20 Aug
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Rolar o feed, visitar perfis, dar unfollow em alguns e aceitar outros, visualizar stories e alimentar o tik-tok são práticas matinais que entram para o cronograma diário de nossas atividades em prol de visibilidade e popularidade. A linguagem corporal que o App Tik-Tok exige (e permite, inclusive) torna-se elemento central para uma comunicação eficaz via esta mídia. O recurso midiático praticamente normatiza e prega como lei a desenvoltura necessária para que o corpo físico se torne o microfone, ou seja, o porta-voz daquilo que deseja comunicar à comunidade de internautas. 

As atualizações diárias que marcam hora, lugar e definem condições sentimentais e sociais revelam uma outra identidade: a do indivíduo exposto. A maioria dos conteúdos que viralizam e tornam-se marca identitária se consagra como persona real por trás das telas minúsculas espalhadas pelo mundo sendo sustentadas por dois anulares e tocadas por outros dois polegares. De fato, o número de views, e a interação agitada se concretiza numa ideia concreta do que faz sucesso mediante ao que interessa ao público. 

No entanto, esse indivíduo que se expõe, conta sua história e narra seus feitos navega por uma linha fluída entre público/privado. De fato, resta-nos saber, se por fora dos stories seus sentimentos, ou seja, a personalidade que se prefigurou nas redes sociais, condizem com a que está neste momento sentado ou deitado com o celular na mão. É assim mesmo que você é? Estes são, de fato, a cor de seus olhos? É assim que seu cabelo se comporta? Você é mesmo assim: sempre sorrindo, carismático? Ou são filtros aplicados excessivamente afim de vender uma comunicação sem pretensão de revelar o real, mas de contar uma ficção imaginária e feliz? Você é o que você vive ou o que você posta? 

No País das Maravilhas é só a Alice que vive. Mesmo assim, ela precisou despencar por um buraco sem luz e desvendar sua personalidade. Se, por fora dos stories, você não é quem seus seguidores veem, é hora de voltar ao buraco de Alice e se descobrir como realmente é antes de viver nas Maravilhas da Vida, da comunidade e do lugar real e terreno em que se instala. Não se trata de contar passo a passo da sua vida para seus seguidores. Como afirmamos, a linha entre o público/privado está a cada dia mais híbrida e é preciso saber diferenciá-las afim de ser no máximo possível, fiel em seus perfis digitais. 

Não estar feliz é um direito seu, e de cada um de nós. Não estar acompanhado é uma condição. Não fazer o que gosta ou não trabalhar no que sempre quis são percursos da vida. Mas colocar tudo isso por debaixo de uma maquiagem (ou de um filtro do Instagram, ou uma trilha sonora do Tik-Tok) é uma escolha sua. Enganar-se a si mesmo é uma escolha sua. E, sim. São situações íntimas, pessoais que não cabem nas Redes Sociais. Não precisa ser compartilhada com quem te segue. Seguidores não são amigos. E amigos não nos seguem. Amigos ligam pra gente. Visitam-nos. Nos abraçam. Iluminam a gente. 

Que nossos stories não se tornem nem palco de desabafos e nem vitrines de bijuterias baratas. Que sejam apenas histórias... Reais e verdadeiras. Que sejam apenas o que cada perfil é. Humano. Falho, mas sempre capaz de recomeçar. 

E você, fora dos stories, você está bem?




Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

20 de agosto de 2021

Foto: Reprodução/Imagem de Gerd Altmann (@geralt) via Pixabay.

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