30 Jul
30Jul

A segunda temporada chegou! Depois de um primeiro ano reverenciando originalidade e paixão entre as figuras célebres Louis du Lac e Lestat de Lioncourt, agora, a nova leva de episódios estão encharcados de um roteiro dramático e cansativo, mesmo que tenha nos entregado um final de temporada majestoso e grande. As reviravoltas de roteiro, os diálogos e o pé mergulhado na teatralidade vampiresca de Paris, o tom cinza e turvo é o que nos distancia radicalmente da adaptação cinematográfica de Neil Jordan, em 1994. Mas isso não desmerece a série de TV. Pelo contrário, confere a ela um novo capítulo de uma história que ainda tem muito a nos contar. 

Louis du Lac (Jacob Anderson) vive em harmonia com seu companheiro Armand (Assad Zaman), na cobertura de um dos prédios mais cobiçados do Emirados Árabes. Ao lado dos dois, temos o jornalista Daniel Molloy (Eric Bogosian), antigo conhecido dos dois, que empreende o seu maior trabalho de toda a vida: entrevistar um vampiro. Entre idas e vindas, enquanto, num primeiro plano, Molloy faz muito bem o seu trabalho jornalístico investigativo, no outro plano, a história vai acontecendo séculos atrás. Nesta nova temporada ganham destaque os personagens coadjuvantes: no teatro, o vampiro Santiago (Ben Daniels), e na cobertura, o serviçal Rashid (Bally Gill). Lestat de Lioncourt (Sam Reid) aparece como uma peça fora do tabuleiro, mas, é sobre essa narrativa de quedas e ascensão que vamos falar agora. 


Quedas e ascensão dos personagens 

O que nos segurou durante toda a temporada foi a investida em revelar a derrota, o desmerecimento, a queda, a dor, o fracasso, a perda de cada personagem. Começando por Claudia, que ganhou duas atrizes intérpretes: Bailey Bass e Delainey Hayles. O movimento de queda da vampira Cláudia aparece logo nos primeiros minutos da temporada quando ela não consegue perdoar Louis por não ter dado fim a Lestat. Portanto, numa busca desenfreada, visitando países após países, com seu silêncio matador ao lado de Louis e sua fúria descarregada em corpos humanos, Cláudia empreende uma busca essencial para a sua ascensão: onde estão os outros iguais a nós? Cláudia sonha em conhecer outros vampiros; se relacionar com outros iguais a ela; fazer parte de uma “família. E ela consegue. Conquista sua ascensão no Teatro de Vampiros – Théâtre de Vampires – em Paris. Queda e ascensão. 

Louis du Lac também não fica refém deste movimento. Sua queda tem dois pontos: o primeiro está ligado à Cláudia e o segundo a Lestat. O fato de não conseguir dar fim ao homem que ele ama e que o persegue em seus pensamentos o consome. A queda de Louis é uma tortura a ponto de não conseguir dar seguimento à sua vida. Quando ele e Cláudia chegam a Paris, Louis desenvolve uma estranha paixão por fotografias, uma falsa ascensão que o liberta – na verdade, é uma farsa – daquela dor, sofrimento pela perda de Lestat. No primeiro plano também há quedas: com a investigação jornalística de seu amigo Molloy, Louis du Lac descobre a traição e as mentiras que Armand acobertou, afim de se fazer o único amor de toda a sua vida. Sua ascensão nos entrega uma das mais belas cenas desta temporada e ela está nos minutos finais do último episódio da temporada. 

Não há queda e ascensão nem para Lestat e nem para Armand, pelo menos, não nesta única temporada. Armand encara a queda de toda a sua vida, de tudo o que construiu com seu jeito perigoso, mas patético... até porque, segundo ele, foi por amor... Mas, haverá alguma ascensão? Talvez, isto se concretize em capítulos futuros. Contudo, há queda e ascensão para Daniel Molloy, pois, sua investigação também revelou o seu próprio passado. Mostrou coisas a seu respeito e que ele não sabia, ou que foram apagadas de sua memória. Sua queda se dá no simples fato de ter sido abandonado pelos vampiros que conheceu há algumas décadas. Sua ascensão? Tornar-se um deles. Isso mesmo! Molloy torna-se um vampiro, não de forma programada, mas, talvez, pode se tornar uma vingança premeditada, já que Louis du Lac e Armand não estão mais juntos por culpa das descobertas de Molloy durante as entrevistas. 


Reviravoltas e poder 

Molloy se tornar um vampiro não é a única reviravolta do fim desta temporada. Também vemos um Louis du Lac mais forte, mais poderoso, mais irritado e mais disposto a qualquer coisa. Só faltou vê-lo voar. Molloy sai de uma primeira temporada como um jornalista fracassado, com dívidas e sem sucesso para uma segunda temporada como alguém que dá entrevistas na TV e que vendeu mais de 5 milhões de exemplares de seu livro ficcional “Entrevista com um Vampiro”. Rolin Jones, o criador da série consegue equilibrar a originalidade de Anne Rice com uma textura e fotografia impecáveis na tela. Algo parecido podemos ver na série do mesmo universo As Bruxas MayfairDo mesmo universo dos vampiros, renovada para sua segunda temporada, a série traz a mesma textura e fotografia que estamos acostumados com a dos vampiros. Claro, há mais cenas diurnas, o que é óbvio. 

Mesmo abraçando a dor de seus personagens, a narrativa de queda e ascensão foi uma escolha original para dar vida a uma narrativa enfadonha entre um jornalista e seus entrevistados. No terceiro ano já temos informações de que veremos a ascensão de Lestat como um cantor nato e original. Quem sabe isto num possa conferir um tom mais cômico, já que este segundo ano nos entregou mais melodrama do que deveria. Com a morte de Claudia, talvez não a veremos mais futuramente. Mas a série continua seguindo seus protocolos de manter viva a memória e a irreverência de Anne Rice nas telas. A segunda temporada fica muito maior e melhor do que a primeira. Aprimora seus conceitos e nos entrega prazer, dor, morte, renascimento, fogo e muito perigo.



Por Dione Afonso  -  Jornalista

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