Não, o eterno Stan Lee sempre quis humanizar seus super-heróis, o que contribuiu e ainda contribui com a nossa aproximação a eles. Nós também somos heróis. E Kate vive a dor da perda do pai e se mira no heroísmo de Clint Barton e segue seus passos. 


Antigas ameaças e a importância da diversidade 

Estamos diante de uma produção natalina – como se não tivéssemos uma gigante lista de filmes de Noel para assistir –, um clima que também remete à família, reunião e celebração. O diferencial é que o Natal invade o universo dos heróis e isso entrega uma novidade muito interessante para nós. Mas, não só, a série tem o compromisso de reforçar uma grande ameaça e também, inserir Maya, uma personagem surda e que usa uma prótese na perna esquerda. Com novos personagens, vemos que precisa-se de uma nova trama. 

Barton dá show com suas lutas entre flechas e arco e percebe que algo maior está para acontecer. Cenas minimalistas e com planos destaques e detalhistas nos fez sentirmos como aquela criança chupando um pirulito e, de repente, ele é tirado de nós. Mas sabemos que ele existe e que não temos acesso a ele (por enquanto). É isso que sentimos ao nos concentrarmos no arco da Maya. Alguém muito maior está por trás de tudo isso. O contato de Clint com seus filhos e a esposa, Laura Barton (Linda Cardelinni) também ganha mais tempo de cena. Essa forte conexão com a família combina muito bem com o ambiente de Natal, já que a série vai se aproximando ainda mais da grande noite. 

A fórmula Marvel entra em ação quando o último arco da série se inicia. A chegada de Yelena Belova (Florence Pugh) é esporádica, mas muito eficaz e poderosa. A assassina Viúva Negra chega já numa sequência de lutas muito bem coreografada. Três mulheres em foco, Bishop, Belova e Maya, vão se revelando mais fortes do que o que parecem ser. A reescalação de Vincent d'Onofrio revivendo o Rei do Crime representa uma ameaça que só vai crescer tanto em poder e ameaça, quanto em nostalgia.


Família, luto, segredos... 

Custe o que custar: foi o grande discurso final de Steve Rogers, o Capitão América em Ultimato. E trazer esse refrão de volta em Gavião Arqueiro foi nostálgico e encaixou muito bem. Por ser uma série mais pé no chão, assim como aconteceu com Buck e Wilson, a série entregou um arco muito bem resolvido e concluído. Soube dar o destaque necessário para o velho Vingador e sua dor. Soube emocionar e nos maltratar com as memórias de Natasha Romanoff, soube valorizar o crescimento e desempenho dos novos personagens e soube concentrar forças suficientes no grande vilão. 

Mais do que isso, soube ser família. Gavião Arqueiro é uma série sobre família. Revelar no final que Laura era uma antiga Agente da S.H.I.E.L.D. foi grandioso e explicou muita coisa que precisava de respostas. Yelena Belova também vivia um luto não-aceito. Ela precisava de aceitação. Aceitar que o que se perdeu, perdeu e não volta mais. E sua dor foi notória e humanizadora. Mesmo não sendo a melhor série do ano e nem a melhor da Marvel nesse primeiro ano da Fase 4, a produção cumpriu com o que prometeu cumprir.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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