O Capitão América voltou! De Chris Evans para Anthony Mackie, o portador do escudo precisa encarar um “novo mundo” e se admirar por ele. Quando Mackie, em Falcão e o Soldado Invernal precisou se estabelecer como o novo símbolo do heroísmo americano, a série que contribuiu com a Fase 4 da Marvel precisou se reinventar numa narrativa bastante ousada e corajosa. Infelizmente, a acolhida do público não foi a que esperavam seus produtores, não porque o produto foi mal feito, mas porque, talvez, ver um homem negro, sem poderes e sem o soro do super soldado ser o representante do heroísmo de uma nação não estava previsto no imaginário das pessoas. A série aborda com maestria e agora, nos deparamos com o quarto longa do herói que precisou abraçar com coragem a política atual para dar sequência ao heroísmo de Capitão América.
No novo capítulo desta história, Sam Wilson [Mackie] se vê mergulhado e, de certa forma, bastante envolvido com as transações políticas da América. Ele e seu amigo, Joaquin Torres [Danny Ramirez] precisam lidar com a diplomacia política e tentar se desvencilhar das relações que este universo tenta nos colocar. O primeiro embate de Sam é com Isaiah Bradley [Carl Lumbly], o primeiro Capitão América que foi usado para extremos e dolorosos experimentos laboratoriais. Ver o Capitão América de hoje, entrelaçado num jogo político é um choque de realidade e um gatilho para o seu passado. Depois Sam precisa entender como conviver ao lado do General Thunderbolt Ross [Harrison Ford], atual Presidente dos EUA, que insiste em controlar a jurisdição do novo herói, portador do escudo.
A ideia original do roteiro e da trama é ótima. Temos diante de nós um filme que é, ao mesmo tempo político e sobre super-heróis. General Ross ganha na performance de Ford uma certa humanidade intimista, mas sem perder sua real necessidade de vilania e de oportunismo. O desejo em controlar as ações heroicas do Capitão América parecem se concretizar e Ross acredita que tem Sam Wilson sob o seu controle. Mas a decisão narrativa para esta ideia não parece ter sido a mais inteligente e a mais envolvente. É nítido que os roteiristas “pisam em ovos” para tratar de um assunto muito atual e presente em nossas relações cotidianas. O campo político sempre será um campo minado e tocar neste tema sempre será uma decisão que gira entre 8 ou 80: ou acertamos em cheio ou erramos tudo. Capitão América 4: Admirável Mundo Novo tenta se admirar com este novo mundo que está diante de nós, contudo, entre 8 e 80, a trama não se estabeleceu com uma nota satisfatória.
A sequência direta de Eternos [2021, Chloé Zhao], gerou um grande conforto para os corações fãs da Marvel. Depois do Vibranium, o metal mais poderoso e resistente da Terra, temos o Adamantium, o metal que compõe o interior do Celestial que congelou em meio a uma ilha. Adamantium é o metal que corre nas veias de Wolverine. Estas conexões são sempre bem-vindas, sobretudo quando elas independem de explicações. Aparecem e já se conectam com um universo pré-estabelecido. Como em toda briga política universal, as nações mais poderosas da Terra pretendem “protocolar”, ou seja, entram numa corrida bélica a fim de garantir seu nome como os fornecedores do metal mais precioso da Terra para todo o resto do mundo. Esta briga política, no filme, fica muito a desejar e o herói-título do filme sofre com uma sequência de diálogos vazia e cenas de ação que pecam muito no ritmo e nos efeitos visuais.
Ainda temos o vilão do filme: o Líder. Conhecido como Samuel Sterns e interpretado pelo maravilhoso Tim Blake Nelson, infelizmente seu personagem é esquecível neste filme. Líder foi capturado pelo então General Ross e mantido em cativeiro como uma arma de grande inteligência. O roteiro não foi muito inteligente com a trama do vilão. Fez exatamente o que já vimos outras vezes em filmes da Marvel. Sentimo-nos como se estivéssemos no tempo do pós-guerra em que a HYDRA controlava nossas mentes com o comando de certas palavras. Muita falta de originalidade! Nelson é um ótimo ator, e devemos a isso por termos um Líder muito bem feito nas poucas cenas que lhe dão. Outra personagem que mereceu mais é a ex-Viúva Negra interpretada por Shira Haas. Mesmo que sua personagem não tenha se identificado como a heroína Sabra das HQs, o filme perdeu a chance de dar a ela boas cenas de luta ao lado de Sam Wilson.
Sabra? Heroína israelita. Torres? O novo Falcão, herói latino. Sam Wilson? O Capitão América Negro. Isso sem mencionar o Cobra, interpretado por Giancarlo Esposito. Infelizmente o filme evitou se arriscar, mas, ao mesmo tempo não se permitiu acertar. Não é um filme ruim, mas também não ganha tanta credibilidade como esperávamos que fosse conquistar. Temos bons personagens, tanto os novos como os que já conhecemos. Temos bons diálogos entre Torres e Wilson, mas péssimos entre Ross e Wilson, outros piores ainda entre Cobra e Wilson; Sabra e Wilson... Mas temos uma ameaça plausível entre Líder e Ross; Líder e Wilson...
A aparição de Buck Barnes foi sem sentido e irrelevante. Não se conectou com a trama e não serviu muito. Teve uma fala de impacto e que é clichê, mas não gerou aplausos de nossa parte. Temos uma excelente introdução, afirmação e apresentação de personagens e trama. Peca-se muito no desenrolar da trama. Cenas de luta fracas e sem coreografia, e um final que merecia mais, pelo menos, prometeu muito mais. Nosso novo Capitão América é um ótimo exemplo e está na medida certa para o nosso tempo, ele só precisa ganhar uma boa história para fazer-se memória.
Por Dione Afonso | Jornalista