04 Jun
04Jun

Uma última atualização do aplicativo de mensagens, o WhatsApp, provocou entre os usuários grande alegria e satisfação por conta da sua mais nova ferramenta: a opção em acelerar os áudios que recebemos. Fico pensando; onde essa pressa toda vai nos levar? O que será que fazemos durante o dia que ouvir uma mensagem possa nos tomar tanto tempo assim? Por que não temos tempo para ouvir os outros? E o pior, ouvir alguém que faz parte da nossa lista de contatos! 

Aceleramos os áudios, aceleramos as experiências do dia a dia, aceleramos os nossos passos. Corremos contra o tempo para darmos conta de tudo o que planejamos fazer antes de morrermos. Diante disso, parece-nos que parar para ouvir o outro não faz parte dos nossos planos do dia. A maioria acorda antes do sol nascer, já levanta na correria, desesperado, pensando se vai dar conta de tudo o que tem pra realizar antes do sol se pôr. Há alguns anos, o aparelho celular já havia alterado drasticamente a nossa experiência humana quando suas funções foram modernizadas. Hoje, quase não se liga e o celular é capaz de fazer de tudo: acesso à internet, a documentos editáveis, até na faculdade e no trabalho, ele se capacitou com novas ferramentas. Mas, sua função primeira deixou de ser importante: ligar pra alguém! 

E tudo hoje é feito para ajudar o pobrezinho celular. Desde do mais limitado até o mais potente aparelho. Faz parte dos meus itens essenciais, um fone de ouvido, um carregador portátil, e conexão com o wi-fi. Pronto! O dia está completo. Nada mais me falta. Não me importa quem senta do meu lado. Meu celular está ali, munido com tudo o que ele precisa. Estamos acelerando a nossa vida para chegar onde? Onde queremos ir, mesmo? Nós nos encontramos com várias pessoas, desde as que dividem a casa com você até aquelas que topa no transporte público, ou se esbarra nas calçadas. Pouco se cumprimenta. Pouco se olha. E, nesse tempo, a máscara no rosto parece tornar-se uma libertação, pois me livra da obrigação de ser gentil e de sorrir pra alguém. Se ninguém viu, ninguém precisa saber. 

Aceleramos a partilha do outro. Temos pressa, e, portanto, não podemos perder tempo ouvindo dois minutos de alguém que precisa desabafar ou nos pedir ajuda, conselho, ou só nos perguntar como estamos. A vida está se tornando fugidia demais, rápida demais e estamos vivendo pouco, sonhando pouco, aproveitando pouco. Novas redes sociais são criadas para dar conta dessa interatividade digital onde os seres humanos recorrem cada dia com mais intensidade. Já existe até uma rede onde só é possível mandar áudios. Não é permitido digitar e nem fotografar ou filmar. Só áudios! O que vai ser dela? Bom! Por enquanto ela está contornando esse problema, porque ela não foi criada para todos. Alguém lá de dentro tem que te convidar, senão, você está fora! 

Um ditado popular diz que a pressa é inimiga da perfeição; outro ainda diz que (e esse é o preferido dos meus pais), “o apressado come cru”; ou seja, até mesmo o processo do alimento é feito com tempo, na calma. Cada alimento tem seu tempo de ficar pronto até chegar a hora do almoço. Nada mais lógico do que pensar que nós também temos o nosso tempo, não precisamos correr. É preciso obedecer o tempo da vida, do dia; o tempo da escola e o tempo do trabalho; o tempo dos amigos e o tempo da família; o tempo do namoro e o tempo de estar só; o tempo do lazer e o tempo de descanso; o tempo do corpo e o tempo da alma. 

Tudo tem o seu tempo. Qual é o seu? Respeite-o! 




Por Dione Afonso  |  Jornalismo, PUC Minas 

04 de junho de 2021.

Foto: Imagem de Darío Jarrin (@lepraxis) via Pixabay

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