25 Jul
25Jul

Com ligação direta de Logan (James Mangold, 2017) e sequência das duas temporadas de Loki (2021-2023), Deadpool e Wolverine chega às telonas coroando a indústria do entretenimento que teve os seus anos de glória na década de 1990. Tal afirmação se dá a uma trilha sonora que nos remete a estes tempos gloriosos e a east-eggs e referências que também só entenderá quem viveu. A cada cena não vemos apenas as piadas referentes ao antigo universo dos mutantes e dos X-Man, mas assistimos a tudo o que envolveu a venda dos estúdios da FOX e com tudo o que ela interfere, desde seus personagens a franquias que ficaram no passado. São décadas que o filme de Shawn Levy não só homenageia, mas também ironiza, encaixando piadas que escancaram erros e acertos da indústria do audiovisual. 

A diversão ao assistir Deadpool e Wolverine é garantida. Vale o ingresso; vale a sua ida ao cinema; vale o combo de pipoca; vale as gargalhadas. Contudo, estamos diante de uma narrativa que não se conecta a um passado Marvel e não indica para nenhum rumo futuro. É sem nexo, é um show de piadas, mas nada além disso. A interação entre Ryan Reynolds e Hugh Jackman que reprisam seus papéis-título é esplêndido de se assistir nas telas. Temos, de um lado um anti-herói desbocado e falastrão e de outro um herói mutante carrancudo, sem carisma e empatia e que não tem amigos. Enquanto o primeiro tenta levar uma vida mais “tranquila”, o segundo está em busca de redenção – de novo – e ambos, numa impossível missão em equipe, tentarão salvar o mundo. 


Autocrítica e saudosismo 

Há num determinado ponto, enquanto o roteiro continua tirando sarro dos estúdios, temos a impressão de que o filme afirma, ou tenta afirmar, que o passado que vivemos foi o melhor que tivemos. Cresce aquele sentimento saudosista que – sem querer dizer sim ou não – fomos felizes um dia e a gente não soube aproveitar. A narrativa não teria outra opção em seguir a não ser buscar abrigo no multiverso e, mais uma vez, ameaçar a Linha do Tempo Sagrada. Encaixe perfeito para o que aprendemos com as duas temporadas de Loki, em que o personagem-título se sacrifica para manter tudo em ordem. O Wolverine que conhecemos neste filme é um mutante que se amargura pelo fim do X-Man e que se culpa pelo fracasso em seu universo. Deadpool, escolhido para salvar a Linha Temporal, empreende uma busca por outros multiversos até encontrar um mutante disposto a voltar a lutar pelo o que acredita. 

Em Deadpool 2, o personagem termina o filme em posse de um dispositivo de viagem temporal. O anti-herói o usa afim de viajar no tempo e ir até Tony Stark para pedir uma vaga nos Vingadores. Ironicamente, Deadpool se encontra com Happy Hogan (Jon Favreau), e no seu escritório há itens que reverencia o time original dos seis Vingadores. A conversa entre Deadpool e Hogan acontece dois meses antes do estalo de Thanos. Vale lembrar que Favreau também faz parte do universo Marvel encerrado na FOX. É nessa busca que acontece uma homenagem perfeita às HQs. Vemos diversas versões do mutante com garras de metal, desde o Wolverine baixinho da HQ de 1999 – teria ficado ainda melhor se Daniel Radcliffe tivesse feito este Wolverine, já que o ator tem pouco mais de 1,60m de altura –, ao de tapa-olho e àquele que é crucificado, pregado num enorme X, referência direta à clássica HQ de 1989. A piada ao Universo da DC de Snyder também aconteceu, com o ator Henry Cavill interpretando uma das versões de Wolverine. 

Bom ou não, saudável ou não, fica claro que toda a narrativa do filme gira em torno do sarcasmo e da piada com o outro estúdio que não existe mais. A aparição do ator Chris Evans como o Tocha Humana no Vazio, onde vive o monstro que se alimenta das almas que para lá são levadas é uma menção direta à piada. Reescalar Channing Tatum como o Gambit depois de seu filme solo também ter sido cancelado é mais que uma oportunidade de fazer piada, mas é um tapa na cara. Wesley Snipes também volta como Blade e Jennifer Garner como Elektra. Em nome da nostalgia, estes personagens ganhando mais uma vez tempo de tela é um afago no coração do fã e uma alegria para a vida nerd. 


E agora? Para onde vamos? 

Como afirmamos, o filme é bom. Nostálgico. Serve numa bandeja de ouro excelentes piadas e east-eggs perfeitos. Ouvir Madonna no seu sucesso Like a Prayer numa das cenas mais icônicas do filme não simboliza apenas uma trilha sonora, mas é um símbolo da cantora, dos personagens, do cinema, da música e de tudo o que a carreira de cada um representa. Madonna é um símbolo cultura que dificilmente será esquecido e superado. O filme Deadpool e Wolverine faz da piada a sua própria autocrítica contra um processo mercadológico que insiste em congelar projetos e até mesmo pessoas que não “produzem” ou não “entregam” mais com a mesma velocidade e eficácia. Mas, o filme, do seu modo, tenta mostrar o contrário e nos convencer do contrário. 

Infelizmente Deadpool e Wolverine não tem um começo e nem aponta para uma narrativa sequencial. Aos que afirmam que a Marvel voltou, é com pesar que discordamos desta teoria. Não sabemos para onde a Marvel foi, mas ela ainda não voltou. Repetimos: é legal; é divertido; foi inteligente; criativo, contudo, não passa disso. Não oferece nada além de boas risadas e de uma experiência marcante. O trabalho dos protagonistas foi bem planejado, muito bem elaborado e ressaltamos a presença positiva da vilã Cassandra Nova (Emma Corrin). Mulher poderosa e que entregou tudo no pouco tempo de cena. Corrin incorporou o poder de um mal que pode destruir tudo, ou pelo menos, controlar todos nós. A cena final em que Deadpool e Wolverine salvam a AVT e a Linha do Tempo Sagrada, nos fez lembrar do ato final do primeiro Guardiões da Galáxia, claro, sem o cunho sensual que só o personagem tagarela e safado consegue colocar.




Por Dione Afonso   |   Jornalista

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