07 Jul
07Jul

Na primeira quinzena de julho de 2021, acontece o 74º Festival de Cinema de Cannes. Com um júri comandado por Spike Lee, o festival celebra com muita esperança o evento depois de passar por um ano nas sombras. Por conta da pandemia da covid-19, em 2020 o Festival teve que se cancelado. Celebrar o cinema, essa sétima arte é uma oportunidade de desafiar as culturas de repressão e de morte que rondam os nossos países, que afetam a sociedade e tiram de circulação homens e mulheres que só desejavam viver. 

A arte não é uma metáfora da vida. Quer dizer, não é a vida que imita a arte, isso não se trata de uma encenação. Vida e arte são como que um espelho que reflete simplesmente o que se vive, aquilo que acontece no dia a dia. O cineasta Spike Lee, em seu discurso de abertura do Festival não se intimidou ao denunciar ao redor do mundo governos como o do Brasil chefiado por Jair Bolsonaro, nos Estados Unidos que teve Donald Trump e Vladimir Putin na Rússia. Homens como esses que, segundo Lee, são gangsters entre nós, pessoas sem moral e sem ética que trabalham para tirar do povo a sua memória, seu passado e sua cultura. 

E é sobre isso! A arte é a vida pura e simples. Por vezes notória, célebre, gloriosa, mas, infelizmente ela é cruel, pesada demais, densa, sanguinolenta, perversa, porque a arte retrata a própria vida que está assim, sobrevivendo a governos sujos e sem humanidade. 


Não há história e memória se não houver fomento à cultura 

Assim como o jornalismo, a literatura, o esporte e a arte são ferramentas, que nos permitem não esquecer de nossa história. Nossas origens e a identidade que construímos. É nossa missão NÃO DEIXAR O POVO SE ESQUECER. E não vamos deixar. Porque a arte grita, o livro denuncia, o jornalismo comunica. Esbraveja e não se cala diante do mal. Se falta políticas culturais e consciência governamental em volta do acervo cultural do próprio país, nós não nos calamos. Governos sem consciência, gera um povo sem memória. Povo sem memória resulta num país que se perde em sua história. 

O Festival de Cannes deste ano traz o maior número de amostras de filmes rodados antes e durante a pandemia. São 24 obras. Na tentativa de não só recuperar o tempo perdido, mas também de mostrar que se nem a pandemia foi capaz de calar a arte, não vai ser um governo que fará. Infelizmente há uma falha em relação a América Latina que não apresentou nenhuma obra para o Festival. 

A arte como denúncia está presente em movimentos como o #MeToo que denuncia abusos sexuais e também nos movimentos antirracistas, Spike Lee escancara o nojo por países (como o seu) que ainda “caçam os negros como se fossem animais”. Além disso, as minorias de nossas comunidades como LGBTQIA+, mulheres, indígenas, jovens, negros, encontram na cultura e na arte um caminho para desabafar e desmascarar os responsáveis por tirar vidas de homens e mulheres pelo país. 


Cultura Brasileira, Cinemateca e o descaso do Governo 

O brasileiro e cineasta Kleber Mendonça Filho consagrado pelo seu último trabalho, até então, Bacurau, fez coro a Lee e afirma que uma das formas de resistir a todo esse sistema é continuar denunciando em nosso trabalho o desmonte da cultura como está acontecendo com a Cinemateca Brasileira situada em São Paulo. Desde o ano passado, em 2020, no auge da pandemia, o Governo cortou as verbas responsáveis por manter o acervo ativo. Demissão de funcionários e descaso com as obras foi assinado às escondidas. 

#ORaioAcerta onde falta humanidade. “O Raio Acertou” onde falta consciência humana e cultural num momento em que o país mais precisa de exemplos e incentivos à cultura local. A Cinemateca de São Paulo que foi fundada na década de 1940 é o maior acervo de audiovisual da América Latina e a quinta maior do mundo. A presença de cineastas brasileiros em festivais de cinema e até mesmo no corpo de júri do Oscar é um respiro de esperança e uma porta de denúncias e gritos de socorro para o mundo: salvem a nossa cultura! Salvem a nossa história! Salvem a nossa memória! 

O que está acontecendo com a Cinemateca do Brasil é um exemplo claro da falta de interesse e consciência política com a cultura e a arte. Além de indicar a repressão e a censura. Impedir que se expresse, reprimir a própria liberdade. A arte salva. Liberta. Humaniza. Logicamente que se um governo não incentiva a arte, é porque falta em seus governantes consciência humana e social. Não entenderam o que é arte, de fato.



Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

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