04 Feb
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A PBH reitera que “a população mantenha o isolamento social e evite possíveis aglomerações” e que calendário cultural sofrerá alterações até 2022   


“Custamos atingir o ponto em que chegamos. O fomento à cultura em BH teve um importante salto. Nós nascemos em 2019, somos pequeninos, mas, com muitos sonhos. Em 2020 reunimos pessoas de vários bairros, de diferentes escolaridades e classes sociais, todos no intuito de se divertir e aprender música. Estamos perdendo muito com a interrupção desse ciclo. No nosso caso, que é um bloco pequeno, quem perde financeiramente são os músicos, mestres e cantores contratados. A grande maioria foram afetados pela crise geral da pandemia, sem uma relação direta com o Carnaval. Já em grandes blocos que as pessoas costumam trabalhar o ano inteiro em função das festas, o prejuízo será bem maior”.  

  [Wellington, organizador do Bloco “Zé Guerra”, Belo Horizonte-MG].   



Perto de completar um ano, a pandemia do novo coronavírus ainda provoca grandes alterações e vem deixando um rastro de morte, dor e luto por todo o país. Recentemente temos acompanhado o surto em Manaus e Minas Gerais, nesse mês de janeiro registrou o maior número de mortos pela COVID-19, chegando a um aumento de 57%. É o pior mês da pandemia para os mineiros. 

Agora, a preocupação maior volta para um dos maiores feriados do Brasil: o carnaval. Fevereiro registra uma das festas mais icônicas de todo o país. Foliões de todas as partes do mundo celebram a criatividade, alegria e a diversão de poder sair às ruas e desfilarem. O motivo? Ah, isso varia desde à celebração da vida até a protestos políticos e culturais. Mesmo não sendo um feriado taxado no calendário, a data do carnaval sempre foi marcada pelo ponto facultativo em todo o Brasil. No entanto, em 2021 essa história pode ganhar um outro caminho. 


Como fica o Carnaval de rua? 

O Blog Cicatriz ouviu com exclusividade alguns organizadores de blocos carnavalescos na cidade de Belo Horizonte. Dois blocos da Zona Norte, o Bloco “Zé Guerra” e o Bloco “Chama Que Vem” da Zona Norte da capital alertaram a preocupação, não só com o comércio local, no qual alguns sobrevivem desse evento, como também de artistas que contam com a renda mínima advinda dos festejos carnavalescos. 

Wellington, organizador do Zé Guerra, iniciou nos contando que acredita que o Carnaval 2021 possa “acontecer numa data prevista no meio do ano. A vacina está aí e, mesmo numa proporção menor do que a que vimos em 2020, é possível realizarmos. Há um impacto grande no mercado de fantasias, isso gera renda para famílias que as vezes passam por necessidade em bairros periféricos como nos que nosso bloco se localiza”. 

A Secretaria Municipal de Cultura da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) também entrou em contato conosco através da Assessoria de Comunicação. Na entrevista eles afirmam que foram muitas as reuniões para proporcionar o melhor retorno possível, “sempre em diálogo aberto com a cadeia produtiva do Carnaval”, disseram. E alertam que “permanecem suspensas as autorizações para eventos em propriedades particulares e em logradouros públicos, incluindo desfiles de Escolas de Samba e dos Blocos Caricatos. Não há qualquer previsão legal para realização de festas em clubes, em casas de festas ou outros espaços e eventos que estão com os alvarás suspensos”. A PBH ainda reitera sobre o ponto facultativo: “não será decretado ponto facultativo na cidade durante o Carnaval de 2021. É importante que a população mantenha o isolamento social e evite possíveis aglomerações, contribuindo para reduzir o risco de contágio e a propagação do vírus. Vale destacar que o Carnaval de Belo Horizonte, ao contrário de outras capitais brasileiras, é realizado com apoio e recursos da iniciativa privada, adquiridos por meio de editais de patrocínio. A pauta proposta pelos atores do Carnaval é legítima, mas o setor não foi o único afetado pelas consequências da pandemia. Diante desse contexto, a Prefeitura de Belo Horizonte tem assumido o papel de olhar para a cidade como um todo e vem trabalhando no planejamento de ações e propostas para retomada da economia do município”


Fomento à cultura, auxílio emergencial e projetos futuros 

Roberto Silva, Diretor do Bloco “Chama Que Vem”, disse que antes de tudo, ele precisou trabalhar a conscientização do povo. Ele afirma que foi difícil a aceitação de não ter o Carnaval de Rua e que os blocos não desfilariam. “2021 é um ano que não haverá carnaval. A pandemia veio para nos ensinar que ninguém é melhor que ninguém. Nós que somos responsáveis pelos blocos de rua tivemos que nos reorganizar, sobretudo na questão financeira. O Auxílio Emergencial nos desafogou um pouco, mas muitas famílias passam o ano todo se organizando para este grande evento”, disse Roberto. 

A PBH, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, realizou a implementação dos benefícios da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Eles informaram que foram contemplados profissionais e grupos ligados ao Carnaval de Belo Horizonte, que foram beneficiados ainda em 2020. Entre os beneficiados pela Lei Aldir Blanc em Belo Horizonte, estão blocos e escolas de samba tradicionais, das diversas regiões da cidade. A relação com todos os contemplados na Lei Aldir Blanc pode ser acessada na página pbh.gov.br/leialdirblanc. A Prefeitura também apoiou financeiramente diversos blocos de carnaval e projetos relacionados ao tema por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. 

O órgão ainda divulgou um vasto calendário de atividades culturais para 2021 contendo já projetos para 2022. Dentre as diversas ações e projetos pode-se destacar a realização do 4º Festival Literário Internacional – FLI BH e da 6ª Virada Cultural de Belo Horizonte. Os eventos poderão ser integralmente virtuais ou híbridos – com atrações on-line e presenciais –, o que dependerá das regras sanitárias vigentes no momento da realização dos mesmos. 


Para 2022, agenda cheia de novidades 

Já acontecendo desde dezembro de 2019, o Circuito Municipal de Cultura, segue com programação contínua até abril de 2022, descentralizando e democratizando o acesso a uma programação cultural diversa e expressiva. Em março de 2020, o projeto foi adaptado para o formato virtual, devido às restrições causadas pela pandemia de Covid-19. Para 2021 e 2022, o formato de realização do Circuito também será flexível, com eventos sendo realizados de forma virtual ou híbrida, conforme o avanço da pandemia. A grade de programação do Circuito Municipal de Cultura está disponível no site circuitomunicipaldecultura.com.br 

Outro projeto cultural da Prefeitura que terá ações contínuas até dezembro de 2021 é o “Pampulha Território Museus”. A iniciativa visa fortalecer a integração das três unidades que compõem o Conjunto Moderno da Pampulha: o Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile e o Museu Casa Kubitschek, destacando sua atuação na cidade com exposições, atividades culturais e educativas, projetos de design e publicações. A programação completa pode ser acompanhada pelo site pampulhaterritoriomuseus.com.br

Vale ressaltar ainda que, por meio da continuidade desses e outros projetos e atividades que integram a política cultural realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte, são beneficiados centenas de trabalhadores da cultura, de todas as regiões da cidade, incluindo aqueles que atuam nos bastidores. Essas ações se somam à publicação dos editais de fomento, em especial os da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que atendem aos empreendedores culturais da cidade de maneira ampla e descentralizada. 



“Carnaval é um momento de distração, diversão e alegria. É aquele momento que você dá uma pausa para os problemas e situações do dia a dia e até nos esquecemos que temos dores, que sofremos. Começamos a pular e as dores desaparecem, dão espaço à felicidade. Mas o Carnaval também é oportunidade, para muitos é uma chance de poder conquistar um dinheirinho e poder colocar comida na mesa”.   

[Roberto Silva, Diretor do Bloco “Chama Que Vem”, Belo Horizonte-MG].



Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Foto: Lucas Krautz (@lkrautzm0998), Belo Horizonte-MG

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