15 Jan
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Que produções com temas adolescentes e juvenis tem rendido bons resultados no mercado do entretenimento, isso já é claro entre nós. Briguinhas entre colegas, ambiente escolar, muitas cores e batidões da música, alegria, diversão, sexo e jogos são os temas mais recorrentes. Algumas poucas produções fogem a essa regra com o intuito de produzir algo mais inovador, mais real e sombrio. Entre essas produções, Euphoria de Sam Levinson é uma minissérie de origem israelense com roteiro de Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yardeni. Ao abordar experiências pessoais de um grupo de jovens e adolescentes do ensino médio, temas como o uso de drogas, relações de amizade, sexo, bullying, aceitação, sexualidade e inseguranças em suas escolhas são abordados de uma forma bem mais impactante, viciante e sombria. 

O que define, também, este aspecto mais bruxuleante é a sua emissora, a HBO. A falta de cores mais vivas e alegres e o uso escrachado do neon que empolga, domina e nos vicia faz com que a casa que acolhe a produção mantenha seu estilo fotográfico e estético. Protagonizada por Zendaya, a primeira temporada (2019) rendeu à jovem atriz o prêmio do Emmy, classificando-a como a mais jovem do ramo a ser premiada em 2020. Hoje, Euphoria está em sua segunda temporada. O primeiro episódio, lançado na noite de domingo (09) foi tão aguardado por fãs e simpatizantes da obra, que o número de espectadores bateu o recorde de Game Of Thrones. Com quase três anos de espera, Euphoria tem episódio mais assistida em toda a América Latina e a mais vista da plataforma HBO Max. 


Uma série sobre jovens proibida para o público jovem 

Mesmo tendo um roteiro que acompanha um grupo de jovens do Ensino Médio, a segunda temporada teve uma faixa de público ainda menor. A série tem sexo explícito, nu frontal e muitas outras cenas horripilantes que até mesmo para quem é adulto, sente repugnância em assistir. Zendaya é Rue Bennett, uma adolescente de 17 anos que encontra consolo para sua depressão no uso de drogas quando seu pai morre. A jovem é uma personagem bastante extrovertida, alegre e muito fácil de se dialogar. Contudo, a crise da perda do pai a fez perder o prumo e o sentido da vida. Como qualquer outro jovem, que também perde sua referência adulta, assistimos Rue se aventurando em novos caminhos regados a cocaína, crack, e outros LSDs pesados que a levam ao vício desenfreado. 

No elenco, também temos a Jules (Hunter Schafer). Uma jovem que tem um passado cruel e abusivo. Trans, Jules se conecta com Rue de uma forma intensa e profunda, proporcionando às duas, um novo sentido para seguir com suas vidas. A presença de Rue no universo dos usuários começa a diminuir. E uma tentativa de recuperação e de abandono a todas as químicas que a viciam é vista como uma possível luz no fim do túnel. 

Contudo, na vida de um jovem, quando não se tem alguém do outro lado, mantendo essa luz acesa, os rumos começam a cair na penumbra novamente. A recaída é a única certeza dessa vida. Não precisa nem de traçar esse retrato a um jovem. Um adolescente entre seus 9, 10 anos, também começa a se redescobrir – mesmo que precocemente – e a perceber que outro estilo de vida existe, para o bem, ou para o mal. 


O retrato de uma geração vazia em busca de sentido 

É sempre em busca de algo. O que buscam? Quando assistimos ao primeiro episódio da segunda temporada, vemos um ambiente mais hostil, mais brutal, mais violento. Ficamos com medo. Assustamo-nos. E começamos a nos questionar se é isso mesmo. Se é assim. O mundo do crime organizado, da distribuição de narcóticos ainda é obscuro para nós. Mas de uma coisa sabemos: ele é cruel, desumano, desleal, sem compaixão e assassino. E existe, mais perto do que podemos imaginar. 

Chega a um ponto que nem mesmo o ato sexual entre dois jovens cheios de hormônios e energia é mais suficiente para os fazerem felizes e completos. Vemos os jovens imersos em completa ruína. Tudo desmorona ao lado deles, inclusive o interior de cada um. A volta ao passado de Fezco (Angus Cloud) foi essencial para entendermos como que aquele jovem tornou-se um grande peão para a distribuição das drogas em sua região. Em seu passado, o abuso, a violência, os maus tratos eram as únicas cenas possíveis em que ele experienciava. No entanto, ao ser “resgatado” por uma “avó”, ele mergulha de cabeça, com ela, no mundo do crime organizado e ambos começam a expandir os negócios do vício. Entendemos também como que o seu “irmão”, o Cinzeiro também se torna um peão nesse mundo. 

Enfim, com a segunda temporada no ar, com novos episódios semanais, aos domingos, vemos Euphoria mergulhar com tudo num beco que não parece ter saída para a saúde mental. Mas Levinson, ao que tudo indica, é exatamente isso que ele quer fazer: não existe um final feliz para isso tudo. Não foi assim que a primeira temporada começou e nem muito menos iniciou a segunda. A vida de adolescentes e jovens que conhece a fundo as drogas e o vício por narcóticos não é uma vida plena e feliz, é uma vida eufórica, como o próprio título da produção indica. E euforia é passageira, porque ela não cuida da alma, apenas do bem estar físico. E isso acaba um dia.



Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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