12 May
12May

A luz dos olhos, quer dizer, o brilho do olhar sempre foi gesto que desperta romance, paixões e muitas inspirações na arte, no trabalho, na profissão... Os olhos. Ah, “aquele olhar” que enche o peito, dispara o coração, prende a respiração, faz palpitar as emoções e suscitar a tesão por sobre a pele. É uma explosão de sentimentos e sensações num segundo, não é mesmo? Recentemente, como jornalista, vivi uma experiência na qual esse contato com o olhar ficou ausente e me custou muito caro no desenvolver da relação profissional e acadêmica. 

Descobri mais uma relação que a pandemia nos tirou: o toque pelo olhar. E eu comecei a me questionar: onde estão meus olhos que não me permitem compreender o que está havendo naquele momento. Onde estão meus olhos que até então não senti a ausência de um gesto tão pequeno, mas tão significativo numa relação humana. Onde estão meus olhos que não fui capaz de me ater a algo essencial, muito mais essencial que ir à padaria de manhã ou ao supermercado no final do mês. Onde estão meus olhos... 

Nessa gangorra de abre e fecha cidade; abre e fecha comércio, discute-se sobre a pauta das essencialidades da vida. E, parece que os homens têm se confundido essencial com o que é acessório. Com os enfeites e maquiagens que utilizamos para esconder a beleza natural afim de dar luz àquela que é produzida, consumida e verificada pela estrelinha azul do Instagram. E, a partir de então, vivemos experiências como a minha: entrevistamos alguém do outro lado da tela, em que o brilho dos olhos daquela pessoa é substituída pelos pixels de uma tela do notebook. E quando a conexão não é das melhores, daqueles montes de “Gs” – 2G, 3G, 4G... – as cores pixeladas ficam ainda mais enigmáticas me impedindo de saber se o meu entrevistado, do outro lado, está feliz, nervoso, calmo, estressado, sereno, sarcástico, triste, atrasado, preocupado com o horário, afobado, com fome, sede, sentindo calor, ou se está, simplesmente grato por estar ali, dividindo aquele momento comigo, mesmo que entre telas. 

O jornalismo encontra-se cada vez mais desafiador. E, ele vive nem constante disputa conceitual entre o lado das coisas essenciais e ao que é acessório na vida das pessoas. Enquanto ele estiver narrando histórias, transformando vidas, conscientizando e construindo pontes, ele é essencial, porque humaniza e cria relação. Mas, se ele se pautar nas notícias do lead, nos plantões da madrugada, nas cercas da fofoca em busca do furo noticioso em primeira mão para sair na frente e se sobrepor à mídia, ele vira mero acessório, porque não faz mais diferença se ele existe ou não. 

De que lado você, está? 

Onde estão os seus olhos... 




12 de maio de 2021

Dione Afonso  |  PUC Minas

Foto: Imagem de Gerd Altmann (@geralt) via Pixabay

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.