24 Apr
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Fallout é um jogo de videogame que chegou a nós em 1997. Sua narrativa compreende um apocalipse nuclear que tornou a terra inabitável em sua superfície. Para sobreviverem uma empresa – e aqui você já pode incluir as políticas corruptas e a meritocracia – decide criar refúgios por baixo da terra onde, as pessoas poderiam reconstruir suas vidas. Ambientada no ano de 2277, duzentos após as bombas nucleares devastarem a terra, um desses refúgios, o de número 33 torna-se ponto principal para que a narrativa desta história inicia sua jornada. 

A história segue Lucy MacLean (Ella Purnell), que decide sair do Refúgio 33 depois que seu pai foi raptado por habitantes da superfície que invadiram os refúgios. Na superfície, toda a cultura e moral que sustentam sua vida, a famosa “Regra de Ouro” é posta em cheque quando a jovem encontra habitantes hostis à presença de outras pessoas. Como todo jogo, aqui temos uma vilã: senhorita Moldaver (Sarita Choudhury) que, em seu último ato, no último episódio, revela a verdadeira história da catástrofe que destruiu o mundo 200 anos atrás. 


Uma jornada otimista 

Lucy, na superfície conhece Maximus (Aaron Moten) um cavaleiro da Divisão de Segurança, uma espécie de Guardiães da Ordem – só que não – que também apresenta certa ingenuidade à narrativa ou diante do mundo. O que nos incomoda um pouco, partindo da premissa que o avançar das descobertas dos resultados que a radiação causa nos seres vivos surpreende-nos. Purnell entrega uma boa protagonista, ingênua demais, mas boa. Talvez nos jogos originais é assim que a história se desenrola. O otimismo desta história se revela grandioso quando se propõe num contexto em que outras narrativas muito semelhantes se fazem páreas a esta. 

A beleza dos figurinos, a fotografia e a criação e produção da dupla já conhecida nossa, Lisa Joy e Jonathan Nolan é muito perspicaz e de tons agradáveis e bem postos. Os roteiristas e showrunners já não são muito conhecidos, mas Graham Wagner e Geneva Robertson-Dworet também realizam um belo trabalho e sabem manter a originalidade da história. Em sua jornada, a jovem Lucy também se alia ao inesperado Necrótico, interpretado com maestria por Walton Goggins. Goggins entra na história nos aludindo à vilania, contudo, a imagem é logo desmistificada, graças ao poder de atuação que o ator nos entrega. Ele é muito bom e está perfeito no papel! 

A jornada de Maximus também é significativa e, por mais que tenha ficado em segundo plano, ela ganhou notoriedade dado ao contexto do passado. Maximus é um sobrevivente das bombas e foi resgatado pelos Cavaleiros. Sua história ainda ganhará novos e preciosos capítulos. O sentimento de amizade misturada a outros possíveis sentimentos com Dane (Xelia Mendes-Jones) também poderá nos surpreender, bem como o futuro de Thaddeus (Johnny Pemberton). Há muito mais do que enxergamos entre Maximus e Dane e gostaríamos que isso se revelasse numa nova leva de episódios.


A luz brilha no horizonte 

Mesmo que seja um horizonte turvo, Moldaver consegue restituir a iluminação entre as ruínas de uma cidade inteira. Uma das cenas mais fortes nos é entregue no último episódio quando Lucy é colocada diante da verdade – e dos crimes do pai, Hank MacLean (Kyle MacLachlan) e diante do corpo de sua mãe, já zumbificada, uma morta-viva que perdeu os sentidos. A dita empresa no início deste artigo não só planejou o recurso de sobrevivência por baixo da terra, como também lançou as bombas para que tudo pudesse ser feito como desejariam, o que ganhou o nome de desastre nuclear. 

Nolan e Joy conseguem nos colocar numa dupla jornada: uma luz que brilha no horizonte e um horizonte que não tem nada para nos revelar. E isto causa em nós um estranhamento em relação ao futuro da humanidade. Tal sensação coloca-nos num sentimento, primeiro de descrença e de que tudo o que estamos criando hoje, os avanços tecnológicos que estamos conquistando hoje não terá nenhum resultado positivo para a humanidade. E, que, diante da guerra, diante do desastre ambiental, nuclear, e até mesmo, social, não teremos muito ao que recorrer. 

Fallout, diferente de The Last of Us, está nos fazendo questionar sobre a vida do agora e ao que será do futuro. Enquanto a segunda trata de um acidente de laboratório que espalha um vírus mortal condenando toda a humanidade. O caminho de Fallout é exatamente o contrário: o desastre não é um acidente. Ele é provocado e com um único interesse: “purificar” a humanidade afim de fazer com que sobreviva apenas as raças perfeitas e dignas de passar gerações. A descoberta do irmão de Lucy, Norm MacLean (Moises Arias) é o retrato do que os poderosos de hoje talvez sonhariam para o amanhã. Vamos hibernar os melhores do mundo afim de que só eles possam habitar a terra do futuro. Os pequenos, pobres e sem vez extinguirão de nossas vidas para sempre.




Por Dione Afonso | Jornalista

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