“Independente da forma que chegue o ensino até você, dê o seu melhor. Cuide de sua saúde física e mental, esse tempo de distanciamento irá passar, por isso, faça desse momento um aprendizado, e não desanime! Estamos juntos!”.
[Beatriz Paixão, é professora na Rede Estadual de Ensino na cidade de Espera Feliz, localizada no leste do Estado de Minas Gerais. Exclusiva: @cicatriz.blog]
A necessidade de distanciamento social na pandemia, isolamento, #FiqueEmCasa mostrou a importância do acesso à internet e a computadores para escolas, professores e estudantes. Essa quarentena que se transforma numa quarentena social, relacional educacional e política vai abrindo algumas portas de novos possíveis horizontes de acessos e conhecimento a todos nós. Por outro lado, somado a isso, vemos às claras as nossas falhas e o quanto a ausência de uma política pública bem aplicada pode interferir e ferir a nossa sociedade.
Quando o Blog Cicatriz resolveu ouvir professores na capital mineira, não estávamos esperando ter o tamanho retorno que tivemos de nossos educadores. Muitos, um número além do que o que estávamos esperando veio conversar conosco (o verbo veio aqui foi desproporcional, modo de dizer). Além de nos responder um questionário apenas com cinco perguntas sobre o ensino remoto e a realidade atual muito usaram essa porta para desabafar, revelar para nós suas dores, seus dramas, alguns choraram, deixaram aberto e aos nossos cuidados, suas feridas não cicatrizadas.
O ensino híbrido terá de passar a fazer parte da realidade da educação pública após a quarentena. No entanto, mesmo tendo ferramentas para que isso aconteça, é preciso que o acesso a elas seja garantido à população como um todo, na igualdade e na justa cidadania e política. Não adianta enchermos a boca pra falar o que temos, se nosso povo, sobretudo aquele que está lá na periferia, não tem acesso, nunca viu e nem ouviu falar.
Ouvindo a professora Luciana Cristina, que há 12 anos leciona na Rede Municipal de ensino de BH, ela nos relata como que iniciou esse processo do ensino remoto nas escolas. “Inicialmente foi preciso fazer contato telefônico com as famílias para trilharmos um novo caminho. A escola se inseriu nas redes sociais no intuito de buscar a continuidade do vínculo com a comunidade, mas foi o WhatsApp que se tornou a ferramenta mais eficaz e que permitiu o envio, recebimento e devolutiva do trabalho desenvolvido. Como muitas famílias não possuem acesso à internet, foi elaborado material impresso contendo: roteiros de estudo, um diário de sentimentos, atividades. Foram entregues também, matérias escolares e para suporte na realização das atividades. Já a professora Amanda Carolina nos conta que “o único recurso que tínhamos era o Whatsapp. Em momentos pontuais, chamada no Google Meet. Na educação infantil fazíamos rodinha de música e história. No fundamental gincanas online”.
Se existe um momento em que a frase “professor é a base de um país”, acreditamos que é nesse ponto que ela se faz notória. Percebemos que eles se desdobram em 10 e fazem do impossível, possível para que a defasagem do ensino não prejudique tanto o futuro dos nossos jovens. De um lado, se há um apoio mínimo da secretaria de estado para nossos educadores, de outro há uma certa exploração dos mesmos obrigando-os a cumprirem certa carga horária que não faz jus ao que trabalham e ao que são remunerados.
A adoção do ensino remoto durante a pandemia do coronavírus (COVID-19) trouxe à tona dificuldades maiores para os educadores, professores e todos os agentes da educação básica do sistema público. Secretarias de educação tiveram de se adaptar para oferecer aulas pela internet, pela TV, por aplicativos, por mensagens e por redes sociais. Esse foi o primeiro passo. Escolas e professores tentam manter contato com os alunos. Estudantes e familiares reclamam da falta de acesso à internet, da falta de local adequado para estudos em casa e da falta de contato com os educadores. E, esse é o segundo passo que ainda o país não foi capaz de dar.
Muitos sonhos nos foram partilhados também. A professora Daniela Lomasso que é de Lagoa Santa nos dirigiu palavras de esperança e confiança: “estamos todos juntos, aprendendo a cada dia a arte da superação, não desistam um dia isto tudo será apenas uma lembrança de um momento que jamais imaginamos ser tão fortes”. E esse é um ponto que nunca poderá deixar cair por terra. É como a luz no fim desse túnel de ilusões e de inseguranças.
Amanda Carolina que é professora há 15 anos em BH, alerta os educadores sobre o “analfabetismo funcional tecnológico”. Ela diz que “é possível criar novas possibilidades”. E temos condições e ferramentas para isso. Em nota, a Secretaria de Educação do Estado chegou a disponibilizar pequenos cursos online afim de instruir os professores no uso dos aplicativos que foram sendo aos poucos disponibilizados para as aulas remotas. “Não estamos preparados com certeza! As crianças interagem quase pouco ou nada. E muitos professores focam receosos de expor sua imagem e voz. A internet é uma benção, mas também é cruel. Errar em sala de aula tem como retratar, mas errar em uma mídia que não tem limite ou controle de amplitude pode ser letal”, alerta firmemente, Amanda.
“Com o fechamento das salas de exibição, já temos filmes sendo lançados em plataformas de streaming, que a pessoa paga e pode assistir de casa. Acho difícil o ensino da educação básica acontecer somente na modalidade à distância, sobretudo na etapa da educação infantil. Mas, acredito que o investimento em tecnologias e na formação dos professores seja de importância fundamental para acompanhar as mudanças na educação brasileira pós Pandemia”.
(Luciana Cristina Gotelip Teixeira, professora há 12 anos na Rede Municipal de ensino em BH)
Por Christian Maia | PUC Minas
Por Dione Afonso | PUC Minas
Foto: Imagem de Luisella Planeta Leoni por Pixabay