23 Sep
23Sep

Criada por Patrick McKay e J.D. Payne, série é baseada nos originais de J. R. R. Tolkien. Os fãs estavam ansiosos por voltar à Terra-Média e encontrar aquela toca farta de comida, quentinha e aconchegante dos hobbits. Contudo, esse retorno não foi tão confortável assim, não é mesmo? A ambientação da série remonta ao passado, bem antes dos eventos que conhecemos dos cinemas, tanto da trilogia de O Hobbit, quando do O Senhor dos Anéis. As terras do sul se aliam ao Senhor do Escuro e a Terra-Média pode se resumir mais a morte e cinzas que um lugar agradável. A primeira temporada ainda é entrelaçada por questões políticas de poder, sucessão e conflitos passados. O povo dos Pés Peludos, funcionam como um respiro sereno, carismático e cômico no meio de toda essa burocracia governamental. 

Mesmo faltando poesia e magia na nova série do universo do “O Senhor dos Anéis”, a produção da Prime Vídeo, Os Anéis de Poder concentra sua ideologia na força do pequeno, na mudança que pode começar por um povo menos favorecido, na amizade e confiança entre povos divergentes e na força e poder da Luz que cria e nos encoraja. Falta encanto, beleza e poesia, por exemplo, no deslocar dos povos élficos. Desde seus coadjuvantes até os que protagonizam a história. A nova Galadriel de Morfydd Clark não “dança” com a mesma sutileza e elegância que vimos com Legolas; o mesmo se encaixa com Arondir (Ismael Cruz Córdova), elfo da floresta e com Elrond (Robert Aramayo). 

Quando entramos nas minas dos anãos, também carecemos daquela esperteza, brutalidade e falta de simpatia dos pequenos grandes seres. Durin IV (Owain Arthur) é de coração mole, afetuoso e pouco brincalhão. Mesmo mantendo uma infiel comparação da trilogia original e da adaptação de O Hobbit, pois são mídias diferentes e, portanto, possuem linguagens e roteiros próprios, em Os Anéis de Poder, repete-se a filosofia de que para grandes eventos no mundo não é preciso seres de grande importância, nome ou significado. “Até mesmo a menor das criaturas pode mudar o curso da história se assim ela o desejar”. É o tamanho do coração que importa, pois é nele que habita a bondade e o querer. 

Há um enfadonho problema de narrativa: o adiamento do “grande ato”. O que ele será, com quem será e o porquê dele acontecer pode não ser o suficiente para segurar o público e manter o interesse pela história. A amizade entre um elfo e um anão protagonizada por Elrond e Durin é um presente. Nos provoca certa nostalgia e nos permite celebrar um grande dom que precisa ser mais praticável entre os homens. A linha entre a proteção da sobrevivência de seu povo e o cumprimento da promessa do seu melhor amigo é uma linha tênue que, de fato, testa a nossa credibilidade e fidelidade. Ser fiel ao amigo ou salvar seu povo usando da desonestidade? 

Com cinco episódios já lançados, – a primeira temporada terá um total de oito episódios – a série fechou seu primeiro arco estabelecendo cada povo, transmitindo a filosofia de vida de cada um e nos oferecendo o mínimo do mínimo de cada personagem. O segundo ato se abre com a promessa de uma grande guerra se erguendo nas terras do sul, famosas por terem se corrompido pelas Sombras por se aliarem ao inimigo. Ao lado de Galadriel, o rei herdeiro Halbrand (Charlie Vickers) decide retornar para o lugar que sobreviveu ao fugir e, para a única terra que desejou nunca mais pôr os pés. 

A simplicidade da história e a liberdade criativa com que os criadores mantêm com a obra original, por enquanto, conseguem garantir o desenrolar da narrativa. Muitas promessas, segredinhos, surpresinhas que nunca chegam precisam ser muito bem alimentados por teorias, suspenses, medo ou até mesmo por uma aguçada curiosidade do público. “Há uma tempestade em mim”, repete por várias vezes, a elfa desertora Galadriel. Mas repetir isso a cada episódio com demasiada demora em, pelo menos, dar dicas de que mal é esse pode empobrecer o roteiro e minguar o interesse do público.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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